Turismo pós-pandemia, a revanche; artigo de Alexandre Gehlen

- Diretor geral da Intercity Hotéis e presidente do Conselho do Fohb (Fórum de Operadores Hoteleiros do Brasil) até março deste ano, Alexandre Gehlen escreveu um artigo falando sobre o que esperar do Turismo no momento pós-pandemia. 


“Quem diz que a vingança é amarga não tem paladar. Ela é doce e saborosa”. Eis um aforismo de autor desconhecido, cujo enredo desconheço, mas que, segundo especialistas estadunidenses em turismo, se aplica à atualidade, justificado pelos números otimistas observados nestes últimos meses por companhias aéreas, agências de viagens online e hoteleiros em um cenário em que a vacinação em massa apresenta excelentes resultados.


A retomada eufórica do turismo já ganhou um apelido que, outrora poderia ser pejorativo, mas hoje assume um caráter salvacionista: turismo revanchista. Milhões de pessoas, espalhadas pelo globo, querem desesperadamente se vingar da ansiedade, estresse, problemas e perdas - que sofreram em decorrência da pandemia - viajando.


Pesquisas apontam uma demanda fortemente reprimida e recuperação certa das viagens. Um estudo recentemente publicado pela HotelInvest e Fohb, por exemplo, mostra que os investimentos em aberturas de hotéis no Brasil se mantiveram estáveis mesmo com a pandemia, mostrando futuro promissor após a tempestade.


A razão é simples, segundo especialistas em comportamento do consumidor: viagens proporcionam experiências memoráveis, marcam passagens na vida, trazem aprendizados, fortalecem vínculos. Desde o conceito de “pequenas indulgências” utilizado no turismo de luxo, nos sabáticos e nas viagens de incentivo até no registro de datas como a lua de mel ou renovações de votos.


Há quem levante dúvidas sobre recuperação rápida do mercado. Dados recentes apresentados pela American Airlines apontam que nos voos domésticos, a demanda já alcança 90% do que era antes da pandemia, enquanto a Delta Airlines já reestrutura sua oferta, a partir de um aumento importante nas reservas. O Google constatou que o número de procura por viagens nos últimos meses é o maior na história. Com mais de 140 milhões de pessoas vacinadas, os Estados Unidos observam uma euforia que se espalha em diversos setores, no turismo, em particular.


É claro que a indústria de viagens foi a que mais sofreu com o coronavírus. E nesse sentido, o cenário se mostrou assustador para o turismo de negócios, que viu congressos, seminários e feiras serem cancelados e uma série de reuniões temporariamente migrarem para videoconferências. A hotelaria, habituada a crises, se reinventou.


Transformou salas de eventos em estúdios para eventos híbridos, quartos em room-offices e até residência temporária para profissionais que, atuando na linha de frente, decidiram não colocar familiares em risco.


Alguns empreendimentos hoteleiros, próximos a polos industriais, mantiveram as taxas de ocupação em um patamar saudável, assim como hotéis e resorts, em um raio de 300 km dos grandes centros urbanos, que seguindo rígidos protocolos de segurança, se mostraram refúgios durante a pandemia.


Na maioria dos hotéis com vocação para negócios, em todo o mundo, observou-se a queda inesperada e dramática do número de hóspedes. Mas engana-se quem aposta em um cenário pessimista. É verdade que a hibridade trará maior capilaridade aos eventos, com aumento de audiência em espaços limitados, e possibilidade de participantes estrangeiros não precisarem se deslocar com frequência. No entanto, o ser humano, naturalmente social, sempre buscará o contato pessoal.


Não se fecha negócios sem o “olho no olho” e o aperto de mão. Não se constrói cultura organizacional só pela internet, onde falta elementos simbólicos. Sabemos que o networking nos corredores das feiras, as conversas nos intervalos dos seminários são fundamentais para se fechar alianças. Do mesmo modo, as viagens de incentivo são os prêmios mais desejados em campanhas de vendas.


Mas para isso, será preciso agilidade na vacinação. Só ela permitirá as operações hoteleiras sem prejuízos e recuperar nos próximos dois anos as perdas acumuladas. A partir daí, poderemos voltar a dormir tranquilamente, como nossos hóspedes o fazem. Nada de cabeça quente. Porque vingança, lembram os turistas atuais, é “um prato que se come frio”.

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