Artigo, Eugênio Esber, Zero Hora - Vidas suspensas

 Artigo, Eugênio Esber, Zero Hora - Vidas suspensas

Com este título, a revista semanal Oeste apresentou a seus leitores, na edição do dia 10 de fevereiro, a situação de homens e mulheres que foram presos em Brasília pelos atos de invasão e vandalismo perpetrados contra as sedes dos três poderes da República no lamentável e enigmático domingo de 8 de janeiro de 2023. Assinado por Augusto Nunes, ex-diretor de redação de Zero Hora, Veja, O Estado de S. Paulo e outras publicações brasileiras, em coautoria com o jornalista Cristyan Costa, Vidas Suspensas é um texto que produz em quem lê a sensação de caminhar descalço sobre cacos de vidro. Não se chega ao final do percurso incólume. A esperança em nossas instituições não para em pé.


Desde os primeiros dias, quando foram amontoados em condições degradantes e indignas, os presos e presas, entre eles idosos e, inclusive, crianças, receberam um tratamento de párias. Às queixas de que faltava alimento, água e higiene para a maior multidão já detida em uma única operação, o ministro do STF, Alexandre de Moraes, saiu-se com esta – “Prisão não é colônia de férias”. As conhecidas vozes que defendem os direitos humanos em socorro a criminosos condenados por tráfico ou homicídio silenciaram, compondo a mais estridente exaltação do cinismo. De resto, o que se viu foi uma sucessão de arbitrariedades tão comuns desde que o STF abriu seus procedimentos inquisitoriais, em 2019 – a polícia federal prendendo de baciada, advogados sem acesso a clientes, e nem mesmo a realização de audiência de custódia – garantia dada por lei a todo preso em flagrante de que será levado à presença de um juiz em 24 horas.



São inocentes? Muitos, a maioria, provavelmente sejam, mas a participação real de cada um nas depredações e badernas – seja vovô, vovó, tia, sobrinha, neto – deve ser investigado dentro do princípio de individualização das condutas, tudo apurado dentro do “devido processo legal”, este preceito que já socorreu até mesmo condenados em três instâncias do Poder Judiciário, como o atual presidente da República. Neste processo, evidentemente há bandidos a encontrar e responsabilizar, e isso é do interesse de todos, principalmente de quem é inocente e está sendo chamado de “golpista” ou “terrorista” sem razão objetiva que o justifique.


Sobre golpe e terrorismo, ajudaria muito ao país que o Congresso Nacional instalasse uma Comissão Mista Parlamentar de Inquérito com amplo e irrestrito acesso a todos os elementos de prova para que saibamos quem, por ação e por omissão, deu causa ou deu escala aos acontecimentos de 8 de janeiro. Talvez uma CPMI, assim chamada por reunir um Senado governista e uma Câmara mais independente, tenha força para apurar responsabilidades de criminosos de dentro e de fora do poder, levantando o véu que encobre, por exemplo, a divulgação de imagens de vídeo no interior do Palácio do Planalto sem qualquer filtro ou edição.


As pessoas de bem que estiverem esquecidas no calabouço dessa prisão, e as suas famílias, que se esconderam da reportagem da Revista Oeste por medo de atrair sobre suas cabeças a fúria da perseguição, merecem a verdade.

Nenhum comentário:

Postar um comentário