Silvio Lopes, jornalista, economista, professor e palestrante
A expressão " ancoragem" é muito utilizada na área médica. Tem tudo a ver com a ação do profissional de " ancorar" determinada avaliação clínica do paciente, mesmo que esta se revele insustentável diante novas evidências. Em outras palavras, o procedimento de ancoragem denota, de certo modo, teimosia. Quem sabe até, soberba. Certo? Assim acontece na vida. E na de todos nós. Quantas e incontáveis vezes resistimos dar a mão à palmatória quando nossas certezas são, afinal das contas, desmascaradas pela evidência dos fatos, pelos desdobramentos históricos, pelo empirismo inescapável do tempo? Uma antiga (e sempre atual canção), reverbera o seguinte: " Eu nasci assim, vou crescer assim, vou ser sempre assim..." Lembram? É a Gabriela da histórica novela da década de 70. Uma época, diga-se, em que as novelas traziam conteúdos, digamos, sadios e aproveitáveis. Ao contrário ( e bem contrário), do que promovem hoje, da patifaria à pornografia e à decadência da ética e da moralidade civilizacional. As artes, de modo geral, e a música, em particular, sempre atuaram como fontes de inspiração dos homens. Para o bem, ou para o mal. Inspirados nelas, somos impulsionados para uma vida singular, sublime e feliz, como igualmente sofremos influência para o fracasso, declínio e queda inevitáveis. Tal qual na canção de pagode que nos insufla a " deixar a vida nos levar... vida leva eu"...desconsiderando que devemos, isto sim, assumir o total protagonismo dela para, enfim e ao cabo, nos realizar como seres humanos. De fato, já séculos antes de Cristo, Hesíodo vociferava, " nunca passamos um rio pela segunda vez...pois já não é o mesmo rio...O tempo é implacável com nossas certezas, destruindo castelos e sonhos tidos por inexpugnáveis em nosso viver. Prá terminar, de outra canção vem o alerta: "Nada do que foi será, de novo do jeito que já foi um dia...Tudo passa, tudo sempre passará; a vida vem em ondas. Como um mar.... num indo e vindo infinito. Tudo que se vê não é...
Igual ao que a gente viu a há um segundo.
Não adianta fugir. Nem mentir..." Rever conceitos, adaptar- se ao mundo em transformação veloz e avassaladoramente é, antes de tudo, estarmos prontos para enfrentarmos o novo sem abrir mão da própria razão de viver. E buscar a tão sonhada felicidade. Custe o que custar.
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