Idosos são os principais responsáveis pelo sustento da casa
Com a crise econômica que ainda afeta o bolso
dos consumidores e o aumento do desemprego entre a população jovem, em muitos
lares os idosos acabam sendo a principal fonte de renda. Um levantamento
realizado em todas as capitais pela Confederação Nacional de Dirigentes
Lojistas (CNDL) e pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) revela que
43% dos brasileiros acima de 60 anos são os principais responsáveis pelo pagamento
de contas e despesas da casa - o percentual é ainda maior (53%) entre os
homens. De modo geral, 91% dos idosos no Brasil contribuem com o orçamento da
residência, sendo que em 25% dos casos colaboram com a mesma quantia que os
demais membros da família. Somente 9% não ajudam com as despesas. Para a
economista-chefe do SPC Brasil, Marcela Kawauti, não é só a crise econômica que
explica esses números, mas também uma mudança demográfica e comportamental
dessa população. "Há muitos casos em que a renda do aposentado é a única
maneira para sustentar o lar de uma família que perdeu emprego, mas o aumento
da expectativa de vida dos brasileiros e suas atitudes nesta fase da vida
também são fatores importantes. Hoje, os idosos são mais ativos, têm mais
autonomia financeira e trabalham por mais tempo, seja por necessidade ou porque
se sentem dispostos", explica a economista. Outro dado que reforça a
independência financeira de boa parte dos idosos é que 66% não recebem ajuda
financeira de parentes, amigos, pensão ou programa social. Há 34% de idosos que
contam com algum tipo de ajuda. Com a importância dos idosos para o orçamento
da casa, muitos acabam emprestando seu nome para outros realizarem compras. De
acordo com o levantamento, pouco mais de um quarto (26%) dos idosos brasileiros
já fez empréstimo pessoal consignado em seu nome para emprestar o dinheiro a
terceiros. Na maior parte dos casos (17%), o empréstimo foi um pedido de
filhos, conjugues ou outros parentes, enquanto em 9% dos casos o idoso se
ofereceu para ajudar a pessoa. Segundo o estudo, 37% dos idosos acreditam
que padrão de vida piorou na terceira idade; 51% precisam recorrer a crédito
para pagar contas. Se por um lado o estudo mostra que os idosos são de grande
importância para o sustento de seus lares, por outro, se observa também que
muitos deles apenas conseguem pagar suas contas, sem que haja sobras de
dinheiro para realizar um sonho de consumo ou investir. De modo geral, 39% dos
idosos brasileiros até conseguem pagar suas contas sem atrasos, mas fecham o
mês sem recursos excedentes. Outros 14% nem sempre conseguem pagar as contas e
algumas vezes precisam fazer esforço para administrar o dinheiro que recebem e
4% nunca ou quase nunca conseguem honrar os compromissos financeiros. Os idosos
em situação financeira confortável, ou seja, pagam as contas e ainda sobra
dinheiro, são 42% da amostra. Para manobrar o orçamento, recorrer ao crédito
acaba sendo uma saída prática, apesar de arriscada. Mais da metade (51%) dos
idosos costuma fazer empréstimos, utilizar cartão de crédito ou cheque especial
para pagar as contas e conseguir cumprir compromissos mensais. Recorrer a uma
reserva financeira seria a solução mais indicada, mas apenas 39% dos idosos
possuem dinheiro guardado. "A reserva financeira é a garantia de que a
pessoa terá independência para se reinventar na terceira idade, ampliar suas
oportunidades de ser feliz, cuidar da saúde e viver bem. Além disso, se houver
imprevisto, será muito menos penoso arcar com o aspecto financeiro se a pessoa
tiver um montante guardado. Deve-se tomar cuidado com o crédito fácil
oferecido, muitas vezes, acompanhado de altas taxas, que favorecem uma compra
além da capacidade de pagamento ao longo do tempo", afirma o educador
financeiro do portal 'Meu Bolso Feliz', José Vignoli. Ao refletirem sobre o
padrão de vida que possuem hoje, comparado ao que tinham aos 40 anos de idade,
a maior parte (37%) dos idosos considera que piorou, ao passo que 33% avaliam
levar uma vida melhor hoje do que no passado. Para 28% a situação permanece a
mesma. Em uma escala de um a dez, a nota média que os idosos atribuem para a
satisfação com a vida financeira atual é de 6,7 pontos. A situação de aperto
financeiro, em diversas ocasiões, acaba levando a inadimplência. Nos últimos
seis meses, em cada dez pessoas acima de 60 anos, quatro (37%) deixaram de
pagar ou atrasaram o pagamento de alguma conta e 21% ficaram com o CPF
negativado no último ano. Os atrasos foram, principalmente, com as contas de
luz (15%), água (11%) e telefonia (9%). Os que garantem ter pagado todas as
contas em dia no último semestre somam 57% da amostra. Para quem deixou de
pagar alguma conta, os motivos mais alegados foram a diminuição da renda (18%),
esquecimento (16%), falta de planejamento dos gastos (15%) e problemas de saúde
(9%). Foram entrevistados 612 consumidores com idade acima de 60 anos de ambos
os gêneros e de todas as classes sociais, nas 27 capitais brasileiras. A margem
de erro é de 4,0 pontos percentuais para um intervalo de confiança a 95%.
