Artigo, Fábio Jacques - Uma questão matemática

“A taxa de desemprego aumentou de 14,0% em setembro para 14,1% em outubro, maior resultado da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Covid (Pnad Covid-19) mensal, iniciada em maio pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Em outubro, a população ocupada totalizou 84,134 milhões de pessoas, um aumento de 1,4% em relação aos 82,934 milhões em setembro, 1,2 milhão de vagas a mais. No entanto, o total de ocupados ainda não retomou o patamar de maio, quando somava 84,404 milhões de pessoas”.

Deixa ver se consigo entender: o número de empregados aumentou 1,2 milhão e a taxa de desemprego também aumentou? Se havia 82,934 milhões de desempregados em setembro e em outubro, 84,134 milhões, como foi que o percentual piorou?

Pode, logicamente, ter aumentado o número de pessoas que procuraram um emprego com carteira assinada, mas estas pessoas surgiram do nada em apenas um mês? Já não estavam desempregadas em setembro?

Esta notícia, para mim, é simplesmente maldosa. Contradiz qualquer lógica.É simplesmente ideológica.

Suponhamos  absurdamente que, em função da pandemia, tivesse ocorrido uma catástrofe terrível entre o grupo de desempregados e, desgraçadamente tivessem morrido 5 milhões de pessoas. Seria justo considerar que o nível de desemprego tivesse melhorado fantasticamente mesmo que o número de empregados se mantivesse inalterado?

A notícia original tem um triste viés ideológico. Salientaro aumento percentualdo desemprego, leva o leitor a pensar em políticas públicas mal sucedidas, no momento que 1,2 milhão de pessoas soma-se ao contingente de empregados, nada mais é do que um sujo jogo ideológico.

O país teve, em um mês, o maior aumento do número de empregados de sua história, e a notícia salienta que o índice de desemprego também passou a ser o pior da história.

Alguém pode me dizer para quê servem estas estatísticas se não reproduzem a realidade? Não seria mais decente dizer claramente que, ao mesmo tempo que 1,2 milhão de pessoas conseguiram um emprego com carteira assinada, 1,5 milhão de “novas” pessoas que não estavam procurando emprego em setembro, resolveram se inscrever para também conseguir uma vaga em outubro?

Pobre deste país em que a narrativa se tornou muito mais importante que o fato. O que importa é conseguir atribuir alguma culpa ao governo, mesmo que subliminarmente. Mesmo manipulando a matemática. Nesta guerra ideológica, vale tudo.

Lamentável.

Fabio Freitas Jacques. Engenheiro e consultor empresarial, Diretor da FJacques – Gestão através de Ideias Atratoras e autor do livro “Quando a empresa se torna azul – o poder das grandes ideias”.


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