Nos desvãos de um soturno engenho de arroz, vivia uma numerosa comunidade de
ratos. Comida não faltava, mas a vida ali não era fácil. Tudo por causa da
presença de.... Um assombroso gato, desdenhosamente bonito, limpo e atlético,
tão astuto quanto folgado...
De tudo, o mais problemático era que o silencioso bichano tinha um andar macio,
suave, aquele jeito elegante e sorrateiro dos felinos. E com tanta leveza de
movimentos, era praticamente impossível notar-lhe a aproximação. Quando menos
se via... Zaz! Mais um membro da comunidade virava jantar daquele sujeito que,
embora muito querido e mimado pelos humanos, era para os ratos só um predador
implacável e uma ameaça constante, um ser odioso, a personificação do mal.
Foi então que o coletivo de roedores fez uma assembleia para discutir o caso.
E, ao cabo de tumultuado debate e algumas mordidas recíprocas, aprovou-se uma
saída estupenda: pendurar um guizo no pescoço do gato para que, quando o
temível animal se aproximasse balançando-o, todos pudessem ouvir o tilintar e
fugir a tempo. Só que... Ninguém apontou "quem" nem "como"
executaria a tarefa (dois pontos a serem definidos quando se trata de tomar
medidas que mudam o destino da comunidade).
Com aquela inusitada e fantasiosa proposta surgiu o que, desde então, é
conhecido como "princípio do guizo no pescoço do gato", que pode ser
enunciado assim: não é válida a fórmula de solução de um problema, a qual,
embora descrevendo um resultado desejável, não explicita os meios aptos à sua
execução ou não prevê um agente capaz de executá-la.
Embora antiga e bem conhecida, seja esta fábula recontada muitas vezes,
refrescando a memória dos velhos e dando conhecimento aos moços, para que
jamais se vejam tentados a recorrer a simplificações quando diante de problemas
complexos.
Fico pensando como ficariam os gatos togados com um guizo ao pescoço.
ResponderExcluir