Por Facundo Cerúleo
Foi como zebra que, nas oitavas, o Grêmio entrou em campo contra o Bragantino na Copinha, tal era a desvantagem. (1) O grupo do Grêmio é, na média, mais jovem do que o do Bragantino: para categorias de base, faz diferença ter 17 ou 19 anos. No Grêmio tem até de 16. (2) A altura média do Bragantino e a compleição física (até pela diferença de idade) são superiores. (3) Vários atletas, por motivos diversos, desfalcaram o Grêmio. (4) A "coincidência" de haver um juiz que validou um gol do Bragantino em flagrante impedimento.
E deu zebra! O Grêmio suplantou o Bragantino! Como conseguiu? Aliás, tudo indica, parte da crônica nem viu o jogo. E os iluminados que viram, foi outro jogo que viram, não o jogado. Parece mentira, mas tem gente na imprensa que é bastante desmiolada e só conhece duas palavras, "garra" e "sorte", sem a percepção de que o trabalho inteligente, criterioso e disciplinado é que faz a diferença. Mas, vamos lá.
Há pouco mais de um mês o Grêmio contratou Fabiano Daitx para treinar a base. E já se nota o seu trabalho! (1) Sem atletas em número suficiente para a maratona de um jogo a cada 48 horas, é com inteligência que faz um rodízio, poupando jogadores, dosando energia. (2) É visível, ao menos para quem tem mais de 2 neurônios, que a equipe é bem treinada, apesar do pouco tempo. Não, futebol não é um esporte de 11 individualidades, mas um jogo coletivo: o papel do técnico não é distribuir camisas... (3) Guris de 17 anos com autoconfiança, ousadia e aguerrimento, como se tem visto, é o reflexo de um comando profissional e sério. (4) Daitx, até aqui, não estragou o ambiente se queixando da falta de atletas, do pouco tempo para treinar o grupo, das péssimas condições dos gramados na Copinha nem nada. Em vez de fazer "narrativas", ele trabalha!
Dois lances da partida devem ser exaltados para fortalecer a confiança e formar a identidade da equipe. Um foi a cavadinha na cobrança do pênalti por Tiago. Confiança, ousadia, primor técnico: ele é apenas um guri! O outro tem o mesmo peso simbólico, mas sem ele a cavadinha não teria ocorrido. O Bragantino pegou a defesa do Grêmio adiantada: eram três atacantes contra o goleiro. Aí, Luis Eduardo, um zagueiro de 17 anos, Se lançou como uma flecha. Largou com mais de 10 metros de desvantagem mas chegou junto e interceptou o drible no goleiro: impediu o terceiro gol do adversário e permitiu buscar o empate que levou para os pênaltis.
Vieram as quartas de final com o Palmeiras. Mais uma vitória maiúscula. Foi um jogo intenso, duas equipes muito competitivas: o Grêmio mais defensivo tentando neutralizar o adversário. Levou o primeiro gol e teve de mudar, reagiu e chegou a virada ainda na primeira etapa. Tomou o empate mal iniciado o 2º tempo, mas buscou a vitória.
O essencial é isto: havia no banco um técnico que fez a leitura correta do jogo e, dentro de campo, uma equipe que atendeu às suas disposições, com garra e, saliente-se!, com inteligência.
O Grêmio está na semifinal. Vai avançar? Disputará título? Não sei. Mas essas duas partidas foram valiosas para formar a mentalidade de um grupo autoconfiante, "peleador", que não desiste da vitória até o último minuto e que tem a noção de que há uma organização (concebida pelo técnico) a ser seguida com disciplina. Mentalidade profissional! Nada de improviso e nada de fanfarronice. Profissionalismo!
Quero saber o que fará a direção do Grêmio para estragar tudo. Até aqui a direção, para cada lance brilhante, toma uma decisão inqualificável. A contratação de Suárez, por exemplo, teria sido o lance da década. Só que não! A direção contratou um jogador extraclasse, mas colocou um peladeiro no comando técnico da equipe. Suárez já quase desapareceu da lembrança de todos, porque nada restou de sua passagem a não ser a imagem de algumas belas jogadas individuais. Será que a direção vai suportar agora um trabalho que parece estar dando muito certo?
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