Aposentados voltam a trabalhar para pagar contas no fim do mês Sete a cada 10
idosos estão aposentados, e, entre este público, 21% exerce uma atividade
remunerada para conseguir pagar as contas no fim do mês. Dos que atuam
profissionalmente, 43% relatam dificuldades em conseguir um trabalho por
preconceito de idade. As informações são de um estudo feito pelo SPC
(Serviço de Proteção ao Crédito) Brasil em conjunto com a CNDL (Confederação
Nacional de Dirigentes Lojistas). Para a economista-chefe do SPC, Marcela Kawauti,
os dados comprovam a importância da atividade do aposentado não só para o
próprio sustento, mas também da família. "Claro que têm pessoas que
querem se sentir produtivas e ocupar a mente, mas a questão financeira sai na
frente." De olho no envelhecimento da população e no maior interesse dos
mais velhos em voltar ao mercado, projetos de lei tramitam no Congresso. O
economista e professor da USP Hélio Zylberstajn coordenou a criação de um
projeto com regras especiais para empregar os mais velhos, com jornada máxima
de 25 horas semanais e isenção de contribuição previdenciária. "Pensamos
em criar o equivalente ao regime de estágio dos estudantes, só que para os
aposentados. As necessidades são diferentes", diz ele sobre o Reta (Regime
Especial de Trabalho do Aposentado), criado pela Fipe (fundação de
pesquisas). Embora o Estatuto do Idoso preveja o empenho do poder público
para que as empresas contratem profissionais com mais idade, especialistas
dizem que nada foi feito. A falta de regras também seria um problema legal,
sobretudo com o fim da possibilidade de desaposentação. O advogado Murilo
Aith diz que, caso um aposentado volte a trabalhar em um emprego fixo, ele terá
de contribuir com a Previdência. "É temerário orientar as pessoas a
impetrarem ações nesse sentido, pois a chance de conseguir êxito é muito
baixa", diz. Enquanto isso, empresas têm criado programas para a
contratação de profissionais mais velhos, inclusive para quem ainda não chegou
formalmente à terceira idade, que, pelo Estatuto do Idoso, começa a partir dos
60 anos. Fundador da plataforma MaturiJobs, Mórris Litvak diz que, após fazer
uma pesquisa de mercado, constatou que o público acima dos 50 "já fica
invisível" para os recrutadores. "A partir dos 40 anos, começa a
ficar difícil, mas, depois dos 50, é ainda mais", explica. A companhia
aérea Gol criou o Experiência na Bagagem, programa que já intermediou 84
contratações. O auxiliar administrativo José Antônio da Silva, 51, foi
contratado. Ele diz que, enquanto procurava trabalho, sentia preconceito.
"Confesso que entrei bastante inseguro por causa da questão de idade,
porque as empresas dão preferência para os mais novos. No primeiro dia que fui
ao refeitório, vi pessoas de muitas idades", diz ele, que considera
encorajadora a diversidade etária. Enfermeira por 35 anos, Carmen Rodrigues,
59, mudou de profissão após se aposentar: agora, ela ajuda outros profissionais
a se conhecerem e a traçarem objetivos. Trabalhar em áreas em que se tenha
vocação e interesse, além de atualização constante de conhecimentos técnicos, é
essencial, na visão dela, para que o aposentado volte ao mercado de trabalho.
