Grêmio: um clube apenas regional?

Por Facundo Cerúleo

 

 

Os jovens que andam pelos 30 anos não têm memória do que ocorreu quando eles estavam nascendo ou recém andavam por este mundo. Não sabem que, um dia, a direção do Grêmio chamou o Gauchão de Ruralito. Isso numa época em que a praia do tricolor era a Libertadores, o Brasileirão, a Copa do Brasil: grandes competições. O Grêmio jogava pensando grande! Esses jovens dificilmente vão perceber a burrice que tornou o Grêmio um clube regional que parece contentar-se com o Gauchão. Mediocremente, o Ruralito é hoje o teto de um clube que tem cinco Copas do Brasil, dois Brasileirões, três Libertadores e um título mundial.

 

Não há como esquecer que, em 2023, o título nacional caiu no colo do Grêmio, que só não aproveitou por estupidez! Uma estupidez coletiva. Para começar, a direção se recusou a contratar um técnico profissional. Resultado? Em 2023, Portaluppi (um técnico amador) fez uma profusão de cagadas. Se consideramos que o Grêmio ficou só dois pontos atrás do campeão, é válido dizer que bastaria uma, apenas uma cagada a menos (em uma profusão!) para que o Grêmio fosse campeão brasileiro.

 

Em 2022, o médico Márcio Bolzoni (entrevistado por dois doutos rapazes, já falei isso aqui) tirou das sombras um assunto que a nossa virtuosa imprensa sempre silenciou: Portaluppi não faz treino técnico-tático. Basta colocar no Youtube "Márcio Bolzoni abre a caixa preta do Grêmio" e ouvirão a entrevista.

 

Repito o que já disse. Um treinador que não faz treino técnico-tático não é profissional; Portaluppi não faz treino técnico-tático; Portaluppi não é profissional ou, mais exatamente, não é um profissional à altura de um clube que não se contenta com apenas vencer o Ruralito.

 

E a mídia? No ano passado, várias vezes escrevi que Cristaldo jogava mal porque era mal escalado numa equipe mal treinada. Mas no Ruralito de 2024 ele veio a ter ótimos desempenhos. Aí, um bostinha (confundido e mal pago), de uma das rádios da capital, falou que "por mérito de Renato", agora Cristaldo "encaixou" no time gremista.

 

Não vou dar o nome da rádio nem o do honestinho que largou essa pérola (nem adivinhar com que interesse). Quem ouviu sabe quem é. Não discuto as intenções das pessoas. Às vezes, nem elas sabem bem quais são as suas intenções. Só analiso fatos. Aproveito que ainda há um certo grau de liberdade no país: por enquanto posso falar. E o faço com respeito. Apontar a estupidez coletiva não é ofensa pessoal.

 

A direção do Grêmio parece submetida a um mecanismo. Os picaretas da imprensa fazem a cabeça da parcela mais irracional da torcida por meio de um verdadeiro culto à personalidade do técnico; essa parcela idolatra Portaluppi; para agradar essa minoria imbecil da torcida e alimentando uma espécie de populismo, a direção permite que o vestiário, com atletas de alto desempenho, tenha uma condução improvisada. Ou seja, a direção acaba governada pelas "narrativas" da imprensa. O resultado é o Grêmio ir ficando cada vez mais um clube regional. Joga no lixo oportunidades imperdíveis (como o Brasileirão de 2023) e fecha portas quando deveria estar abrindo. A estupidez é ou não é coletiva?

 

E nada vai mudar. Estão todos embriagados com o título de campeão do Ruralito. É urgente a contratação de dois zagueiros e um armador para ao menos ser competitivo na Libertadores, mas o vice de futebol já disse que só na janela do meio do ano vai ver isso. Ou seja, só depois que a água bater na bunda. Aí ele vai, na pressão, comendo na mão do parvo autoconfiante que comanda tudo no clube, fazer as contratações.

 

Enquanto isso... Sabichões da imprensa apontam o título de campeão do Ruralito como feito heroico de Portaluppi (o Invicto). Não lhes passa pela cabeça fazer uma perguntinha bem jornalística: quantos atletas do Juventude (enfrentado na final) poderiam ser titulares do Grêmio?

 

Enquanto isso... Há clubes do país que estão profissionalizando a gestão. Estes são os candidatos aos grandes títulos do futuro. Sendo que o futuro começa nos próximos dias.

 

Enquanto isso... O Grêmio está em rota de ser cada vez mais periferia do futebol brasileiro.

 

Mas, que importa? Há um prazer que não requer esforço nem inteligência, o prazer de rir dos colorados e dizer: "eles não têm título!". Bravo!

 

Parabéns, Grêmio, heptacampeão do Ruralito!

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