Artigo, Renato Santana, exclusivo - Jornalismo de gotejamento

Renato Sant'Ana é Advogado e Psicólogo.

E-mail:  sentinela.rs@outlook.com


 A coluna do jornalista Rodrigo Lopes em Zero Hora que me foi enviada por uma leitora serve só para disseminar confusão e obscurantismo. Intitulada "O exemplo argentino", começa por uma afirmação falsa e diz: "Enquanto o Brasil prefere esquecer o passado - e, por consequência, repetir os erros -, a Argentina lembra, no ano que vem [2025], os 40 anos do julgamento contra os membros das três juntas militares da última ditadura (...)".


Não, o Brasil não esquece. É o contrário. Como quem cumpre um rito religioso, todo dia fala-se do passado, quer dizer, do regime militar. Mas há que ver como e para que fim é feita a "narrativa".


Nosso conhecido Fernando Gabeira, quando jovem, foi um extremista de esquerda e militante do grupo terrorista MR-8. Inclusive, em seu livro "O que é isso, companheiro?", relata sua participação no sequestro do embaixador americano Charles Elbrick, em 1969. Na maturidade, Gabeira foi honesto e corajoso declarando o óbvio: disse que eles (os militantes de esquerda nos anos 1960-70) não lutavam por democracia; o que eles queriam era implantar uma ditadura comunista no Brasil. Ou seja, o que eles queriam era dar um golpe de Estado - pelas armas!


Contudo, contrariando o que diz Gabeira, a imprensa vive a gotejar desinformação, quase sempre no escurinho das entrelinhas (aliás, padrão de Zero Hora), mantendo a mentira de que os militantes que pegaram em armas nos anos 1960-70 defendiam a democracia. Nada mais falso!


Também é falso dizer que foi em reação ao governo militar que a esquerda pegou em armas. Ela já estava armada bem antes da quartelada do 31 de março de 1964, que só ocorreu porque havia vários grupos (nas cidades e no campo) armados e agindo para implantar o totalitarismo no país, uns a serviço da China, outros da União Soviética (muitos treinados em Cuba).


Brasil e Argentina são diferentes. Na transição do regime militar para o regime civil, o Brasil fez uma escolha, isto é, uma anistia geral, assim para os agentes do regime como para os extremistas armados. Só que o grosso de nossa imprensa ignora que "anistia" (do grego "amnestia") significa "esquecimento". E com flagrante parcialidade se cala sobre o passado dos seus favoritos e aponta um dedo acusador para os outros.


Durante décadas, a esquerda praticou muitos crimes no Brasil: sequestro de autoridades; atentados a bomba; assalto a bancos, a casas comerciais e a residências; assassinatos de operários, militares, funcionários de bancos e, claro, dos próprios camaradas (os infames justiçamentos) - os maus também são maus entre si. Com a anistia, todos esses crimes foram esquecidos. E alguns dos anistiados estão aí na política, ainda hoje.


Mas a imprensa esquece apenas os crimes da esquerda; e pede punição para os agentes estatais. Nem vou comentar a farsa que foi a tal Comissão da Verdade engendrada no 1º mandato de Dilma Rousseff.


A coluna de Rodrigo Lopes (ocasionalmente assinada por Vitor Netto), com mais equívocos que parágrafos, culmina afirmando que a Argentina, "do ponto de vista de maturidade política, dá um banho no Brasil." Bobagem! Talvez o articulista não conheça a Argentina. E não saberá como o país, que já foi referência mundial de riqueza, cultura e elegância, acabou virando um "case" de retrocesso. Mas ele cumpre o seu papel de gotejar, gotejar, gotejar preconceitos e fazer a cabeça do leitor mais afoito, infundindo crenças (falsas!) que bloqueiam o conhecimento.


À parte de suas reais intenções (que não posso adivinhar), o articulista é, na prática, só mais um a fomentar uma polarização rancorosa e de fundo ideológico, ignorando a perspectiva histórica, sacralizando um lado, demonizando o outro e impondo uma ótica parcial. A gravidade da coisa está em forjar um verniz de legitimidade para o revanchismo e para a vingança política, matando a ideia de reconciliação nacional.


Só para constar, a coluna de Rodrigo Lopes saiu há mais de mês. Mas eu a li somente agora, quando me foi remetida por uma leitora. É que eu, já de algum tempo, não consumo nenhum produto da RBS.


 




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