"Não tem de tentar parecer mais jovem, mas demonstrar preparo é
fundamental", afirma a especialista. Durante a entrevista, ela
recomenda que o trabalhador ressalte a experiência adquirida ao longo da
vida. Áreas como consultoria, prestação de serviços e atendimento costumam
valorizar o perfil dos que voltam à ativa, diz o presidente do IBC Coaching,
José Roberto Marques. "As empresas compreendem que esses profissionais
que estão voltando ao mercado são mais comprometidos." Falta
preparo de indústria, comércio e serviços para consumidores mais velhos De
acordo com pesquisa, mercado não consegue atender idosos de forma satisfatória
MATEUS BRUXEL/ARQUIVO/JC Indústria, comércio e serviços estão longe de estarem
preparados para atender aos idosos. É o que mostra a análise dos dados de
pesquisa da consultoria especializada SeniorLab feita com 2 mil pessoas, entre
60 e 75 anos de idade, em todo o Brasil - 21% no Rio de Janeiro. Quase metade
(48%) dos entrevistados já percebeu alguém tentando passá-lo para trás.
Praticamente um terço (32%) também se ressente da impaciência no atendimento.
Na esteira de despreparo, as empresas desrespeitam tanto o Código de Defesa do
Consumidor (CDC) quanto o Estatuto do Idoso, sem se dar conta do potencial de
consumo dessa faixa etária, que soma, hoje, 28 milhões de brasileiros. Em 2031,
o número de pessoas acima dos 60 anos vai ultrapassar o de jovens - serão 43,3
milhões. Entre os entrevistados na pesquisa da SeniorLab, 82% disseram não
depender de auxílio financeiro de outra pessoa para viver. A falta de
preparo para o atendimento a esse público é flagrante nos supermercados, local
mais frequentado pelos idosos. A pesquisa aponta dificuldades para enxergar
rótulos (45%), entender informações em embalagens (46%) e pegar produtos nas
prateleiras (33%). "O idoso vai muitas vezes ao mercado porque faz
pequenas compras, geralmente no estabelecimento mais próximo de casa, e só leva
o que pode carregar", diz Martin Henkel, fundador da SeniorLab. A
assistente social aposentada Maria de Lourdes Andrade, de 79 anos, diz viver
todas as dificuldades apontadas pelo levantamento em seu cotidiano, que inclui
idas ao supermercado ao menos quatro vezes por semana. "As cores das
embalagens deveriam ser diferentes para aumentar o contraste e facilitar a
leitura", diz a aposentada. "Prefiro comprar nos lugares onde os
atendentes já me conhecem. Onde sou mal atendida, eu não volto." Maria de
Lourdes foi vítima de um golpe, aplicado por um vendedor de rua, que lhe custou
o pagamento de mais de R$ 300,00 no cartão de crédito. Apesar de ter recorrido
ao banco e ao Procon, ela conta não ter conseguido cancelar a compra, nem
identificar o golpista. Na avaliação de Henkel, o percentual de idosos que
mencionou ter sofrido golpes ou tentativas é alto justamente pela importância
do atendimento para esse grupo. "O idoso valoriza se o atendimento é
atencioso e se há uma relação de confiança com as pessoas. São características
que o tornam mais vulnerável. Golpistas e fraudadores fazem uso da simpatia
para ganhar a confiança e aplicar o golpe. Segundo a economista Ione Amorim, do
Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec), a maior parte dos golpes
contra idosos são bancários. "A dificuldade de interagir com plataformas
virtuais e outros sistemas faz com que criminosos se aproveitem dos idosos
quando estão sozinhos através da oferta de ajuda. Para o diretor executivo da
Associação Brasileira de Relacionamento com o Cliente (Abrarec), Dionisio
Moreno, hoje, a principal preocupação é agilizar o atendimento para reduzir
risco de golpes. "Quanto mais tempo o idoso ficar em um site para fazer
uma compra, mais pop-ups começam a surgir. Se ele demora demais no banco ou para
sair do estacionamento do shopping, também mais exposto fica a golpistas."
Christiane Cavassa Freire, coordenadora das Promotorias de Justiça de Tutela
Coletiva de Defesa do Consumidor do Ministério Público do Rio (MPRJ), lembra
que o idoso, pelas peculiaridades da idade, é considerado um consumidor
hipervulnerável. "Ao 'impor' ao consumidor produtos inadequados ou não
lhes fornecer informações de forma que ele compreenda plenamente o que está
contratando ou comprando, isso caracteriza prática abusiva.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário