"Estou sempre pronto a servir a Pátria!", respondeu sem vacilar o general Joaquim Silva e Luna à pergunta: "Pronto para nova missão?"
Era um telefonema de Bolsonaro a Silva e Luna, chamando o general que pôs ordem na Itaipu para, agora, presidir a Petrobras.
A história é interessante. Ao organizar seu governo, Bolsonaro convidou Silva e Luna para ser o diretor-geral brasileiro da Itaipu Binacional, convite que o general pernambucano aceitou sem se fazer de rogado.
E, assumindo o cargo, logo determinou a mudança da sede administrativa da empresa para Foz do Iguaçu, local onde a usina tem suas instalações.
Até então, a sede estava em Curitiba (a uns 640 km de distância), num imóvel de luxo cujo aluguel custava R$ 208 mil mensais.
Além disso, dispensando o conforto de Curitiba, ele fixou sua residência em Foz do Iguaçu, decisão inédita que o tornou o primeiro diretor-geral brasileiro a morar na localidade em que a usina funciona.
De caráter óbvio, tais medidas produziram uma redução de gastos com diárias e passagens aéreas para o deslocamento entre Curitiba e Foz.
Os dados não são atuais, mas revelam como era antes. Um relatório de controle interno registrou que, no ano de 2014, os gastos com diárias e passagens para funcionários e gestores chegaram a R$ 8,8 milhões.
Em suma, ele mandou diretores para o local de trabalho, cortou luxos (inclusive carros oficiais) e acabou com "patrocínios" distribuídos sem critério, obtendo, em apenas dois anos, uma economia de R$2,5 bilhões: uma gestão marcada pela austeridade e pela otimização dos recursos.
E agora ele é chamado a uma "nova missão": dar um jeito na Petrobras.
Segundo os jornalões, Bolsonaro andava furibundo (normal!) com Roberto Castelo Branco, então presidente da Petrobras.
Porque houve quatro aumentos de preços da gasolina em apenas dois meses, somando 27%, muito acima da inflação do período; e porque, durante a pandemia, Castelo Branco ficou em casa, trabalhando em "home office".
Para mais, quando os caminhoneiros ameaçaram entrar em greve contra os constantes aumentos de preços do diesel, Castelo Branco esquivou-se dizendo que o problema não era da Petrobras.
Mas Cláudio Humberto, no Diário do Poder, tem afirmado que os preços escorchantes dos combustíveis têm a ver com o custo da Petrobras, isto é, com sua política de salários e vantagens para funcionários.
Conforme levantamento do Diário do Poder, "Os brasileiros pagam sem saber truques que multiplicam salários dos 52 mil funcionários da Petrobras. Os salários [dos mais favorecidos, sem contabilizar o dos executivos] chegam a R$107 mil mensais, sem contar os penduricalhos".
O levantamento vai além, radiografando a estatal: "Na Petrobras, os valores somados de 'auxílios' (babá, creche, cuidador, alimentação, refeição etc.) acrescentam quase R$3 mil aos salários."
"Um dos mais caros privilégios do pessoal da Petrobras, a 'assistência à saúde', soma mais de R$2,3 bilhões por ano bancados pelo brasileiro."
E quando está mal, por má gestão ou vítima de roubo como na "era PT", a Petrobras recorre ao Tesouro Nacional para cobrir prejuízos.
É preciso saber onde está o nó.
A Constituição Federal, no art. 177, garante para a União (leia-se "para a Petrobras") o monopólio na lavra e refinação do petróleo e importação ou exportação de derivados - uma blindagem contra a concorrência.
Como resultado, além do excesso de impostos a encarecer o combustível na bomba, o consumidor paga por uma Petrobras imunizada contra a livre concorrência e quase privativa de seus empregados.
Será que o general Silva e Luna consegue meter a mão nesse vespeiro? É a missão a que está sendo chamado.
Se conseguir realizar parte do que fez na Itaipu Binacional, haverá de consagrar-se como um dos maiores presidentes da Petrobras.
Renato Sant'Ana é Advogado e Psicólogo.
E-mail sentinela.rs@uol.com.br
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