Reduzir substancialmente os números de homicídios e de casos de corrupção em um país da América Latina se constitui em excepcionalidade.
Por ter conseguido este feito é que Nayib Bukele foi reconduzido neste domingo, 4, à presidência de El Salvador. Numa vitória tão folgada que, quando decorria 70% da apuração, ele já bradou que teria 85% dos votos. A vitória é mais significativa porque representa uma rotunda derrota para Frente Farabundo Marti de Libertação Nacional, movimento de esquerda radical, que ajudou a mergulhar o país numa guerra civil que se prolongou por 12 anos, de 1980 a 1992, com a morte de mais de 75 mil pessoas. Já para a Assembleia, o partido de Bukele, Novas Ideias, teria conseguido 58 das 60 cadeiras.
Bukele, que está com 42 anos, se tornou imensamente popular por ter conseguido, durante seu governo, rebaixar ao mínimo os homicídios e extorsões. Fazendo com que o país deixasse de ser, de súbito, um dos mais perigosos do mundo. Derrubou as amarras que impediam o Estado de combater o crime, construiu prisões, equipou e treinou a polícia e colocou os criminosos na cadeia. Conseguiu desarticular as organizações que havia décadas aterrorizavam a população. Não faltaram, evidentemente, as organizações de direitos humanos para denunciar a política de mão dura que fora posta em prática, violando alguns dos direitos fundamentais dos cidadãos. É dito que no Cecot, a prisão de segurança máxima construída para receber supostos terroristas, se entra com facilidade, mas, é quase impossível sair.
A votação obtida por Bukele em sua reeleição é vista como um aval dado pela população para as suas ações de combate ao crime. Os salvadorenhos ouvem queixas de familiares de detidos e são conscientes de que são cometidos alguns excessos, mas consideram que este é o preço a pagar no combate ao crime organizado. A certeza que têm é de que já não há mais um quadrilheiro na porta de sua casa para lhes extorquir. E de que agora conseguem circular tranquilamente por certos bairros onde, até poucos anos atrás, era impossível. Em coletiva de imprensa após a vitória, Bukele disse que “El Salvador tinha um câncer com metástase. Tinha 85% de seu território dominado pelas quadrilhas. Fizemos a cirurgia, o tratamento, a quimioterapia e saímos sãos, sem o câncer das quadrilhas. Acabamos com aqueles que estavam nos matando. E o que vem agora é um período de prosperidade”. O que é enfatizado pelos apoiadores de Bukele, dizendo que ele começou governando o país mais violento do mundo e agora o tornou o mais seguro. O objetivo, dizem, é chegar aos números do Canadá. Sob o governo Bukele, El Salvador passou, de fato, a ser um dos países que mais prende no mundo. A taxa de homicídios, que girava acima dos 100 a cada 100 mil habitantes em meados da última década, caiu para 2,4 a cada 100 mil no ano passado.
O curioso é que Bukele já foi membro da Frente Farabundo Marti de Libertação Nacional. Isto se deu porque seu pai, Armando Bukele, um empresário da origem palestina, já falecido, possuía uma empresa de comunicação que assessorava a Frente. O jovem Nayib, com 31 anos, como candidato da Frente, foi eleito, em 2012, para governar um pequeno povoado, Nuevo Cuscatlán, de 6 mil habitantes, situado nos arredores da capital, San Salvador. Em 2015, se elegeu para a Prefeitura de San Salvador. Quando tentou se alçar à presidência, foi impedido pelo partido. Foi então que mudou seu discurso, criou seu próprio partido, definiu uma política revolucionária de combate ao crime e venceu a eleição presidencial de 2019.
Um dos fatos mais marcantes nas atitudes ostensivas de Bukele, ocorreu em fevereiro de 2020, quando mandou militares e policiais rodearem o Parlamento, onde se encontravam 28 deputados. O assunto em pauta era um projeto do governo para combater as gangues. Consta que Bukele entrou no prédio, foi até a mesa diretiva dos trabalhos, sentou-se na cadeira reservada ao presidente e afirmou: “Agora acho que está muito claro quem tem o controle da situação”, disse ele diante de parlamentares estupefatos. Essa mistura de populismo e defesa da mão forte do Estado, com certos desvios da lei e da democracia, levaram Bukele, que saiu de um personagem de esquerda a um símbolo da direita, a ser considerado, segundo o Latinobarômetro 2023, o presidente mais popular da América Latina.
"Bukele se tornou imensamente popular por ter conseguido, durante seu governo, rebaixar ao mínimo os homicídios e extorsões. Conseguiu desarticular organizações que havia décadas aterrorizavam a população."
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