Homem metódico, cauteloso, o ritual de negociação dos convites para eventos, notadamente os que envolviam viagens terrestres, era sempre o mesmo: dificuldades iniciais, o aceno com uma pequena possibilidade, um enervante tempo de silêncio e, na última hora, o sim, eu vou. Tudo sob a intermediação de dona Elvira, sua eterna secretária.
– Reclama, mas sempre vai – dizia a assessora.
Paulão, motorista e “pau pra toda obra”, tão eterno quanto dona Elvira, compunha o restante da equipe.
Entre suas diversas atividades, Paulão gostava mesmo era quando tinha que contar uma história. Aprendera que o chefe as chamava histórias de espanto - e que depois dele, em tom descontraído, o professor seguia falando sobre o assunto.
– Paulão, por favor, venha contar o que aconteceu hoje.
Paulão não se fez de rogado:
– Na metade da viagem paramos em um restaurante. As mesas estavam vazias, mas o chefe não gostou das toalhas de plástico. Então fomos para o balcão, que estava lotado. Ficamos ali em pé mesmo, atrás da fileira dos sentados. Com sacrifício consegui pedir duas águas com gás e dois copos limpos, sem gelo e sem limão. O balconista ouviu o pedido e sumiu atrás de uma cortina de rolhas, todas emendadas. Demorou. Depois o rapaz colocou a cabeça pra fora da cortina nos procurando. Olhou para todos os lados, e gritou: “para quem são os copos limpos?”.
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