Interrogatório do jornalista Polibio Braga
Escrivão: Qual a profissão do Senhor?
Políbio: Como?
Escrivão: Qual a profissão do Senhor?
Políbio : Jornalista
Escrivão : Telefone de contato?
Políbio: É...meu telefone está contigo?
Advogado: Já alcanço …
Políbio: Está escrito atrás aí..
Advogado : Telefone 9945-9810
Escrivão : 9945-9810 ?
Advogado: Isto!
Políbio: Meu telefone é novo, não lembro muito.
Escrivão: E o endereço?
Políbio : Eça de Queiroz…
Escrivão: Rua…?
Políbio : Eça, Eça com “Ç” Eça de Queiroz , apartamento
Escrivão : Qual bairro?
Políbio : Petrópolis
Escrivão: Tá, então só apresentando algumas informações né, que são seus direitos constitucionais. O Sr. vai ser ouvido aqui como suspeito nesse caso. Então o Sr. tem direito a permanecer em silêncio, só falar em juízo e o Sr. também tem direito a presença do advogado.
Advogado: Perfeito!
Escrivão: O Sr. Vai falar normalmente?
Políbio: Sim, Sim
Escrivão: O Sr. Já foi preso anteriormente?
Políbio : Se eu já fui preso?
Escrivão: É.
Políbio: já!
Escrivão : Trabalha por conta própria?
Políbio: Sim.
Escrivão: Está empregado no momento?
Políbio: Se eu estou empregado?
Escrivão: Isso!
Políbio: Não.
Escrivão: Não está empregado?
Políbio: Como?
Escrivão: Não está empregado?
Políbio : Não tenho empregado.
Escrivão: Não. Nao está...não é que tem.
Políbio: Não, não estou empregado também.
Escrivão: O Sr. Possui algum vicio?
Políbio: Desculpe?
Escrivão: O Sr. Possui algum vício?
Políbio : Vício?
Escrivão: É
Políbio: Não.
Escrivão: Morou com os pais até quantos anos?
Políbio: Como?
Escrivão : Morou com os pais até quantos anos?
Políbio: Não consegui entender o que ele falou.
Escrivão: Morou com seus pais?
Políbio: Se eu morei com meus pais? Morei.
Escrivão: Até quantos anos?
Políbio: É...17 anos.
Escrivão: Começou a trabalhar com quantos anos?
Polibio: Com 13 anos
Escrivão: Tem filhos?
Políbio: Tenho.
Escrivão: Quantos?
Políbio: 3
Advogado : Eu vou pegar sua assinatura na Prorrogação, Políbio. Pra deixar junto no inquérito, daí eu acompanho. Obrigado.
Advogado: Tu juntas ela no inquérito, por gentileza? Obrigado.
Escrivão: Alberto…?
Advogado: Isso!
Advogado: 63784
Escrivão: Qual endereço do escritório do Sr ?
Advogado: É Mariante...rua Mariante, número 180, sétimo andar. Sala 701.
Escrivão: Qual bairro?
Advogado: Ali é Moinhos de vento.
Escrivão: Telefone de contato do Sr ?
Advogado: 98111-9669
Escrivão: Tá...enquanto a Delegada não chega, vou ler para o senhor aqui o histórico da ocorrência.
Eu vou ler para os Senhores o histórico da ocorrência enquanto a delegada não chega, quando ela chegar a gente dá continuidade, tá?
“ Houve ofensas a alguém, foram atribuídas ofensas reforçando a vítima no meio social em que ele vive, foram atribuídas qualidades negativas aos defeitos da vítima. Ofensas à vítima constitui na utilização de elementos discriminatórios referente a raça e etnia, a vítima não foi agredida fisicamente. A Delegacia de Polícia de combate à tolerância DPCI, conforme imagem anexada, o jornalista proferiu ofensas a todas as pessoas LGBT relacionando-as à prática de zoofilia.
Verifique anexo.”
Escrivão: O autor Sr. Polibio Braga e ele no caso. O texto que se refere é esse aqui, né.
“ Eduardo Leite manda bordar as cores do arco-íris gay na fachada do Piratini”
Foto de Felipe Dalla Valle - Fotógrafo contratado pelo Piratini.
A foto é assunto em todo Brasil e também no exterior. O governador Eduardo Leite decidiu comemorar em alto estilo a legalização do homossexualismo como a opção da vontade sexual das pessoas e não como uma patologia. Pelo menos no ponto de vista da polêmica OMS.
Ontem foi o dia internacional do universo LGBTQIA+ que engloba não só o homossexualismo, mas ainda não compreende a zoofilia, fenômeno que ocorre com pouca frequência em barrancos e coxilhas pouco frequentadas.
