Artigo, Gilberto Jasper - Isto é uma vergonha

- O autor é jornalista, Porto Alegre.
E-mail  gilbertojasper@gmail.com


            O termo da moda é “empatia”, cujo significado em poucas palavras seria “colocar-se no lugar do outro”.  A tevê tem sido campeã na disseminação deste conceito, mas por ironia é o veículo que menos respeita o significado. Basta observar o noticiário majoritariamente calcado na pandemia.
            A Rede Globo criou a moda da “empatia” com comerciais que beiram a pieguice típica de quem reprisa tarde e noite novelas água com açúcar. Fico meses sem assistir a um noticiário completo da emissora, seja ao meio-dia ou à noite. Prefiro os informativos locais que têm mais a ver com a nossa realidade.
            Apesar disso, fico atento à abertura dos programas de notícias e a “escalada” – aquela abertura com as principais (?) manchetes – e as primeiras informações. Invariavelmente abre com “o Brasil chega rápido aos tantos mil mortos pelo coronavírus”. Ato seguinte são exibidas imagens de covas abertas (nunca se soube se foram ocupadas), UTIs com corpos inertes em macas (de preferência no chão) e depoimentos de parentes que perderam entes queridos ou não conseguiram atendimento.
            Ao final de cada notícia me pergunto: será que o editor, responsável pela seleção do conteúdo, colocou-se no lugar dos parentes ou amigos das vítimas diante da imagem de uma sepultura repetida à exaustão? A hipocrisia beira o mau gosto e à total falta de sensibilidade para imaginar-se como órfão de alguém que se foi vitimado pela doença.
            A guerra político-ideológica que tomou conta da cobertura de grande maioria da mídia desconsidera o consumidor final, aquele que espera informação em detrimento da enxurrada de opinião que permeia o noticiário. O conteúdo jornalístico é o que menos importa numa inversão impensável até pouco tempo.
            Nestes mais de 40 anos atuei em jornais e rádios do interior, em assessoria de prefeitos, deputados estadual e federal, governadores, presidentes da Assembleia Legislativa e de presidente do Tribunal de Justiça. Jamais perdi de vista o compromisso de informar e, dependendo da função, opinar. Considero um respeito ao público, motivo da nossa função, independente de julgamento ou ideologia de quem recebe nosso conteúdo. A manipulação que assisto causa nojo e vergonha.
Lembro a luta histórica para escrever, falar e fotografar com total liberdade. Para que serviu todo este sacrifício? Para fazer da notícia mercadoria barata, venal e moeda de troca para liberação de verbas publicitárias, cachês milionários para palestras e outros favores inconfessáveis?
            Parafraseando o saudoso Bóris Casoy... “isto é uma vergonha!”

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