Artigo, especial - Alex Pipkin - A Cirurgia Argentina

Alex Pipkin, PhD

E-mail do autor - alex.pipkin@hotmail.com


Conheço bem a Argentina desde sempre. Tive uma equipe de operações que respondia para mim lá e, como muitos brasileiros, aprendi que, para compreender aquele país, é inevitável passar por sua política errática. Todos nós conhecemos, de alguma maneira, o peronismo argentino. Ah, peronismo! Esse populismo que, desde sempre, levou uma economia que já figurou entre as três maiores do mundo a sucessivas depressões alarmantes.

É nesse cenário que Javier Milei surgiu como um terremoto político. Suas políticas não foram desenhadas para agradar, mas para curar. Pelo conhecimento técnico e pela disciplina que imprime, percebo a fibra de um governante disposto a pagar o preço da impopularidade para resgatar um país à beira da falência. Sua coragem em enfrentar a inflação descontrolada, cortar gastos, impor disciplina fiscal e reduzir privilégios foi o gesto de quem compreende que não há saída sem dor.

A metáfora é a de uma cirurgia sem anestesia: dolorosa, sangrenta, mas indispensável para salvar o paciente. Milei entendeu que a Argentina não poderia escapar da ruína sem

esse choque. O que talvez não tenha calculado é que, na sala de operações, o maior risco não vem apenas da resistência do corpo debilitado, mas da infecção que ronda o ambiente. Essa infecção chama-se corrupção.

Rumores envolvendo sua irmã e aliados trouxeram de volta o espectro mais temido da política argentina, isto é, a suspeita de que o novo pode não passar de uma roupagem para o velho. E, como sabemos, onde há fumaça, há fogo. O paradoxo cruel seria que o governo que prometeu curar a doença do peronismo viesse a sucumbir exatamente ao mesmo mal.

O peronismo, afinal, sobrevive há décadas não porque resolva problemas, mas porque os perpetua. Sua fórmula é conhecida: gastar sem lastro, sufocar a iniciativa privada, criar dependência artificial do Estado e enriquecer uma elite que fala em nome dos pobres enquanto saqueia o erário. É o populismo travestido de justiça social, que arruinou gerações e condenou um país promissor à irrelevância econômica.

Milei representou a negação desse ciclo vicioso. Mas se permitir que as suspeitas de corrupção penetrem no coração de seu governo, entregará de bandeja aos peronistas o argumento de que “todos são iguais”. Nada seria mais devastador para a confiança popular do que ver a esperança liberal confundida com o mesmo lamaçal de sempre.

Sim, é verdade. Medidas de austeridade machucam. A população acostumada ao paternalismo resiste ao corte de privilégios. Mas um povo pode suportar o sacrifício quando acredita que há propósito e integridade. O que não se perdoa é a traição; pedir renúncia em nome de um futuro melhor e, ao mesmo tempo, repetir os vícios que jurou eliminar.

O momento argentino é decisivo. Se Milei resistir à infecção, terá a chance de consolidar uma virada histórica. Se falhar, confirmará o diagnóstico mais cruel e conhecido. O de que, na Argentina, até a esperança está condenada a ser corrompida.

4 comentários:

  1. A Argentina assim como o Brasil tem apenas duzentos anos de história. E isto num processo civilizatória e uma pequena infância...e num país como no brasil com uma população europeia negra e índigena.e a Argentina com uma população europeia e indígena a política não funciona....cada mandato de um governante e um novo começo...como Sísifo empurrando a pedra sobra a montanha e a pedra rolando para baixo de novo...de novo..de novo...quantos séculos serão necessários para que este cadinho racial se transforme num amálgama mais uniforme e potencialize a sociedade....

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  2. O "aparecido" logo acima afirmou: "...a Argentina com uma população europeia e indígena a política não funciona..." - Eis aqui uma explicação do mundo baseada em teorias raciais do século passado e retrasado.
    Essa ideia não se sustenta quando nos deparamos com a realidade e com dados estatísticos!
    De acordo com dados do censo argentino de 2010, a população indígena na Argentina é composta por 1,3 milhão de pessoas (2,83% da população).
    Estudos genéticos mais recentes, como um de 2009, indicam que a composição do povo argentino é majoritariamente europeia, representados por 78,50% da população.
    Ou seja, 97% da população é branca, enquanto 3% são ameríndios (que é o equivalente argentino aos descendentes de nativos americanos), mestiços (que é uma mistura de brancos e ameríndios), afro-argentinos e outras etnias não brancas.

    "quantos séculos serão necessários para que este cadinho racial se transforme num amálgama mais uniforme e potencialize a sociedade" - O "aparecido" fecha seus argumentos com mais uma teoria racial.
    As teorias raciais são um conjunto de ideias pseudocientíficas que surgiram no século XIX para justificar a divisão da humanidade em raças biologicamente distintas e hierarquizadas, com a raça branca como superior. Elas foram usadas para legitimar o colonialismo, a escravidão e a segregação, aplicando conceitos como o darwinismo social e a poligenia para afirmar a "inferioridade" de certos grupos raciais.

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    1. Seja o caralho de teoria que for o problema na América latina e que os governos não funcionam...todos querem levarem alguma vantagem com pouco esforço...a sociedade e dividida até a medula...o comunismo não era a solução...veja Cuba e Venezuela....na mais extrema pobreza...

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