Rio Grande do Sul, a política estadual de atenção e integração de uma população LGBTQIA + implantada com decisão por Eduardo Leite visa elaborar, estimular, apoiar, participar, e promover eventos, estudos, pesquisas, debates e ações que envolvam discussões de saúde da população LGBTQIA +.
O relato mais recente do grupo gay da Bahia, GGB, divulgado no início de 2019 resultou que 2018 ocorreu 420 mortes de LGBTs no Brasil, 320 homicídios e 100 suicídios.
Escrivão: Só vou pedir um pouquinho de paciência, a delegada já está chegando.
Advogado: Eu posso olhar os anexos do inquérito? Com licença, obrigado.
Delegada: Olá, tudo bem?
Advogado: Olá, boa tarde. Tudo bem?
Delegada: Peço desculpas pelo atraso, responder por três delegacias…Chegou fazer a primeira parte da qualificação ?
Advogado: Sim, ele...o colega fez a qualificação.
Delegada: Tá
O Senhor é Advogado?
Advogado: Sim! Sou advogado do Políbio. Isso.
Delegada: Primeiramente, obrigada Sr. Advogado pela sua presença. O adquirente explicou a denúncia e a ideia é seguir então e conversar com o senhor, entender o que aconteceu...o que que o senhor quis dizer quando escreveu aquilo...enfim, basicamente isso.
Advogado: Delegada, eu sou vou lhe pedir uma gentileza, tu tens que falar alto porque ele tem aparelho auditivo, então o outro colega também teve a mesma situação, se tu falares baixo ele acha que tu não entende.
Delegada: Ah tá. Vamos fechar a porta então.
Políbio: A senhora quer que eu explique o que eu quis escrever, é isso?
Delegada: Aham. Justamente. Isso que eu gostaria que o senhor falasse.
Políbio: Bom, o que eu tenho a declarar sobre isso é que o texto é autoexplicativo.
Delegada: O senhor quis dizer o que está escrito ali?
Políbio: É exatamente aquilo ali, é o que está escrito no meu texto, não na denúncia.
Delegada: Não, claro! No seu texto, justamente.
E o senhor acredita que tenha feito uma declaração de cunho homofóbico?
Políbio: Em absoluto! Não fiz. Não é esse o sentido.
Delegada: Não é esse o sentido. Então, até desculpa algumas perguntas, elas terão um tom até meio retórico. Mas eu gostaria de entender exatamente. Tá, não foi a intenção, mas o que o senhor acha que levou a crer que essa seria a intenção.
Políbio: Na minha atividade como jornalista, eu sou jornalista polêmico, volta e meia as pessoas não fazem uma análise léxica do meu texto e interpretam sempre de uma maneira incorreta. E eu acho que foi o que aconteceu.
Delegada: E a questão da comparação...da aparente comparação com a zoofilia?
Políbio: Não existe essa comparação no texto.
Delegada: Não existe essa comparação.
Políbio: Não existe, ela não foi feita. Qualquer análise léxica ali é só dar uma olhadinha no advérbio atemporal que foi usado, ele não faz essa conexão.
Delegada: É por que o senhor citou então a zoofilia?
Políbio: Como eu poderia ter citado qualquer outra coisa ali.
Delegada: Então não teve nenhuma comparação de ordem moral?
Políbio: Não, não. O texto não é comparativo. Não é um anexo de comparação de texto, qualquer análise léxica ali para demonstrar que não é assim, esse advérbio não é utilizado para efeitos de comparação, de modo que as pessoas que entenderam de maneira diferente e fizeram essa comparação é porque provavelmente não estudaram muito bem o português, entende?
Delegada: Mas se a gente pega aqui, ó. Vamos pegar os comentários, tá? Isso aqui o senhor não tem controle, né? Isso aqui as pessoas escrevem o que elas querem.
Políbio: Não, não tenho controle sobre isso aí.
Delegada: Justamente.
Políbio: Eu não censuro os meus comentários.
Delegada: Sim, sim. E também não é um dever do senhor, mas pelo que a gente percebe aqui, grande parte das pessoas aqui “corroboraram” com o que foi escrito. O senhor entende que as pessoas corroboraram, quanto as pessoas que criticaram o que foi escrito, que ambos os grupos não entenderam o que o senhor quis dizer.
Políbio: Olha, sinceramente...deixa eu dizer duas coisas a respeito disso:
Primeiro, eu não leio os comentários, eu não sei nem do que a senhora está falando. Eu não leio os comentários.
Delegada: O senhor quer dar uma olhada?
Políbio: Não quero não.
Delegada: Não quer olhar…
Políbio: Não. Então a primeira é que eu não leio os comentários e segundo, quem publica esses comentários não são eles os investigados, sou eu, né?
Delegada: Eu fiz uma pergunta pro senhor e o senhor tem a liberdade de responder ou não. Então o senhor disse que não lê os comentários, que não bloqueia os contatos, eu não estou fazendo nenhuma análise com relação ao que o senhor está falando, estou sendo objetiva.
