Artigo, Fábio Jacques - A coisa está passando dos limites

Rodrigo Maia, presidente da câmara dos deputados e conhecido como Botafogo nas planilhas da Odebrecht vem, já de algum tempo, fazendo sistemáticos ataques ao governo Bolsonaro.
Demonstra estar desesperado e isto já desde antes da prisão de seu sogro emprestado.
O ataque ao ministro Sérgio Moro que simplesmente pediu publicamente que o pacote anticrime transitasse junto com a PEC da previdência, chamando-o de funcionário do Bolsonaro e copiador de um projeto que “ele, Maia” tinha pedido ao ministro do STF Alexandre de Morais e que até agora não foi sequer pautado na câmara, demonstra claramente a megalomania que está corporificada na presidência da casa. “Moro que fale com o Bolsonaro e o Bolsonaro que fale comigo”.
Ontem, 22 de março, Maia ataca o próprio Bolsonaro dizendo literalmente em entrevista à TV Globo: "Ele [Bolsonaro] precisa ter um engajamento maior. Ele precisa ter mais tempo pra cuidar da Previdência e menos tempo cuidando do Twitter, porque, se não, a reforma não vai andar.
O Estado é, ou deveria ser, formado por três poderes: Executivo, Legislativo e Judiciário. É isto que diz a constituição federal pelo menos em teoria, porque hoje, o Judiciário já está assumindo a função de legislador no lugar do parlamento o qual cada dia se torna mais obsoleto e desnecessário.
A quem interessam o Pacote Anticrime e a Reforma da Previdência? Segundo Maia, ao Bolsonaro. E o que Bolsonaro tem que fazer para que estes projetos que “lhe interessam” sejam aprovados? “Articular”.
Bolsonaro não “articula”. Escolheu seu ministério e praticamente todo o primeiro escalão entre pessoas que, pelo menos segundo seu próprio critério, tivessem capacidade técnica para exercer as funções exigidas pelos cargos assim como reputação ilibada. Isto já queimou seu filme junto aos partidos políticos acostumados a ganhar ministérios e estatais de porteiras fechadas.
A grita contra a falta de “articulação” continuou no parlamento forçando o governo a decidir por aceitar indicações dos partidos, não sem antes impor algumas condições através do decreto 9.727 que estabelece as regras para contratação de cargos em comissão do Grupo-Direção e Assessoramento Superiores – DAS, os mais importantes dentro da administração pública:
             idoneidade moral e reputação ilibada;
             perfil profissional ou formação acadêmica compatível com o cargo ou a função para o qual tenha sido indicado;
             não enquadramento nas hipóteses de inelegibilidade previstas no inciso I do caput do art. 1º da Lei Complementar nº 64, de 18 de maio de 1990.
Danou-se.
Bolsonaro, realmente, não sabe o que é “articular”. Impôs regras que praticamente impedem à maioria dos partidos encontrar entre seus membros, pessoas que atendam às exigências do decreto.
Maia quer que Bolsonaro “articule”. Mas o que ele entende por “articular”?
É a abertura dos cofres públicos aos rapineiros de plantão. Maia é a corporificação do toma-lá-dá-cá. Por isso está tão irritado com o governo.
Com estas regras criadas por Bolsonaro, Maia não consegue convencer nenhum parlamentar a votar o Pacote Anticrime que atinge diretamente o coração do parlamento, e nem a PEC da Previdência que igualmente ataca os fantásticos privilégios auto atribuídos pelos membros da casa.
Não tendo moeda de troca, aqui no sentido literal, Maia perde toda a liderança conquistada através de “articulações” em seu mandato anterior, e abdica da sua função de legislador jogando-a nas costas do Bolsonaro.
Afinal, a quem interessam o Pacote e a PEC? Ao país parece que não. O futuro da nação que se exploda. O que importa é “articular”.
O Amigo Lula “articulou”, o Sem Medo Temer “articulou”, o sogro Angorá Moreira Franco “articulou”, o Caranguejo Cunha “articulou”. E todos estes mestres articuladores estão tendo a rara experiência de ver a super lua nascer quadrada.
O que está em jogo nada mais é que o futuro da nação brasileira. É muito sério. Sério demais para ser posto em risco por joguinhos entre “articuladores”.
Por muito menos aconteceu o 31 de março.
O autor é diretor da FJacques - Gestão através de Ideias Atratoras, Porto Alegre, e autor do livro “Quando a empresa se torna Azul – O poder das grandes Ideias”.
www.fjacques.com.br -  fabio@fjacques.com.br

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