Artigo, Luiz Carlos Freitas, Diário Popular - A casa é sua !


Operação da Polícia Federal na Câmara de Vereadores coloca Pelotas no mapa da corrupção que apodreceu as instituições do país. A investigação sobre possíveis crimes eleitorais, envolvendo os vereadores Valdomiro Lima(PRB) e Ademar Ornel(DEM), é apenas a ponta do iceberg. Essa história tem início, meio e fim conhecidos de longa data. É público que a Secretaria Municipal de Habitação foi controlada por Lima e Ornel, sabe-se, ambos – e outros tantos – utilizavam o programa federal Minha Casa, Minha Vida para auferir vantagens eleitorais. O Capítulo primeiro do livro de horrores políticos resgata nuances incrustradas no programa habitacional de Pelotas, batizado(por ironia casual)de “A Casa é Sua”, lançado pelo então prefeito Eduardo Leite (PSDB) em julho de 2013.O capítulo segundo se inicia quando Leite faz reforma administrativa, em 4 abril de 2015. Ele ressuscita a Secretaria de Habitação – na época absorvida pela Secretaria de Justiça Social e Segurança -, que também passa a cuidar da regularização fundiária. Para gerir a pasta, é “convidado” o biólogo Ivan Vaz(PRB), indicação do vereador Waldomiro Lima, chefão do PRB local. A partir daí, o enredo foca no aparelhamento da Secretaria, lotada de CCs de Lima, Ornel e associados. O órgão público é transformado em balcão de comércio de votos em troca de apartamentos oriundos de projetos habitacionais e de regularização de lotes irregulares, aproveitando-se da carência e do desespero de parcelas pobres da população. A romaria de “vítimas” à sede da Secretaria é diária e intensa. Em 2016, ano da eleição municipal, o toma-lá-dá-cá se intensifica, saem unidades habitacionais novinhas, entram promessas de votos – aos borbotões. A regularização fundiária se torna uma das bandeiras do Executivo, filão eleitoral, tudo é feito às pressas, desobedecendo – às claras – a legislação eleitoral. Foram com tanta sede ao pote cheio de votos, exageraram na dose de ambição, na propaganda e cooptação de eleitores, acabaram despertando a atenção e denunciados à Justiça, geralmente lerda. Deu-se a eleição, venceu a candidata oficial, Lima, Ornel e parceria receberam o “aval” popular – segue o baile. Na ação que se encaminhava para o final, não poderia faltar suspense, traição e vingança... Sem alarde, o secretário Ivan Vaz foi exonerado em dezembro de 2016, dias antes de acabar a gestão de Leite. Ficou claro, era preciso sacrificá-lo e transformá-lo em bode expiatório da trama politico-eleitoreira que fora parar no Ministério Público. Vaz não gostou. Rebelou-se. Abandonado pelos parceiros, jogado na arena para ser devorado, denunciou a tramoia e as sacanagens. Desde então, o caso está sob a investigação da Polícia Federal, resultando na Operação Dominus. A ética, a prudência e a responsabilidade aconselham a não antecipar julgamentos. Mas é lícito dizer que finalmente a mão da Justiça se abateu sobre a cena política pelotense, expondo a sujeira escondida debaixo de tapetes – persas, alguns, a maioria imitações. Que a “limpeza” seja ampla, geral e irrestrita.

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