Artigo, especial - O retorno de Hamilton e a crise de ansiedade da Faria Lima

Este artigo é do Observatório Brasil Soberano

O artigo publicado pelo Valor Econômico no domingo provocou calafrios na Faria Lima. Não porque trazia algo revolucionário, mas porque dizia o que nenhum liberal tropical tem coragem de admitir: o livre-comércio fracassou como projeto de desenvolvimento. 

O chefe do comércio americano, Jamieson Greer, afirmou sem rodeios que “soberania se produz, não se negocia”. Para um país dominado por bancos e planilhas, foi como ouvir uma blasfêmia. 

Os Estados Unidos estão voltando a Hamilton. Enquanto o Brasil ainda recita Friedman, o governo americano está relendo as Cartas sobre a Economia Nacional e o Relatório das Manufaturas. Ali, Alexander Hamilton explicava que a liberdade de uma nação depende de sua capacidade de produzir o que consome. “Quem depende de outros para o sustento depende de outros para o poder”, escreveu ele. Greer trouxe essa ideia ao presente ao afirmar que “o comércio deve estar a serviço de algo maior” e que a soberania “é uma mistura de autonomia e resiliência”. Segundo ele, os Estados Unidos precisam de uma “economia de produção”, sustentada por uma grande classe média que trabalha, cria e acumula. Em suas palavras, “essa economia enfatiza uma sociedade que produz e cresce, em vez de uma pequena elite que extrai, realoca e esbanja”. É uma crítica direta ao modelo globalista que o próprio Ocidente criou — e que o Brasil copiou sem entender. O livre-comércio, sem base produtiva, não gera prosperidade; gera dependência. No Brasil, o debate econômico é guiado por bancos e consultorias que nun ca fabricaram nada. Eles decidem a política industrial, a fiscal e a ambiental, sempre com o mesmo objetivo: preservar o rentismo. Chamam de populismo qualquer tentativa de planejamento, e de eficiência qualquer política que mantenha o Estado rendido à dívida. A Faria Lima transformou o crédito em ideologia e o spread em símbolo de virtude. O país virou um laboratório de subdesenvolvimento sofisticado, onde se celebra o equilíbrio fiscal mesmo que isso custe o emprego, a indústria e a soberania. Enquanto o governo americano volta a unir Estado, trabalho e moral produtiva, o Brasil ainda acredita que basta agradar o mercado. Mas mercado não é pátria. Uma nação é que planta, que constrói, que transforma. Hamilton entendia isso em 1791, quando escreveu que a manufatura era a ga rantia material da liberdade. Greer apenas repete, mais de dois séculos depois, que “uma nação de produtores é uma nação de cidadãos livres”. O que os Estados Unidos estão fazendo agora é resgatar o papel político da eco nomia — e isso é o que mais assusta o Brasil financeiro. Porque se o Estado voltar a pensar em desenvolvimento de longo prazo, os bancos perdem o monopólio sobre o futuro. O crédito deixa de ser fim e volta a ser meio. E a nação volta a ter projeto, não planilha. Soberania não se decreta, se produz. E o Brasil só vai reencontrar a sua quando parar de entregar o próprio destino aos bancos. Até lá, a Faria Lima vai continuar precisando de Rivotril

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