O Senado Federal, por razões legais, ainda precisa
decidir se instaurará o processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff
(PT). Trata-se, porém, de mera formalidade; do ponto de vista político, a
votação da Câmara dos Deputados parece irreversível.
O vice Michel Temer (PMDB) assumirá em breve a
Presidência da República. Tomando assento sem o respaldo do voto direto dos
cidadãos, terá de se legitimar pela ação imediata, pela restauração de um
governo que faz meses deixou de existir e pela demonstração de que consegue
assegurar suficiente estabilidade política e econômica.
Não haverá estabilidade sem que se detenha a crise, e
esta não cederá sem que o novo governo apresente programas e equipes capazes de
combinar reparos imediatos na administração da economia –que se deteriora de
forma ainda acelerada– a um plano factível de reformas mínimas de longo prazo.
Embora mínimas, dada a urgência, tais reformas devem
bastar para incentivar reações imediatas dos agentes econômicos e permitir o
alívio do arrocho monetário. De início, trata-se de conter a penúria crítica
dos governos.
Não será possível tão cedo evitar o crescimento da dívida
pública. A missão deste governo é levar o deficit primário a perto de zero até
o ano que vem. Assim, criam-se também as condições para que se antecipe para
quanto antes a redução da taxa de juros.
No curtíssimo prazo, tornou-se inevitável promover algum
aumento de impostos, suficiente para reduzir o deficit, evitar corte ainda
maior do investimento em obras e atenuar o impacto social do ajuste.
Conviria, pois, elevar tributos sobre as rendas mais
elevadas. Caberá a governo e Congresso encontrar a solução que combine
eficiência econômica, viabilidade política e justiça tributária.
A elevação da carga de impostos, no entanto, exige uma
contrapartida inegociável: conter gastos. De pronto, isso significa reduzir a
despesa obrigatória do governo.
Embora se discuta, em termos ideais, a conveniência do
fim de qualquer vinculação orçamentária, está no Congresso um abatimento extra
dos recursos que o governo deve empregar em saúde e educação. Parece a correção
possível neste momento.
É possível frear desde já despesas do INSS, por dolorosas
que sejam tais medidas no curto prazo. É preciso rever gastos com pensões e
elevar o rigor na concessão dos benefícios da aposentadoria rural, fator maior
do deficit federal.
O rendimento médio do trabalho cai no país. Nesse
contexto de sacrifício geral, será necessário rever os reajustes de salários e benefícios
de servidores federais.
É também mais que esperada uma ação que mire o equilíbrio
das contas no longo prazo. Destaca-se uma reforma da Previdência: a estipulação
de idades mínimas de aposentadoria, a equiparação de direitos de mulheres e
homens, bem como de trabalhadores do setor público e do privado.
Demandam-se, entretanto, outras providências urgentes de
contenção da crise econômica.
Concessões e privatizações são um meio de incentivar a
retomada de investimentos. É crucial priorizar obras de infraestrutura, que
dependem do restauro de normas regulatórias e adequação de meios de
financiamento e garantias, destruídos na gestão Dilma Rousseff.
Todo o ambiente regulatório precisa ser refeito, mas a
princípio a tarefa é limpar o terreno de escombros e oferecer condições para
que as obras se iniciem quanto antes.
A esse respeito, acrescente-se que se devem pelo menos
restaurar as condições técnicas de operação das agências regulatórias e órgãos
similares: gestão minimamente profissional. Há investimentos travados por falta
de clareza de regras, não de recursos.
A ruína das finanças nos setores de petróleo e
eletricidade, além do descalabro regulatório, prejudica o crédito do país e é
um empecilho aos investimentos em ramos centrais da economia. A Petrobras, como
todos sabem, demanda terapia intensiva.
A crise agravou a situação financeira dos Estados, muitos
deles de fato geridos de modo irresponsável. Observada a imposição das devidas
contrapartidas, é preciso ceder ao imperativo da realidade e remediar o
desastre.
Admita-se um socorro às finanças estaduais, mas apenas se
seus governos se comprometerem com planos de redução de despesas salariais e
previdenciárias, além de aceitarem enfim a implementação de uma reforma
tributária parcial e muito relevante: simplificação e ordenamento do ICMS.
O governo, é óbvio, não se limita à gestão da economia.
No entanto, caso Michel Temer não detenha a espiral recessiva, em breve perderá
o voto de confiança precário que terá recebido do Congresso, em tese concedido
em nome de um país cada vez mais impaciente.
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