Desde março deste ano, vem sendo exibida na TV uma série
intitulada “O Brasil que eu quero”, uma interessante oportunidade para que os
brasileiros expressem o que desejam para o país nestas eleições.
Invariavelmente, os vídeos exibidos giram em torno das mesmas aspirações: mais
educação, mais saúde, um país com mais decência e menos políticos corruptos.
Desejos legítimos, mas que precisam passar pela análise necessária sobre a
coerência entre nosso discurso, como povo, e nossa prática cotidiana.
Não existe uma corrupção dos políticos, separada da
corrupção dos outros seres humanos. Políticos não são extraterrestres. São
pessoas eleitas por outras pessoas para a missão de administrar a “polis”, a
comunidade, e seus eventuais vícios e virtudes são, em certa medida, reflexo de
hábitos da sociedade que os elege.
Todos querem educação de qualidade, mas muitas famílias
não se importam em matricular os filhos na escola na idade certa, obrigando o
Poder Público a realizar busca ativa.
Todos querem Saúde digna, mas alguns procuram o agente político para
“furar a fila” do atendimento ou do procedimento médico, não levam seus filhos
e idosos às campanhas de vacinação, e quando fazem um exame custeado pela rede
pública, muitas vezes não vão sequer buscar o resultado. Todos querem
moralidade na gestão pública, mas muitos vão ao político pedir um “jeitinho”
para fazê-lo passar na prova de habilitação de motorista, ou ainda, burlar a
ordem de classificação para nomeação em concurso público. Em resumo, todos querem mudança, mas poucos
querem mudar.
Estamos sempre esperando que outros mudem o país por nós:
uns pedem intervenção militar, outros querem o ativismo do Judiciário e do
Ministério Público, atrofiando o equilíbrio dos demais Poderes, e outros ainda
vão atrás dos “Salvadores” da vez, os ditos “não-políticos” – muitos deles,
estranhamente, com décadas de vida partidária.
É fácil transferir responsabilidades, tão fácil quanto
ilusório. A política é a gestão da sociedade, e para mudar a política, as
pessoas precisam mudar. Deixar de recorrer aos atalhos, evitar a compra da peça
de carro proveniente do roubo, da carne que vem do abigeato, do produto pirata.
Um país não é democrático somente quando os direitos são para todos, mas
especialmente quando as leis, as normas que são base de qualquer civilização,
são por todos respeitadas e cumpridas.
Nossa democracia é imperfeita justamente porque ela é a
soma de nossas imperfeições. Quando a sociedade se civilizar e se educar
moralmente para a vida pública, teremos políticos melhores, porque teremos
cidadãos melhores.
Este é o Brasil que eu quero. E você?
Perfeito!
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