Gilberto Jasper é jornalista, Porto Alegre.
E-mail - Jornalista/gilbertojasper@gmail.com
Muito antes de obter o diploma de Jornalismo – conquista obtida há 42 anos na Unisinos – eu já trabalhava com comunicação. Em palestras que faço a estudantes do segmento faço questão de manifestar meu orgulho de ter nascido e trabalhado no Interior do Estado. Infelizmente ainda perdura o preconceito entre recém-saídos das faculdades que relutam em começar a carreira fora de Porto Alegre.
Antes de entrar na faculdade, no jornal “O Alto Taquari”, da minha cidade natal, Arroio do Meio, no Vale do Taquari, durante algum tempo fui o único funcionário. Ao sair à rua carregava uma pasta de papelão com três blocos. No primeiro anotava dados para redigir a matéria. Caso o entrevistado demonstrasse empatia, oferecia uma assinatura, mediante recibo sacado do segundo bloco. O terceiro volume servia para oferecer publicidade - ou propaganda - como se dizia à época no interior.
Ao ouvir este prosaico relato muitos estudantes ficam boquiabertos. Em época de tecnologia onipresente spa impossível imaginar-se um repórter andando a pé por toda a cidade, carregando uma pasta debaixo do braço, fazendo reportagem e acumulando atividades de venda de assinatura e publicidade. A segmentação atual exige especialização, o que impede que os profissionais conheçam todo o sistema de comunicação da empresa ou veículo em que atuam.
Vivemos tempos de radicalização raivosa que sufoca a informação criteriosa em detrimento da opinião que muitas vezes soa mais como palpite. Até pouco tempo manifestar posicionamentos era função exclusiva de comentaristas e colunistas. Aos demais jornalistas cabia apurar os fatos – com critério, honestidade e ética - e, a partir daí, publicar “ponto e contraponto”, mostrar os dois lados dos fatos. O julgamento cabia ao público.
Nesta quadra da vida, onde milhões de pessoas sustentam “influencers” que dizem o que o público deve vestir, comer e consumir, pode-se constatar que os critérios estão tremendamente distorcidos. O “efeito manada” gerou pessoas tangidas por um grupo de “formadores de opinião” pouco ético por ser, na verdade, obcecados por dinheiro. Esta gente – tanto que produz quanto consome este tipo de informação/produto – costuma usar termos pouco educados para referir-se a pessoas que pensam diferente. Este é o “nível”.
Também são dias lamentáveis para o jornalismo onde profissionais de jornalismo são, no cotidiano, cabos eleitorais, e veículos de comunicação se transformaram em comitês políticos, tangidos por polpudas verbas publicitárias oficiais. É raro encontrar conteúdos imparciais que não tratem o leitor/ouvinte/telespectador/internauta como um idiota.
É incomum acessar notícias contendo “os dois lados” onde são exibidos virtudes e defeitos, numa manifestação de jornalismo responsável, ético, transparente e comprometido apenas com a verdade e com o público.
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