Da
infinidade de virtudes imagináveis, qual será a mais desejável em um
jornalista? Na era da ciberfrivolidade, uma pergunta assim é "ponto fora
da curva" (permitido o lugar comum). E também por isso será válida.
A
morte do jornalista Ricardo Boechat, em 11/02/19, causou grande comoção, quer
pelas circunstâncias do fato, quer por ser ele muito querido e admirado por
colegas e pelo grande público. Mas não é dele que se trata aqui, senão de uma
fala recorrente entre seus pares, ao lamentar sua partida.
Desde militantes da Folha de S. Paulo até rapazes da equipe de esportes da
Rádio Gaúcha, jornalistas articularam o discurso do vitimismo: "Ele nos
deixou num momento crítico em que o jornalismo tanto precisa de alguém que
denuncie o que está acontecendo", eis o que se repetiu numa abordagem cuja
síntese é a afirmação de a imprensa estar vivendo dias de cerceamento, o que,
no Brasil, não é verdade.
Mas uma parcela da imprensa deve estar mesmo desconfortável em razão de
mudanças que, do ponto de vista da sociedade, são bem positivas: a população
mais escolarizada já não engole qualquer coisa que saia nos noticiários. E uma
das causas é o contraponto que as "mídias alternativas" fazem às
mídias tradicionais (rádio, TV e jornal), inclusive desmascarando jornalistas
favoráveis a causas revolucionárias.
Até 2013, quando atingimos o ponto de saturação e o país começou a mudar, os
queixosos de agora tinham a vida mais folgada: era mais fácil engrupir o
público. Quer dizer, a militância ideológica travestida de jornalismo não
tinha, como hoje, o desconforto de uma enérgica e amplamente compartilhada
contestação.
Mas as redes sociais ganharam corpo e a moleza acabou. Hoje, se black blocs
destroem automóveis de uma loja de carros importados, se o MST põe fogo em
tratores e plantações de uma fazenda altamente produtiva, se o movimento dos
sem-teto cobra aluguel em um prédio invadido e tranca as portas para controlar
as pessoas, não adianta a mídia tradicional se omitir nem querer dourar a
pílula. Haverá sempre um abelhudo para gravar imagens no smartphone e mandar às
redes.
Em
suma, especialmente a partir de 2013, o núcleo hegemônico da imprensa,
cabresteado pelo Foro de S. Paulo (organização que esse núcleo finge ignorar),
vem sendo desmascarado e repelido.
À
parte de excessos e fake news, as redes sociais tiveram a faculdade de revelar
o que todo mundo via sem ver: "o rei está nu!". Os que hoje se
queixam assistiram, no passado recente, à instituição da corrupção como método
de poder, ao aparelhamento do Estado e à imposição de um projeto de subversão
das instituições concebido com cinismo revolucionário. Mas não denunciaram!
Terá sido por ignorância ou por conveniência? Tanto faz! Merecem repúdio. E
hoje o têm! E se queixam.
Mas as mídias tradicionais vão acabar? Em essência não! Pode até desaparecer a
impressão em papel, por exemplo, mas não o jornalismo profissional. Haverá
sempre uma busca de credibilidade, inexistente no mundo anárquico das mídias
sociais. E quem tiver competência e independência de caráter é que vai granjear
a confiança do público.
E
assim chegamos a um esboço de resposta à pergunta inicial. Sem dúvidas, uma das
virtudes mais apreciáveis num jornalista - e, de resto, em qualquer pessoa - é
"honestidade intelectual", que é a materialização do irrefreável
desejo de buscar a verdade, sobre si mesmo e sobre a realidade do mundo.
Renato Sant'Ana é Psicólogo e Advogado.
Concordo em parte. Mas vejamos qual é a causa? Temos dois tipos de jornalistas. Os cabresteados e os que se definem e emitem opinião. Aqui no Rs na área esportiva são raros os que definem para qual time torcem. Acham que com isso passam credibilidade. Eu acho uma covardia. Muitos ou a maioria não suportam criticas e agora convivendo com as mídias sociais muitos jornais bloqueiam comentários do leitor, EX o NH de Novo Hamburgo. Quando morei na Italia eu sabia qual era a tendencia da La Stampa, do Corrieri dela Sera e do La republica. Aqui se travestem de "formadores de opinião" e cada vez mais perdem credibilidade. Mas o pior de tudo é o maldito " politicamente correto".
ResponderExcluirSó acho que o Boechat não é um bom exemplo de jornalismo crível.
ResponderExcluirConcordo inteiramente com o conteúdo do texto. Para a imprensa o Foro de São Paulo não existia. Não sabiam? Como não saber se presidentes, ex-presidentes e políticos de esquerda participavam? Não cobriam seus passos? Sabiam e ocultavam deliberadamente.
ResponderExcluirRoberto