Ao assistir as notícias sobre corrupção no Jornal Nacional penso nos familiares destas pessoas cujas fotos e vídeos ilustram as reportagens. Imagino os filhos ao chegar no colégio ou na faculdade, encarando colegas e amigos. E a esposa, dando “bom dia” no trabalho, com o crachá invertido para esconder o sobrenome?
Costuma-se chamar isso de “vergonha alheia”, nos levando a imaginar como se nós estivéssemos no lugar dos corruptos. Companheiros de chope, velhos parceiros de veraneios ou viagens ou ainda companheiros de futebol dos finais de semana precisam agir rápido afim de deletar fotos comprometedoras no facebook.
No fundo, duvido que os ladrões do dinheiro público nutram algum remorso. A obsessão pelo acúmulo de bens, poder e influência geram cegueira. A cultura de adquirir, ostentar e descartar transformou as pessoas em máquinas de consumismo.
A impunidade que campeia solta em nosso país encorajou gente boa a optar pela vida fácil. Estes se locupletam pela facilidade em se apossar sem dar explicações. Fiscalização séria é ficção num país em que seguidores da lei são taxados de trouxas. A imaginação para o mal não tem fronteiras.
Roubar e depois entregar tudo para advogados deve causar enorme frustração aos infratores
Na semana passada, por dever profissional, assisti ao interrogatório dos quatro réus envolvidos nos absurdos perpetrados no caso do menino Bernardo, em Três Passos. Não encontro adjetivos para classificar os horrores motivados pela busca sem limites pelo dinheiro.
Vi e ouvi um pai falar por mais de três horas sobre a morte bárbara do filho de 11 anos sem derramar uma única lágrima. Pensei na filha que ele mesmo teve com a madrasta de Bernardo. Mais uma criança cuja vida foi deformada, o futuro comprometido porque os pais estão no presídio há um ano.
A súbita notoriedade negativa de figuras dantescas que desfilam pela mídia me causa uma curiosidade: será que os acusados se acham notórios? Algum se arrepende ou sente vergonha quando familiares o visitam na cadeia? Tento imaginar também a frustração daqueles que por anos a fio buscaram subterfúgios para cometer crime e que, flagrados, são obrigados a gastar tudo que amealharam com advogados.
Independentemente da diversidade de sentimentos que permeiam o interior das mentes criminosas, fica uma única conclusão: o ser humano é, de longe, o mais complexo enigma a ser decifrado.
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