O jornalista Marcelo Rech é um profissional gaúcho de texto impecável e elegante. Ele é do jornal Zero Hora, o mais importante diário do Rio Grande do Sul e que é quem baliza as opiniões de toda a a Rede Brasil Sul, a RBS, algo como a Globo aqui do Estado.
É claro que os veículos da RBS - jornais, emissoras de rádio e TV, sites e blogs - possuem Manual de Redação e até Código de Ética, mas eles surgiram muito depois que o fundador Maurício Sirotsky adquiriu o jornal, que se chamava Última Hora e que na alvorada do regime militar mudou de nome e de lado, passando a se chamar Zero Hora.
Na época, eu trabalhava na RBS e no início da década de 80, preocupado com as bate-cabeças diárias entre os diversos veículos de comunicação da rede, a direção chamou um evento de alinhamento de posições editoriais. Foi tudo no Hotel Imembuí, Santa Maria. Eu fui um dos membros de uma comissão que ficou encarregada de definir de que modo se configuraria a linha editorial de toda a RBS. Depois de muitas horas de discussão, ficou acertado que a linha editorial seria a seguinte:
- Aquela que será definida diariamente entre o Diretor de Redação, o jornalista Lauro Schirmer, e o fundador, Maurício Sirotsky.
Ou os prepostos de ambos.
Não é preciso desenhar para entender o que isto significa.
Claro que isto tudo foi na idade da pedra lascada do jornalismo gaúcho, porque vieram depois os Manuais de Redação e os Códigos de Ética, nenhum dos quais mudou o código fonte elaborado naquela reunião de Santa Maria.
A verdade é que jornais, revistas, emissoras de rádio ou de TV, portais, sites ou blogs, refletem a voz do dono.
E ela pode ser explícita ou não.
Quem não entender ou não se submeter, como eu nunca me submeti, tem que cair fora.
Estou escrevendo isto tudo a propósito de um artigo que publicou neste final de semana o jornalista e membro do Conselho Editorial do jornal Zero Hora, homem de confiança da família controladora.
O título do artigo é uma síntese do que veio a seguir:
- O próximo mega-escândalo.
Qual é ele :
É o das emendas parlamentares.
Ops !
E os anteriores, quais foram ?
O jornalista da RBS lista os escândalos desvendados pelo Mensalão e pela Lava Jato, ambos protagonizados por Lula, envolvendo a organização criminosa na qual se transformou seu Partido, o PT, além dos aliados e alinhados.
Claro que Marcelo Rech não fala em protagonistas, ficando apenas no enunciado, Mensalão e Lava Jato, como se ambos tivessem saído do ventre horrível da corrupção por geração espontânea.
É curioso que o jornalista considere a Lava Jato um mega-escândalo de corrupção, porque a RBS passou a apoiar caninamente qualquer um que fale mal da Lava Jato.
De qualquer forma, não é esta a questão.
A questão que Marcelo Rech coloca é o do terceiro escândalo dos escândalos, no caso o das Emendas Parlamentares.
E quem irá mover a tempestade que se avizinha como se fosse um dos cavaleiros do Apocalipse ?
Claro, ele, o ministro Flávio Dino, que já começou a fustigar alguns dos alvos seletivos que escolheu para levar até a bacia das almas, no caso deputados e senadores que alocam emendas parlamentares, mais todos os destinatários primários desse tipo de recurso público, com ênfase para os prefeitos.
Claroque isto serve ao governo federal nomeado lulopetista, isolado politicamente no canto do ringue e sem maioria no Congresso, sendo obrigado a pagar pelo que quer aprovar.
É por isto que Flavio Dino, por dever de ofício, não inclui o governo federal lulopetista na sua inesperada campanha contra as emendas parlamentares. O fato é que o governo lulopetista tem sido seu aliado nesta macabra dança de chantagens lado a lado que travam Lula e os congressitas.
Isto não escreve Marcelo Rech, é claro.
O 3o grande escândalo da República poderá, no entanto, gerar aquilo que o próprio Rech ensina, repetindo um velho adágio usado por Tancredo Neves, exatamente quando examinava esperteza em demasia do outro lado do balcão:
- Esperteza demais acaba engolindo o dono.
Pois é.
Como conclui Marcelo Rech no seu artigo, "definitivamente, 2025 não será um ano monótono'.
Com certeza, até porque existem redes sociais e internet para denunciar o sentido oculto de textos elegantemente elaborados como este do jornalista da RBS
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