Presidente afirmou que vai defender que a exploração das
terras independa de laudos ambientais ou da Funai, e tenha apenas a
concordância dos povos
Bolsonaro durante cantata de Páscoa: presidente também
afirmou que irá acabar com a transferência de parte das multas ambientais para
ONGs (Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil)
Brasília – O presidente Jair Bolsonaro afirmou nesta
quarta-feira que o governo irá trabalhar para permitir que os indígenas possam
explorar economicamente suas terras e chamou de “picaretas” ONGs internacionais
que, segundo ele, “escravizam” os indígenas.
“Não justifica viver nessa situação (de pobreza) com a
riqueza que vocês têm. A decisão tem que ser de vocês, sem intermediários. Vai
depender do Parlamento, mas a gente vai buscar leis para mudar isso”, disse
Bolsonaro ao lado de lideranças indígenas.
Os líderes de etnias como Pareci, Ianomami e outras,
foram trazidas ao Planalto pelo secretário de Assuntos Fundiários do Ministério
da Agricultura, Nabhan Garcia, pecuarista e com um histórico de conflitos com
indígenas. O secretário, que já defendeu a reversão de demarcação de terras
indígenas, chegou a declarar que os índios são hoje os maiores latifundiários
do país.
“Alguns querem que vocês fiquem dentro da terra indígena
como se fossem um animal pré-histórico. Vocês são seres humanos e o Brasil
precisa de todo mundo unido”, afirmou Bolsonaro. “Vocês têm terra, bastante
terra, vamos usar essa terra. Vão continuar sendo pobre, sendo escravizados por
ONGs, por deputado, senador que não tem compromisso com vocês, que usam vocês
para se dar bem?”
Em mais de um momento, Bolsonaro afirmou que vai defender
que a exploração das terras independa de laudos ambientais ou da Funai, e tenha
apenas a concordância dos povos. E chegou a dizer que a Fundação Nacional do
Índio (Funai) teria que fazer o que os indígenas quisessem, ou ele demitiria
toda a diretoria.
Voltou a dizer, ainda, que irá acabar com a transferência
de parte das multas ambientais para ONGs, a quem acusa de querer escravizar os
indígenas.
“Estamos aqui conversando diretamente com os
interessados. Não tem intermediário nesse governo. Não tem ONG, não tem falsos
brasileiros, falsos defensores de índios pra vir perturbar a gente aqui não.
Vamos apresentar propostas ao Parlamento brasileiro, que é soberano para
decidir essas questões”, disse. “E, se Deus quiser, nós vamos tirar o índio da
escravidão, escravidão de péssimos brasileiros e de ONGs, em especial as
internacionais.”
Ao comentar a questão da terra dos Ianomamis, o
presidente acrescentou que as ONGs só se preocupavam com as terras porque são
ricas.
“Se fosse terra pobre não tinha ninguém. Como é rica tem
esses picaretas internacionais, picaretas dentro do Brasil e picaretas dentro
do próprio governo dizendo que estão defendendo vocês”, afirmou.
Desde a campanha eleitoral Bolsonaro defende a exploração
das terras indígenas, tanto agrícola quanto mineral, inclusive com garimpo. A
posição do presidente foi questionada por ONGs, brasileiras e internacionais, e
por indigenistas. Até agora o governo não enviou nenhuma proposta de mudança de
legislação ao Congresso.
No mesmo dia em que o presidente recebeu os líderes
indígenas, o governo autorizou o uso da Força Nacional de Segurança por 33 dias
na Esplanada dos Ministérios como medida preventiva pela possibilidade de
protestos de indígenas na próxima semana.
Para marcar o Dia do Índio, que é, na verdade, na
sexta-feira, está marcado para a próxima semana em Brasília o Acampamento Terra
Livre, um encontro de comunidades indígenas.
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