Democracia e Morte

 DEMOCRACIA E MORTE

Glauco Fonseca

 

 

O dia da morte, da entrega, está chegando. Somos Fidípedes correndo a maratona e, assim como ele, morreremos no final. 

Estamos exaustos. 

Elegemos pessoas para nos liderar e pagamos a elas regiamente. Porém, mais uma vez, teremos de ir para a rua protestar porque elas esperam que façamos o trabalho delas. De novo!

Elegemos e pagamos pessoas para nos proteger, defender nossas propriedades e liberdades. Pagamos bastante por isso. Entregamos excelentes salários a deputados, senadores, vereadores, prefeitos, governadores e presidentes. A gente dá a eles todas as condições para que eles nos salvem de problemas, que promovam segurança, que façam leis e as façam serem cumpridas. Mas não adianta. Eles não trabalham direito e temos que, toda hora, refazer o trabalho deles, que é ruim, demorado, cheio de vícios e defeitos. 

Também oferecemos vagas e salários abundantes a juízes, promotores, procuradores, desembargadores e a tanta gente para cuidar de nossas leis e fazer com que elas sejam bem cumpridas. Damos a eles prédios suntuosos, revestidos em mármores e granitos caros. Ocupam salas e cadeiras confortáveis, com secretárias, cafés e águas. A alguns deles, ofertamos até mesmo lagostas e vinhos premiados, tudo por nossa conta. E mesmo assim, eles não cumprem suas funções a contento, tornando tudo modorrento, ineficaz, injusto e caro, quando não temerário e criminoso.

Chegamos a ponto de pensar que a democracia é cara demais, com muita gente deixando de fazer o que deveria, às custas de milhões e milhões que mal tem o que comer, vestir. Chegamos a nos perceber como abusados, vilipendiados, debochados, desprezados. Cansa ver o mal prosperar todo dia e o bem sucumbir a todo instante. Dói saber que o ladrão emerge grandioso, enquanto o roubado é tratado a porrete.

Não é pandemia que nos assola. Ela terá fim. O custo é altíssimo, mas ela vai acabar. A epidemia de ignomínia, que apavora os que trabalham e os que já desistiram de trabalhar, dá a certeza, esta sim, de que não tem cura. 

Uma democracia assim, tal como uma vacina barata, não está nos imunizando. Está nos enganando e matando. Não temos mais anticorpos para tanta bandalheira, desfaçatez e desonestidade. 

Não é a nossa democracia que está "sendo atacada". É a maioria de nós.

Esta nossa democracia precisa ser revista, atualizada, corrigida porque, do jeito que está, não serve mais.



Glauco Fonseca

glfonseca@outlook.com


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