Muitas das 149 patriotas da nossa cela são cristãs, católicas ou evangélicas, algumas pastoras, que oravam 24 horas por dia, várias faziam jejum. Todas clamavam pelo mesmo Deus. Uma das pastoras nos reuniu para orar e ungir, e logo depois recebemos a informação de que receberíamos uma visita "ilustre". Suspeitamos que seria o ministro Barroso.
Quando os ministros do STF, Alexandre de Moraes e Rosa Weber, entraram com 20 policiais armados até os dentes e, ainda, com spray de pimenta nas mãos, minha nuca doeu e senti enjoo. Pude olhar nos olhos do ministro e ver que o comportamento dele era de quem procurava por alguém; parecia um demônio olhando para os nossos olhos, fixando o olhar. Sai da sala do “confere” e fui para o quarto. Não conseguia estar no mesmo ambiente que ele, mas do quarto eu escutava o que estava sendo dito.
Todas as mulheres se sentaram no chão e muitas caíram no choro. Então, ele mandou todo mundo se retirar porque ele queria entrar na nossa cela, ver as nossas instalações. Não bastava ter ultrapassado aquele portão de ferro que nos encarcerava; ele queria passar pela grade e ver como estávamos vivendo. Ele entrou no nosso banheiro, com dois vasos e dois chuveiros com água gelada para toda aquela população, e foi enfiando a cabeça na porta dos primeiros quartos do longo corredor.
Dei graças a Deus que nenhuma de nós se exaltou. Creio que o momento de oração nos preparou para esse encontro. Eu temi que alguém falasse alguma coisa e nós fôssemos nos encrencar mais ainda. Temi muito. E fiquei imaginando se aqueles policiais machucassem uma de nós, e todas nós cairíamos em cima deles em defesa. Mas foi só algo que passou pela minha cabeça.
Alexandre de Moraes ouviu apelos e choro. As mulheres falaram de seus filhos, seus netos, suas casas. Algumas fizeram perguntas ao ministro e outras explicaram que não tínhamos feito nada para estar naquela situação. A resposta dele foi de que “seria averiguado o caso de quem não fez nada”. E, “quem fez”, disse ele, “vai pagar muito”. Outra perguntou sobre quanto tempo teríamos que ficar com a tornozeleira quando fôssemos para casa e ele respondeu: “Quanto tempo eu quiser.”
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