Começa
neste domingo o Sínodo dos Bispos para a Região Pan-Amazônica, que está sob crivo da ala conservadora do clero e dos fiéis católicos, mas também é
motivo de preocupação no governo Bolsonaro por envolver ataques que a Igreja Católica faz ao Planalto.
Durante três semanas, sacerdotes do mundo inteiro se
reunirão no Vaticano para discutir novas formas de evangelizar os povos
indígenas e de reforçar a presença da Igreja Católica. Além disso, a assembleia de bispos deve produzir um
discurso contundente em defesa da natureza, em linha com a encíclica
"Louvado seja", a primeira exclusiva do papa Francisco e a primeira
na história dedicada a temas ambientais. Além de consolidar a imagem de Jorge Bergoglio como
ativista contra as mudanças climáticas, especialmente por seus efeitos nas
periferias do mundo, o Sínodo deve manter os olhos do mundo voltados para a
Amazônia.
No início do ano, o ministro do Gabinete de Segurança
Institucional (GSI), Augusto Heleno, reconheceu que o governo estava
"preocupado" com o Sínodo por temer interferências do Vaticano em
assuntos internos, mas a Igreja vem buscando manter as pontes com o Planalto.
Bolsonaro recebeu na última quarta o núncio
apostólico (espécie de embaixador) no Brasil, Giovanni d'Aniello, e o cardeal
Cláudio Hummes, amigo pessoal do Papa e relator do Sínodo, disse nesta quinta que a soberania brasileira na Amazônia "não está em discussão". Apesar disso, Francisco fez questão de afirmar no mesmo
dia que considera as queimadas na floresta "um problema mundial". O
Sínodo foi convocado em outubro de 2017, um ano antes de Bolsonaro ser eleito
presidente.
Conservadores
O discurso climático de Francisco não preocupa apenas
governos, mas também fomentou uma oposição feroz nas alas mais conservadoras do
clero, capitaneadas pelo cardeal americano Raymond Burke.
Após ter insinuado que Jorge Bergoglio é
"herege", Burke e o bispo cazaque Athanasius Schneider convocaram 40
dias de jejum contra as supostas "heresias" contidas no documento
preparatório do Sínodo.
Um dos pontos questionados é a discussão de uma proposta
que prevê a ordenação de homens casados, preferivelmente indígenas, como padres
na Amazônia, que sofre com a escassez de sacerdotes.
Para Burke e Schneider, esses homens seriam o equivalente
a "padres de segunda classe capazes de realizar rituais xamânicos".
Além disso, acusam o documento preparatório de promover um "panteísmo
implícito" ao sugerir que Deus e a natureza são uma coisa só e de
"relativizar a antropologia cristã" ao considerar o homem um
"mero elo na cadeia ecológica".
Mas o cerne da oposição ao Sínodo está ligado a uma ideia
que permeia forças de extrema direita no mundo todo: o ceticismo em relação ao
aquecimento global. Em sua convocação do jejum, Burke e Schneider criticam a
"crença de que o progresso tecnológico está ligado ao pecado".
Antes disso, o cardeal alemão Walter Brandmuller já havia
acusado o instrumentum laboris do Sínodo de fazer uma "agressiva
intrusão" em "assuntos puramente mundanos do Estado e da sociedade do
Brasil".
Apesar do foco no maior país da América do Sul, o Sínodo
também dará destaque às outras oito nações da Amazônia: Bolívia, Colômbia,
Equador, Guiana, Guiana Francesa (território pertencente à França) Peru,
Suriname e Venezuela.
Essa será a quarta assembleia sinodal do pontificado de
Francisco. Duas delas - uma extraordinária, em 2014, e outra ordinária, em 2015
- foram dedicadas à família, enquanto uma terceira, em 2018, tratou de temas
ligados à juventude.
A falta que faz Sebastião José de Carvalho e Mello, mais conhecido como marquês de Pombal.
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