Era com irreverência que dizia um gaúcho da campanha: galinhas comem milho;
nunca se viu uma galinha de óculos; logo, milho faz bem aos olhos.
Tem lógica? Não! Como brincadeira vale, mas nem silogismo é. No entanto,
equivale ao simulacro de lógica dos senadores que, como no vídeo que me enviam
com a fala do Sen. Paulo Rocha ( PT-PA), tentaram inutilmente emparedar o
ministro Sergio Moro na audiência da CCJ.
Traduzidas em linguagem civilizada, as grosserias de suas excelências ficam
assim: o juiz Moro ganhou muita notoriedade com os julgamentos da Operação Lava
Jato, tornando-se um ídolo nacional. É a premissa. E a conclusão vigarista: foi
para fazer sensacionalismo e ficar famoso que Sergio Moro condenou Lula et
caterva. (Não só o PT , mas vários partidos têm representantes na cadeia.)
Sem decoro, Paulo Rocha foi além: "A Lava Jato tinha como norte principal
ganhar o apoio popular por meio do sensacionalismo." Mas qual é a base
fática para tal acusação? A quem se destina a sua fala? Pretenderia convencer
os seus pares? Influenciar futuras decisões dos tribunais superiores em favor
de seu chefe (Lula)?
Esses senhores, que só sabem fazer "política de poder" (e o Brasil
que se exploda!), estavam pregando para os convertidos de modo a manter-lhes a
fé, a fidelidade e a militância.
Por sinal, muitos deles pertencem à elite partidária que move os cordéis da
militância fanática como num teatro de fantoches. Na pantomima da CCJ, faziam
afirmações estapafúrdias sem explicitar fundamentos, afinal a substância do
fanatismo é "crença", não "conhecimento", sem lógica nem
raízes na realidade, tanto faz se é o fanatismo do religioso, do torcedor no
futebol ou do militante ideológico.
Pois foi para mentes fanatizadas, de raciocínio emperrado e com a inabalável
convicção dos que carecem de conhecimento, que o petista Paulo Rocha, em ataque
ao Judiciário, ao Ministério Público e à Polícia Federal, teve o peito de
dizer: "Quebraram inclusive nossas multinacionais para entregar ao
capital." Que belo sofisma...
Mas quem quebrou: a quadrilha que desviou BILHÕES da Petrobras e doutras
estatais, ou a força-tarefa que deteve essa récua de ladravazes?
Ora, só um maluco daria ouvidos à dona do bordel que recomenda castidade. Na
mesma medida, ninguém honesto e lúcido leva a sério o discurso puritano de uns
quantos senadores enredados em processos criminais. Nem a fanfarronice dos que
simplesmente estão a defender criminosos presos por corrupção, os quais ,
contando com os melhores advogados, tiveram julgamento com todas as garantias
processuais.
Não, a Força-Tarefa da Lava Jato não é uma congregação de vestais. E não está
imune a críticas. Só que, nessa história, são duas as verdades que gritam ao
observador atento. Uma é que todos (todos!) os atos da Lava Jato são submetidos
a instâncias superiores, o que é garantia de lisura. Outra é haver um esforço
dos tais senadores - assim como de muitos deputados, da "extrema
imprensa", etc. - por desmoralizar a Lava Jato e manter o Brasil refém dos
corruptos organizados.
O
momento é delicado. Mas é preciso ter em vista o lado positivo da coisa. Em
2013, foi a voz das ruas - nada de intelectuais, políticos ou qualquer espécie
de cacique -, sim, foram brasileiros nas ruas que provocaram a fantástica
mudança de rumo que salvou o Brasil de uma ditadura igual à da Venezuela.
Claro, a obra está longe de ser concluída. É preciso, pois, manter o ímpeto de
2013.
Renato Sant'Ana é Advogado e Psicólogo.
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