Artigo, William Waack - A hora do capitão

Levava um tempão antigamente até que conversas confidenciais envolvendo um presidente e seus principais ministros aparecessem transcritas em algum arquivo. Agora é quase em “real time”. Como sempre, são elucidativas.

A audionovela envolvendo o presidente Jair Bolsonaro e o exonerado ministro da Secretaria-Geral Gustavo Bebianno – um de seus colaboradores mais próximos – confirma um vencedor ainda em clima de campanha eleitoral, totalmente preso ao círculo mais próximo familiar e subordinando temas centrais às rusgas pessoais. Ou seja, Bolsonaro está muito distante ainda de “institucionalizar” seu papel, talvez nunca o consiga.

Ao dar entrevistas comentando a audionovela que ajudou a divulgar (o episódio confirma que não existe lealdade em política), Bebianno forneceu uma importante radiografia do papel dos militares em todas as fases do processo que levou Bolsonaro ao Palácio. Sabe-se publicamente agora que os militares forneceram os planos estratégicos de governo. E os quadros para executá-los. Sem eles, o presidente provavelmente não tem condições de sobreviver no cargo, tal como a situação se coloca agora.

Cabe recordar que a entrada de algumas principais cabeças entre os militares (então fardados ou não) na campanha de Bolsonaro ocorreu de forma relativamente tardia. Deu-se em grande parte por uma leitura angustiada com a possibilidade de o País resvalar para uma situação incontrolável. Esse temor se agravou entre lideranças militares durante a semianarquia da greve dos caminhoneiros. E foi exacerbado pela bagunça institucional no domingo em que Lula saía e ficava na cadeia de hora em hora por causa de uma canetada de um desembargador.

Os líderes militares acolheram Bolsonaro também como instrumento eficaz na “guerra cultural” – os militares usavam a expressão “frear a esquerdização do País” – e como personagem político de apelo à estabilidade e à ordem. Não cabe na cabeça deles um Bolsonaro como agente de caos político, seja pela influência do clã familiar, seja pela dificuldade em impor um sentido e disciplina ao próprio partido pelo qual se elegeu, seja por estapafúrdia ideologia – e às vésperas de seu grande desafio do momento, a reforma da Previdência.

Essa mesma reforma, com o projeto apresentado ontem, vai testar, talvez precocemente (pela confusão política inicial), a “grande estratégia” de juntar a uma onda disruptiva e abrangente (a que levou Bolsonaro à Presidência) os méritos e o preparo de um grupo treinado para administrar e coordenar – coisa que os oficiais-generais aprenderam nas escolas de Estado-Maior. Esse lado eles, os militares, entendem bem. O que os deixa inseguros, pois não têm treino nisso nem experiência direta, é a política.

Bolsonaro pretende agora ser o articulador político dele mesmo. O teste é severo, e muito mais abrangente do que conseguir os 308 votos mínimos necessários na Câmara dos Deputados para aprovar a reforma da Previdência (sem a qual a economia não destrava) e fazer andar o pacote anticrime de Moro (importante medida de sucesso do governo). Requer um jogo de cintura que as hostes esbravejantes em redes sociais confundem com tibieza. E a inevitável colaboração de profissionais (como a do ex-ministro de Dilma agora na função de líder do governo no Senado) que a mesma turma da lacração carimba de “política desprezível”.

Bebianno diz que chamava Bolsonaro sempre de “capitão”. É um título de forte apelo positivo. O capitão do avião, do navio, do time. A figura da autoridade, comando e respeito. Na acepção puramente militar do termo, capitão ainda é um oficial júnior que, por mais brilhante que seja, não tem o sentido de direção e a visão abrangentes dos oficiais superiores.

4 comentários:

  1. O Capitão (historicamente, "Centurião") tem sua relevância por - em todos os exércitos - ser o último posto de comandante que tem contato direto com a tropa. O posto seguinte, de Major, já é de oficial-superior, um tanto afastado das "funções executivas, portanto com menor "popularidade" pois mais voltado ao planejamento.
    A presença junto aos seus subordinados é fator fundamental na aquisição da confiança destes. Não é à toa o prestígio que desfruta o General Santos Cruz entre militares, não só no Brasil como no mundo!

