Carta da Farsul

 Porto Alegre, 27 de dezembro de 2021

Ilmo Sr.


CLAUDIO TOIGO FILHO


CEO do Grupo RBS


Nesta Capital



Prezado Senhor:



          A democracia e a liberdade são pilares fundamentais da civilização Ocidental que ao longo dos 94 anos de sua existência a Farsul valorizou, defendeu e propagou. Nada é mais importante para um homem do que a sua liberdade de expressão e pensamento. Exatamente sobre esses valores individuais é que constituímos nosso modo de pensar e fazer imprensa.

Mas para o livre e pleno exercício dessa garantia constitucional por todos os brasileiros, maior ainda é a importância da responsabilidade do seu exercício, sobretudo pela própria imprensa. Vivemos tempos de “fake news”, onde a verdade e a mentira se entrelaçam e confundem as pessoas, tornando o papel do bom jornalismo ainda mais relevante, fundamental e insubstituível, como única saída para esse mal que corrói as instituições democráticas e que cria falsos bandidos e heróis, além das “fake news” terem se demonstrado instrumentos capazes de espalhar ódio em escala industrial.


          É justamente por esse relevante desafio que enfrenta o jornalismo contemporâneo, de se colocar em ambiente de livre circulação de informações e entregar a realidade dos fatos, é que recebemos com profunda preocupação e indignação a edição do dia 24 de Dezembro de 2021, onde o chargista Gilmar Fraga, se utiliza de um assunto sério e caro para todos os brasileiros de forma odiosa, preconceituosa e exercendo um papel mais alinhado com os dos grupos extremistas de WhatsApp do que aquele que se espera do jornalismo. Aliás, não é a primeira vez.


          O desmatamento da Amazônia é assunto tão sério quanto complexo, pois os danos ambientais prejudicam o regime de chuvas que, por sua vez, gera perdas enormes para os próprios pecuaristas. Complexo, pois as causas que motivam os crimes são múltiplas, mas nenhuma delas tem a ver com os verdadeiros pecuaristas, que além de vítimas dos danos ambientais, sofrem também com a concorrência desleal.



          A sabedoria popular nos ensina que toda a generalização, como a unanimidade retratada por Nelson Rodrigues, é burra. É também uma demonstração inequívoca de imaturidade. Retratar os pecuaristas brasileiros como desmatadores da Amazônia e imputar a esses produtores um crime é algo sério, que merece nossa indignação. Além do dano à imagem desses brasileiros perante seus compatriotas, é também uma irresponsabilidade do ponto de vista comercial, já que o Brasil é o maior exportador de carne bovina do mundo, vende para quase 190 países e gera mais de R$ 150 Bilhões.


          Que o jornalismo da Zero Hora, em todas as editorias, assuma a responsabilidade que o jornalismo globalmente assumiu, de ser um contraponto às “fake News” e não um disseminador. Que a moderação, o equilíbrio e a responsabilidade sejam a antítese do desejo de expressar seu ódio e preconceito contra pessoas, segmentos ou grupos os quais não se gosta.

          Atenciosamente,


                                              

Gedeão Silveira Pereira

         Presidente 


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