Artigo, Dagoberto Lima Godoy - A mão invisível da democracia

O autor é advogado, engenheiro e ex-presidente da Fiergs.

Muitos brasileiros chegam a temer pelo nosso futuro, diante do caótico ambiente político e institucional, da desarmonia dos poderes constitucionais e de atitudes autoritárias tomadas por aqueles que, com legitimidade questionável, detém o poder supremo.

Entretanto, continuo acreditando que os regimes democráticos seguem seu curso, embalados pelas circunstâncias e movidos por um impulso que, na sua inteireza, está além do domínio consciente dos homens. Há muito me convenci de que a democracia está para a política assim como o mercado está para a economia.  Em ambos os casos, para ser eficaz, o processo parece ter que se governar por si próprio, com sua dinâmica escapando à percepção humana.  Assim, muitas vezes as práticas do mercado e da democracia parecem ser confusas e até anárquicas, a ponto de gerarem insegurança e revolta da população. 

Em tais ocasiões, costumam surgir movimentos de cunho totalitário, que ameaçam as liberdades individuais, tanto no campo político, como no econômico. Então, pouco a pouco se entretece a teia controladora, tal como a aranha cobre de fios a sua presa, até tirar-lhe todos os movimentos e, afinal, matá-la: todas as tentativas de controlar e comandar fenômenos tão complexos quanto o mercado ou a política acabam por comprometer a prosperidade e oprimir a cidadania. 

Na maioria das vezes, os políticos não percebem o alcance de seus atos, nem compreendem todas as dimensões do enredo da peça em que são atores.  Daí, há quem cogite da existência de uma "mão invisível", a reger o processo democrático, tal como dizem as teorias liberais sobre a economia.

Dessa cogitação posso tirar duas mensagens: uma de esperança e outra de chamamento.

A esperança vem da interpretação dessas duas mãos como sendo uma só – a mão de Deus ou a Divina Procidência. E desta, só se pode esperar o Bem. O chamamento se impõe por nos ter sido dado o livre arbítrio, de forma a não termos que esperar para que se cumpra nosso destino, mas exercer o dever de construi-lo, como coartífices da obra divina.

Assim pensando, continuo acreditando que sairemos da atual crise para dias melhores, desde que façamos a nossa parte na defesa da democracia e da livre economia de mercado.  


* Cidadão brasileiro

21-04-2023


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