    ResponderExcluir
  2. MEA CULPA
    DEPOIS DE ESBRAVEJAR NO TEU BLOG, POLÍBIO, CONTRA O VERDADEIRO MANICÔMIO EM QUE SE TRANSFORMOU O GOVERNO DO NOSSO CAPITÃO, SINTO QUE É CHEGADA A HORA DE EU FAZER UM MEA CULPA.
    NA VERDADE, HOJE O QUE EU SINTO PELO BOLSONARO É QUE ELE SE TORNOU UMA PESSOA DIGNA DE PENA.
    ELE ME INSPIRA COMPAIXÃO PELO MUITO QUE SONHOU EM VER UMA BRASIL GRANDE E FORTE, LIVRE DA CORRUPÇÃO, LIVRE DOS MAUS POLÍTICOS E SEGUINDO EM FRENTE.
    MAS ELE SABE, PORQUE JÁ SENTIU, O PESO GIGANTESCO QUE SE ABATE SOBRE SEUS OMBROS, DE GOVERNAR UMA NAÇÃO TÃO GRANDE E COM ENORMES PROBLEMAS.
    TENHO PENA DO BOLSONARO.
    NA CAMPANHA BRADAVA QUE IA PRENDER E ARREBENTAR, QUE IA DAR 6 HORAS PARA EVACUAR A ROCINHA E, FINDO ESSE PRAZO, IA METRALHAR TUDO.
    DISSE MAIS: FICHA SUJA NO MEU GOVERNO NÃO ENTRA! E SE EU DESCOBRIR, CAI FORA NA HORA, COM ESSA CANETA BIC AQUI!
    POIS O NOSSO VALENTE CAPITÃO, CHEIO DE VALOROSAS INTENÇÕES ACABA DE SE ENTREGAR- NADA MAIS, NADA MENOS- PARA O SENADOR FERNANDO BEZERRA COELHO, DA TROPA DE CHOQUE DO CANGACEIRO RENAN CALHEIROS!
    TENHO MUITA PENA DO BOLSONARO.
    JÁ VIU, JÁ SENTIU, E JÁ RECUOU, AO NOMEAR COMO SEU LÍDER DO GOVERNO NO SENADO, UM POLÍTICO SUJO,DO MDB- COM 5 INQUÉRITOS NO STF, TRAMITANDO. ENQUANTO A CANETA DO NOSSO CAPITÃO CONTINUA NO BOLSO.
    TENHO MUITA PENA DO BOLSONARO, E IMAGINO COMO ELE ESTÁ SE SENTINDO, AO CONSTATAR QUE AO SEU REDOR, NÃO TINHA NINGUÉM MELHOR DO QUE UM PROFISSIONAL DA POLÍTICA LIGADO UMBELICALMENTE AO RENAN CALHEIROS. SERÁ QUE OS TAIS 60-70 VOTOS QUE NOSSO GENERAL MOURÃO DISSE QUE ERA PRECISO GARIMPAR ESTÃO NO BOLSO DO SENADOR FERNANDO BEZERRA COELHO E DO RENAN CALHEIROS?
    E QUAL SERÁ O PREÇO QUE ESSE PROFISSIONAL DA POLÍTICA ESTÁ COBRANDO DO POBRE CAPITÃO BOLSONARO PARA LIDERAR SEU GOVERNO NO SENADO?
    TENHO AINDA MUITA PENA DO POBRE BOLSONARO.
    GRITOU, ESBRAVEJOU, MAS ACABOU MANSAMENTE CAINDO NAS MÃOS JUSTAMENTE DAQUELA VELHA POLÍTICA QUE SE PROPÔS COMBATER.
    É, MEU CARO POLÍBIO.
    O SENTIMENTO DE PENA QUE O CAPITÃO BOLSONARO ME INSPIRA, ME FEZ LEMBRAR DO OUTRO PROFISSIONAL, EUNÍCIO OLIVEIRA.
    QUANDO O BOLSONARO FOI ELEITO ELE DISSE:
    "-ESSA TURMA DO WHATSAPP PENSA QUE CHEGOU AO GOVERNO E QUE VAI CONTINUAR GOVERNANDO ATRAVÉS DO FACEBOOK.
    QUANDO CHEGAREM AQUI( NO GOVERNO) ELES VÃO VER QUE NÃO É BEM ASSIM COMO ESTÃO PENSANDO. AQUI NO CONGRESSO É POLÍTICA PARA PROFISSIONAIS E NÃO AMADORES DO WHATSAPP. NÃO SE GOVERNA O BRASIL COM REDES DE WHATSAPP!
    INFELIZMENTE E, DOLOROSAMENTE, O EUNÍCIO DE OLIVEIRA FALOU UMA VERDADE. FRATERNAL ABRAÇO POLÍBIO. VAMOS EM FRENTE, FAZENDO A NOSSA PARTE. QUE DEUS ILUMINE O BRASIL.

    ResponderExcluir
  3. Muito bom texto e os seus conteúdos...parabéns.
    É a real e tomara que o Brasil tome novos rumos.
    Abraço

    ResponderExcluir
  4. Não tenho pena do Bolsonaro!
    Está fazendo o seu trabalho apesar dos apesares, e nada vejo que o denigre.

    ResponderExcluir