A máxima “é a economia, estúpido", universalizada a
partir da vitória de Bill Clinton em 1992 contra George Bush Primeiro, deve
enfrentar um bom teste ano que vem. Se as previsões de recessão americana não
se confirmarem, Donald Trump vai às urnas surfando crescimento sólido e pleno
emprego. Restará aos democratas navegar no antitrumpismo, uma convergência de
rejeições variadas, com foco comportamental e ambiental. Que bicho vai dar?
E por aqui? Se a economia continuar mal, o bolsonarismo
chega a 2022 capenga. E sua melhor aposta seria o antipetismo. Mas é ingênuo
imaginar que o bolsonarismo vai assistir passivamente à perenização da
mediocridade econômica, e caminhar mugindo para o matadouro eleitoral. Se é
verdade que Paulo Guedes resta como o último dos ministros ainda com crachá de
super, a esta altura o mundo já percebeu: quem acreditou em carta branca caiu
no conto do vigário.
O seguro morreu de velho e, na dúvida, o bolsonarismo e o
lavajatismo continuam batendo no PT. Mas o presidente parece ter um olho no
peixe e outro no gato, também abre fogo regular contra um nascente
antibolsonarismo antipetista que lança raízes na direita, no autodeclarado
centrismo, e até numa fatia da esquerda, esta em busca da plástica que remova
as rugas de quase duas décadas de governos PT, e lhe permita aparecer como novidade.
Não será fácil vertebrar esse antitudo. Em 2018
naufragou, apesar da torcida. Talvez porque sua melhor aposta fosse o PSDB, ele
próprio atingido pela marcha do lavajatismo. Mas convém não subestimar. Agora
são vários candidatos "contra os extremismos”, desde o ainda tucano João
Doria até a franjinha do PT ansiosa por livrar-se da liderança de Lula.
Passando por Luciano Huck e por um Ciro Gomes cada vez mais disposto a bater
nos outrora aliados.
Diz a sabedoria política: mais que para eleger alguém, a
pessoa sai de casa no dia da eleição principalmente para derrotar alguém.
Principalmente num segundo turno. Daí a importância de monitorar em tempo real
a temperatura dos vários anti. Dois parâmetros são úteis aqui: a taxa de
rejeição de cada nome/partido e as simulações de segundo turno. É um erro achar
que a distância das eleições diminui a importância dessa medição. É o
contrário.
Que anti será hegemônico daqui a três anos? O vacilo na
medição dessa variável costuma ser fatal. Ano passado, a campanha de Fernando
Haddad parece ter acreditado por um momento que a ida de Bolsonaro ao segundo
turno desencadearia a aglutinação de um amplo movimento democrático
antibolsonarista. Não rolou. O antipetismo mostrou-se bem mais forte. Pelo
menos, Haddad teve um final digno. Não foi o caso do massacrado centrismo
antiextremista.
Registre-se que na história do Brasil frentes da esquerda
com os liberais só existiram com sucesso quando os primeiros aceitaram a
liderança dos segundos. #ficaadica
É corajoso, e curioso, que as mais animadas articulações
políticas opositoras apostem exatamente no que deu errado na eleição. Na
esquerda, a frente ampla não programática. Na direita e no autonomeado centro,
a advertência contra o risco de supostos extremismos. Talvez essa coragem se
pague, mas por enquanto é visível a dificuldade de os atores concordarem em
qualquer coisa que não seja a vontade de chegar ao poder só surfando na
rejeição alheia.
Mas, se isso deu certo para o presidente por que não
daria certo contra ele? Aliás, o fato mais vistoso da conjuntura é a agitação
dos que apoiaram Bolsonaro contra o PT e agora conspiram a céu aberto para
tentar se livrar dele. Exibem músculos na opinião pública, mas falta-lhes rua.
Quem poderia fornecer? A esquerda. Mas esta não parece especialmente motivada,
ainda, a injetar o combustível político indispensável aos algozes de tão pouco
tempo atrás.
Pode ser também a Lava Jato. Daí as piscadelas cada vez
mais explícitas, a pretexto de não deixar morrer a luta contra a corrupção. A
dificuldade? A relação íntima do bolsonarismo com o lavajatismo. E como
Bolsonaro não nasceu ontem, vetou sem medo de ser feliz um monte de coisas na
Lei de Abuso de Autoridade. E seu indicado à Procuradoria Geral da República já
estendeu o tapete vermelho à turma de Curitiba, lato sensu.
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Alon Feuerwerker)
alon.feuerwerker@fsb.com.br
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