O calhambeque pode até ter sido nosso carrinho de
estimação.
Um dia pareceu, para muitos, moderno e fascinante.
Com o passar do tempo, foi-se tornando mais e mais
problemático e obsoleto a ponto de chegamos à triste conclusão de que já não é
tão bom como se achava que fosse nos primeiros tempos. E pior, acabamos
constatando que nunca foi realmente grande coisa. Parecia, na época, mas não
era. Fomos logrados na sua aquisição.
Há carros antigos que são verdadeiras joias de valor
inestimável. Não o nosso calhambeque.
O velho carro já não roda bem, consome combustível demais
e, o mais grave, precisa de manutenção e substituição de peças quase que
diariamente. Está se transformando em uma colcha de retalhos motorizada.
Só não começou sua derradeira jornada em direção aos
fornos siderúrgicos de reciclagem de sucata porque algumas pessoas viveram dias
muito felizes nele e não conseguem se desapegar.
Nele namoraram altas horas nas escuras e desertas vielas
do subúrbio, participaram de festas empolgantes, confraternizaram com os amigos
do peito, perseguiram inimigos e desafetos e, o pior de tudo, aproveitaram-se
dele para praticar impunemente uma incontável gama de delitos que foram desde o
roubo da merenda de crianças da creche até a delapidação do patrimônio público.
Com ele viajaram nos caminhos da devassidão julgando-se deuses todo poderosos,
estimularam o crime generalizado e jogaram a população nas filas dos hospitais,
no analfabetismo e, desprotegida, nas mãos de insanos assassinos. Ele foi o
verdadeiro palco das lendárias “tenebrosas transações” decantadas pelo poeta
que embalou nossos sonhos juvenis e que hoje, infelizmente, se tornou mais
obsoleto e tenebroso que a própria caranguejola.
Está mais do que na hora de sucatear o calhambeque.
Tornou-se velho, esclerosado e extremamente oneroso. Se continuarmos com ele,
fatalmente iremos à falência e nossas vidas jamais estarão a salvo dos ladrões
e homicidas.
Muitos vão sentir saudades, principalmente ao relembrar a
lendária frase escrita no seu para-choque: Calhambeque Cidadão – 1988.
Quem não conhece o nosso calhambeque?
Ele foi construído por um artesão chamado Ulisses que,
com seus meigos olhos azuis repousa eternamente nas profundezas abissais do
oceano Atlântico, e que, com a ajuda de um grupo de aproveitadores e falsários,
deu à luz esta aberração devoradora de caráteres, de vidas e de almas.
Acabemos com ele já!
Troquemos por um modelo mais atualizado, semelhante a um
universalmente reverenciado que, mesmo sendo paradoxalmente muito mais antigo,
continua funcionando perfeitamente bem desde 1787, com apenas 7 conjuntos de
peças e 27 manutenções. O nosso com apenas 30 anos, tem 250 conjuntos e já
contabiliza 102 visitas à oficina para reparos emergenciais até o dia
27/09/2019. E já há agendamento para mais uma dezena de novas substituições de
componentes.
Não há mais condições. Este calhambeque dos infernos
ainda há de acabar com todos nós. Tem que ser imediatamente descartado e
substituído.
Alô siderúrgica! Aí vamos nós.
O autor é diretor da FJacques - Gestão através de Ideias
Atratoras, empresa coirmã da Selcon Consultores Associados – MS Francisco
Lumertz (Professor Chicão), Porto Alegre, e autor do livro “Quando a empresa se
torna Azul – O poder das grandes Ideias”.
www.fjacques.com.br -
fabio@fjacques.com.br
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