Considerações sobre o hiato do PIB brasileiro

o Estimar em que estágio do ciclo econômico um país está é fundamental para inferir as variáveis do cenário econômico à frente. Em outras palavras, determinar o nível de ociosidade da economia permite entender se há algum descompasso entre oferta e demanda e, portanto, se há ou não pressão inflacionária persistente. Dessa forma, o chamado hiato do produto (a diferença entre o crescimento observado e o crescimento potencial) é um instrumento fundamental para indicar se haverá pressão inflacionária na economia. Assim, sua estimativa é parte importante da condução da política monetária.


o Apesar de ser fundamental para a política monetária, o hiato é uma variável não observável e precisa ser estimada através de outras variáveis. Há diferentes maneiras de estimar a ociosidade da economia, portanto, há inúmeros cálculos realizados por analistas de mercado, governos e estudos acadêmicos. Dentre os métodos que mais se destacam, temos os considerados mais teóricos, como a função de produção e a decomposição do hiato do mercado de trabalho e hiato do NUCI, além dos métodos estatísticos, como o Filtro Hodrick-Prescott (HP) e a Análise Fatorial.


o De acordo com os métodos utilizados no presente texto, o hiato do PIB estaria entre -3,6% e 0,3% no primeiro trimestre deste ano. Com exceção do método extraído de Areosa, que aponta uma ociosidade perto de zero, os outros métodos seguem indicando um PIB efetivo longe do seu potencial. Fazendo uma média de todos os métodos calculados por nós, chegamos a um hiato do PIB em torno de 2,4% no primeiro trimestre, reforçando que apesar de a economia estar se recuperando da pandemia, ainda há ociosidade, revelada principalmente no mercado de trabalho.


o Projetamos inflação de 3,3% em 2022, abaixo da meta do Banco Central (3,50%). Após os choques inflacionários observados recentemente (desvalorização cambial, alta de commodities e crise hídrica) se dissiparem, a manutenção do hiato ainda em terreno negativo, as expectativas de inflação ancoradas e a normalização da política monetária iniciada nos últimos meses pelo Banco Central deverão contribuir para levar a uma desaceleração do IPCA dos atuais 8,3% acumulados nos últimos doze meses para um patamar abaixo da meta no próximo ano. 


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