A tirania não convive bem com a ironia

Saul Alinsky, Rules for Radicals, no seus ensinamentos intitulados“Regras para Radicais”, diz que o sarcasmo é a arma mais poderosa do ser humano. É quase impossível contra-atacar o sarcasmo. Ele enfurece os opositores, que, então reagem em seu benefício.

E não é só o sarcasmo, filho dileto do humorismo, da mesma forma que a ironia, porque o uso disto tudo ensina ao povo a desmoralizar os aprendizes ou titulares do autoritarismo, mesmo quando este não se configure como ditadura plena, como ocorre com a pro-ditadura brasileira. Uma vez que o público é capaz de debochar da máquina repressiva, como agora no Brasil, torna-se perceptível que o tempo do autoritarismo está nos estertores.

O editor compreendeu isto e não é por outra razão que diariamente publica as cáusticas críticas de humor do cartunista gaúcho Cláudio Spritzer.

Ditadores e ideólogos totalitários, quase por definição, não podem tolerar serem ridicularizados. Tampouco pode alguém com sensibilidade excessiva e um ego exagerado. O sarcasmo é seu calcanhar de Aquiles. E o humorismo é um forte fenômeno social em qualquer sociedade.

Atualmente, Moraes e Lula são os principais personagens desenhados com tintas de pândegos em postagens sem conta das redes sociais.

No próprio campo do Eixo do Mal, isto já fica compreensível e recomenda recuo em regra.

Pode-se perceber isto neste editorial de hoje do Estadão, que até agora aplaudiu A. de Moraes e sua gente, mas que agora, diante dos ataques repetidos a jornalistas e a humoristas, acha que é preciso segurar o ministro. Veja:

 Medida especialmente desproporcional de Alexandre de Moraes, por exemplo, foi o recente bloqueio, decretado de ofício, de todas as redes sociais de um podcaster, como resposta a manifestações críticas à Justiça Eleitoral e ao próprio Moraes. Além do equívoco em si – no Estado Democrático de Direito um juiz não tem a atribuição de moderador do debate público –, a decisão é mal fundamentada, com presunções que fazem lembrar abusos típicos de regimes autoritários (ver editorial Não se defende a democracia com censura, de 17/6/2023). Também suscitou grande preocupação a decisão de Alexandre de Moraes estabelecendo o que o Google e outras empresas poderiam dizer sobre o projeto de lei relativo à regulação das redes sociais. Neste espaço, advertimos que a medida se baseava em uma “profunda incompreensão do papel do Judiciário no Estado Democrático de Direito” (ver editorial O sr. Moraes não é juiz do debate público, de 4/0/2023).

Existem outros inúmeros casos de limitações ditatoriais da liberdade de expressão, como aconteceu na castração do programa Pintos nos Is, na prisão, perseguição e desmantelamento do grupo Hpócritas e no expurgo de inúmeros jornalistas, alguns dos quais exilados como Allan dos Santos e Oswaldo Eustáquio, sem contar os que são processados ou estão presos.

Até aqui, a resposta a quem acusava o ministro Alexandre de Moraes de impor uma ditadura judicial no País, foi lembrar a vigência do duplo grau de jurisdição. Ou seja, todas as decisões do ministro estiveram e estão sujeitas à revisão do colegiado do STF, seja pela 1.ª Turma, seja pelo Plenário. O poder de Alexandre de Moraes nunca foi ilimitado. Sempre esteve sob a supervisão da Corte. É assim que funciona no Estado Democrático de Direito.

 É hora do Supremo sair da posição de cúmplice e agir, ou seja, trancar o passo de Moraes.













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