Um grupo de empresários gaúchos, capitaneado pelo
designer e empresário Mário Verdi, promoverá um debate altamente
qualificado, com a presença de palestrantes de são Paulo e do Rio de Janeiro,
sobre as saídas que podemos buscar na ciência e na inovação para a grave crise
que assola o Rio Grande do Sul.
Engajados na proposta de trazer uma agenda positiva de
alteração da mentalidade empreendedora gaúcha, o grupo se mobilizou num modelo
de crowd funding privado para financiar o evento, que é aberto ao público.
O seminário, que ocorrerá no dia 25 de abril,
segunda-feira, no Hotel Sheraton, tem nome sugestivo: Antropobusiness : a
sobrevivência do organismo empresarial em pauta.
Destaque para a palestra de Clemente Nóbrega que, a
partir da aplicação de conceitos da física à gestão, tornou-se um dos mais
respeitados pensadores brasileiros da atualidade quando o assunto é gestão,
empreendedorismo e inovação. É autor dos livros "Em busca da empresa
quântica", "Antropomarketing", "Innovatrix, inovação para
não gênios" e do provocativo "A intrigante Ciência das Ideias que dão
Certo”. O seminário, que também apresentará a chefe da área de inovação do
Itaú-Unibanco, Ellen Kiss , e o diretor da MJV Inovação e co-autor do livro
Design Thinking : inovação em negócios, Maurício Vianna,
"É nítida a estagnação da supremacia inovadora na
região sul. Precisamos trazer um novo ingrediente que crie um ambiente
favorável ao risco inerente à construção do novo, em detrimento da segurança
previsível do "erro zero", disseminada de maneira sistemática nas
útlimas décadas onde nosso diferencial foi a qualidade total", aponta
Verdi. Além de Verdi, integram o time de promotores do evento os empresários
Analisa de Medeiros Brum, da Happy House Brasil, César Paz, da AG2, Tiago
Lemos, da Ventiur, Atila Franco, da CDA Branding for People, Daniel Sperb, do
Unilasalle, Marcelo Paes, da Tantum Inovação, e os executivos Luis Fernando
Colling e Fernanda Griebeler, ESPM, através de seu diretor Richard Lucht,
Luciano Weber, da Device Autmation e Evandro Scariot, da Automatech,
Serviço
O que: seminário Antropobusiness: a sobrevivência do
organismo empresarial em pauta.
Quando: 25 de Abril, segunda-feira
Onde: Sheraton Hotel, Porto Alegre
“Inovação é sobre o futuro. Tem riscos. É experimental e
aberta”, diz físico Clemente Nóbrega que faz palestra em Poa em abril
Pode parecer estranho, mas Clemente Nóbrega é um físico
que respira gestão e empreendedorismo. Na física, ele buscou as soluções para
garantir a sobrevivência e competitividade das organizações. Conheça um pouco
da história e das ideias do autor, que palestra no dia 25 de abril,
segunda-feira, no Hotel Sherathon, durante o Seminário Antropobusiness: a busca
por uma liderança para a sobrevivência das organizações empresariais.
Como um físico acabou se interessando por gestão e
empreendedorismo? O que essas áreas têm em comum?
Nóbrega – Sou um físico especializado em energia nuclear.
Trabalhei 14 anos nesta área, que abandonei para me tornar executivo de
empresa. Outros 14 anos depois, virei pesquisador de assuntos do mundo
empresarial. Meu tema é inovação como veículo para aumentos de produtividade.
Inovação é um conceito complexo e multifacetado, que ainda não foi
sistematizado. Todo mundo fala nele, mas poucas empresas têm processos para
“fazer a inovação acontecer”. Interesso-me por inovação motivada pelo mesmo
impulso que me levou à Física lá atrás: problemas não resolvidos. Físicos
gostam de se imaginar resolvendo grandes problemas (todo físico um dia sonhou
ser um Einstein, mas o tempo os força a acomodarem-se a ambições mais
modestas).
O senhor, em uma de suas obras, fala em empresa quântica.
Que conceito é esse?
Nóbrega – A ideia é a seguinte: houve uma mudança radical
em física no início do século XX ,a partir do momento em que foi possível olhar
para dentro da matéria, vasculhar seu interior e contemplar sua intimidade. O
que apareceu foi um mundo estranho e intrigante. Um mundo que não se deixa
capturar pelas noções que nos ajudam a funcionar no dia a dia, nem podia ser
descrito pelo nosso vocabulário corriqueiro. O mundo “ali dentro” não era como
o mundo “aqui fora”. Foi preciso inventar outra linguagem e alterar todo o
quadro mental vigente para dar conta daquela realidade nova.
A física quântica foi essa linguagem. Construída
através do talento de um punhado de cientistas, acabou consolidando-se como a
maneira certa para se lidar com aquele universo perturbador do interior da
matéria.