Polibio: Senão, eu seria obrigado a sancionar se eu lêsse, sabe? E depois o que mais surgir na internet, cada comentário desse a pessoa é responsável por ele, mesmo que seja mínimo. Basta quebrar o protocolo da internet que vai chegar ao autor, entende?
Delegada: Então bom, ele não lê, não bloqueia e não é responsável pelos comentários.
Delegado: Vamos ver o que você colocou aí até agora.
Escrivão :
O declarante afirma que o seu texto é autoafirmativo/autoexplicativo. Garante que não teve a intenção que o seu texto fosse interpretado como sendo homofóbico.
Perguntado sobre a comparação com a zoofilia, responde que não houve esse tipo de comparação no seu texto. Perguntei sobre ter citado a zoofilia, responde que não há nenhum motivo específico para o uso do termo “ zoofilia”. Garante que não há comparação no uso de advérbios que permitam tal comparação com a zoofilia.
O declarante afirma que tal observação somente poderia ser realizado por pessoas com dificuldade na língua portuguesa. Perguntado sobre as pessoas comentarem no seu texto e interpretar como sendo termo homofóbico, responde que não lê e que não é responsável pelos comentários.
Delegada: O senhor tem mais alguma coisa pra falar sobre isso? Ou alguma observação que o senhor quer que conste aqui no depoimento?
Políbio: Não. A senhora quer saber mais alguma coisa? Pode perguntar.
Delegada: Não, na verdade eu queria saber realmente se havia alguma relação, esse termo me chamou atenção, né...Se pode levar a entender, não estou dizendo pelo entendimento meu, mas de que existe alguma relação com a zoofilia. O senhor disse que não.
Políbio: Isso lhe chamou atenção? Também?
Delegada: Acho que não cabe a mim responder esse tipo de pergunta. Na verdade é o que vem na denúncia, não estou falando da minha interpretação, a minha interpretação aqui nesse momento nem cabe.
Políbio: Ah tá.
Delegada: Eu estou falando do teor da denúncia, enfim.
Políbio: Foi o que lhe chamou atenção né, tem outras colocações ali, mas o que lhe chamou atenção foi isso né?
Delegada: Não estou falando que me chamou atenção, eu tenho que perguntar o que chamou atenção da pessoa que fez a denúncia. Segunda alegação seria com relação ao termo homossexualismo, se isso denotaria algum tipo de patologia.
Políbio: Aquele negócio da OMS, né? Ah tá.
Delegada: Na visão do senhor, eu quero saber na visão do senhor, usar esse termo homossexualismo com o final “ ismo”, isso denotaria uma ideia de que a opção sexual seria uma doença?
Políbio: Eu não quero falar sobre esse assunto. Acho que é irrelevante. Gostaria que registrasse que na minha opinião isso é irrelevante, eu não vou entrar numa discussão científica, tá?
Delegada: Tudo bem.
Eu acho que é isso. Mais alguma coisa?
Advogado: Eu gostaria só de registrar, se a senhora me permitir Dra. que ele destacou o final do texto, foi um grande parágrafo em que ele trouxe todos os dados em relação ao que ocorre na realidade e isso não foi pontuado, pelo menos nas pergunta da senhora, com o devido respeito, mas ele faz um relato sobre todo histórico que existe de agressão exatamente a essa comunidade, então, nessa questão que ele fala que o texto é autoexplicativo, ao meu ver, isso é importantíssimo.
Delegada: Então tá. Vou ajustar.
Advogado: Que a denúncia na verdade ela se debruça sobre essas marcações que estão em rosa, né.
Delegada: Sim, justamente por isso que nós marcamos aqui, não é uma opinião nossa, é o que chegou pra nós.
Advogado: Não, claro! Com todo o respeito, mas quero colocar isso, ele tem 80 anos, né? E ele foi pesquisar, inclusive os dados que há, no caso as agressões a essa comunidade, né? Isso foi informado no texto, leva tempo para buscar esses dados então gostaria de registrar isso, se possível.
Delegada: Ressalto esse último parágrafo da publicação em que o acusado, trazendo inclusive dados estatísticos sobre histórico de agressão contra a população LGBT. Isso?
Advogado: Exato. Obrigado Dra.
Delegada: Acho que é isso. Por mim é isso. Se não tiver mais nada a acrescentar…mais nada a acrescentar?
Políbio: Não tenho nada a acrescentar.
Delegada: Por nós é isso então. Muito obrigada.
Qualquer coisa a gente volta a entrar em contato.
Parabéns, Políbio, foi deveras, do mais alto nível, seu depoimento. nós que passamos dos 80 mostramos que o "buraco é mais em baixo". abs
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