Linguagem esquisita, contra intuitiva, que desafiava o
senso comum – zombava dos princípios que todos usavam para falar, descrever e
entender o mundo e as coisas. O paradoxo, a incerteza, a falta de objetividade,
a impossibilidade de se relacionar causa com efeito são suas marcas
registradas.
Mas, esquisita como é, a física quântica dá certo. “Dar
certo” em ciência e em business é gerar coisas úteis. É levar a
resultados.
Fora da Física, no mundo das organizações, a linguagem
usual faliu diante da complexidade crescente do mundo. O desafio dos gestores
hoje é análogo ao dos físicos do início do século. Temos de colocar em
marcha em nossas empresas e nossas vidas algo que nos possibilite lidar
criativamente com o caos e a incerteza do mundo.
Essa coisa de "empresa quântica" reflete
simplesmente isso: os pressupostos que sempre usamos, os princípios em que
sempre nos apoiamos no dia a dia para guiar nossa ação – produzir ,ser feliz –
nada disso está funcionando mais, assim, precisamos do equivalente a uma
linguagem quântica para a empresa .
As empresas, como organizações sociais, são complexas e
tendem à desorganização. Por que isso ocorre e qual a vacina para que a
desordem natural não comprometa os objetivos e viabilidade das empresas?
Nóbrega – As organizações tendem a se desorganizar por
causa de uma lei da Física que, essencialmente, diz que o estado natural de
qualquer coisa é a desordem, a não ordem. É chamada de lei da entropia.
Entropia é uma medida da desordem de um sistema. Sistemas de quaisquer
naturezas tendem à desordem (entropia crescente) se não forem submetidos a
fluxos contínuos de energia. Tudo o que vemos organizado/estruturado no mundo
natural está submetido a fluxos contínuos de energia. Pode ser um feto, uma
flor, um animal. Tudo depende de energia que, em última análise, vem do sol. Na
empresa e organizações em geral, essa energia vem da liderança – a mais
importante função gerencial. É a liderança que impede o sistema empresarial de
se acomodar em seu estado natural. É ela que tira o sistema do equilíbrio, da
uniformidade, da "entropização" crescente.
O senhor criou um conjunto de práticas que
viabilizam a construção de inovação em organizações, chamada INNOVATRIX.
Qual a premissa dessa metodologia e em que tipo de organizações ela pode ser
aplicada?
Nóbrega – INNOVATRIX é um método de solução de problemas
baseado na TRIZ – uma abordagem inventada por um russo chamado Geinrich
Altschuller nos anos 1940. Foi ele que originou o que hoje chamamos de inovação
sistemática. A aplicação do método começa identificando contradições existentes
no sistema que estamos tratando. Contradições geram lacunas que afastam o
sistema do que chamamos de seu estado ideal. O método sugere rotas para fazer
alterações no sistema de modo que ele se aproxime do seu estado ideal.
A inovação sistemática (INNOVATRIX) enfatiza a eliminação
do que impede o funcionamento ideal do sistema, não a adição de recursos a ele.
Para produzir inovação, ela valoriza a reconfiguração do que já existe. Suas
soluções são desenhadas a partir de um vasto corpo de conhecimentos muito
gerais sobre soluções que deram certo em contextos diferentes.
O ponto de partida do INNOVATRIX é o seguinte: alguém, em
um contexto qualquer, já resolveu um problema “parecido” com o que você tem.
Busque sua solução a partir daí. Há uma base que justifica esta afirmação: essa
base tem origem num tipo de saber não intelectual, muito prático.
Inovação sistemática é uma ciência prática que se apoia
na análise de (literalmente) milhões de problemas em áreas distintas. Uma
ciência experimental, digamos assim, que começou “artesanalmente” nos anos 1940
e tem ganhado relevância nas últimas décadas. Uma ciência baseada no
conhecimento de quem faz (a practitioner science). Ela não tem teoria por
trás.
Um físico muito conhecido – Stephen Hawking, personagem
central do filme “A teoria de Tudo” – capturou bem esse espírito quando disse:
“desisti de ser rigoroso, quero apenas estar certo”.
Hoje há um culto à inovação. Ela apresenta-se como a
grande perspectiva, mas também como um enorme desafio para as corporações. Em
que medida a inovação efetivamente pode garantir a sobrevivência das empresas?
Por que inovar é algo tão difícil para as organizações?
Nóbrega – Inovação pode ser sistematizada e tornar-se um
processo nas empresas. O desafio maior é que, por definição, inovação tem
riscos maiores do que aqueles do dia a dia. Inovação é sobre o futuro. Tem riscos.
É experimental e aberta.
Em qualquer organização, inovar conflita com a operação
rotineira. Inovar é sempre antinatural para a organização. Por quê? “Operação
do dia a dia” embute tudo o que a empresa aprendeu a fazer bem ao longo de sua
existência. É previsível e confiável. É graças a ela que a empresa adquire seu
direito de existir.
Mas, esse direito não é vitalício. Para estender “ seu
prazo de validade” ela tem que inovar, ou seja, tem que desafiar a moldura
definida por aquilo que faz melhor.
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