Alguns economistas têm manifestado preocupação com as
implicações da emenda do teto na ausência de reformas como a da Previdência.
Outros alertam para o risco de descumprimento da regra de ouro. Ambos os
receios parecem exagerados.
Caso o país não consiga avençar nas reformas, certamente
teremos muitos problemas.
Mas cumprir a emenda do teto e a regra de ouro será os
menores deles.
O teto limita o crescimento do gasto público à inflação
do período anterior. O problema é que os gastos com a assistência e Previdência
Social aumentam todo ano pelo envelhecimento da população, o que resulta no
rápido crescimento dos benefícios concedidos.
Assistência e Previdência, entretanto, já representam 60%
do gasto corrente. Por essa razão, na ausência de reformas para moderar o crescimento
desses benefícios, uma das consequências poderia ser a necessidade de comprimir
demasiadamente os demais gastos, como apontou recentemente o TCU, levando a
paralisação de atividades essenciais de custeio e de investimento nos próximos
anos.
A regra de ouro estabelecida na Constituição impede que o
governo se endivide para pagar gastos correntes. Nos últimos tempos, esses
gastos têm sido maiores do que as receitas correntes e a regra têm sido
atendidas por meio de expedientes como a venda de ativos ou o pagamento da
dívida do BNDES com o tesouro.
Esses expedientes, entretanto, estão se esgotando, o que
significa que, em condições normais, já no ano que vem o país não cumpriria a
regra.
As reformas teriam como objetivo combinar redução do
crescimento do gasto com aumento na arrecadação para garantir que as divida
pública não saia de controle. Por tabela, permitiriam cumprir tanto a emenda do
teto quanto a regra de ouro.
Existe outro caminho, porém nada atraente. Caso as
reformas não sejam realizadas, o resultado será a piora da trajetória do
desequilíbrio fiscal e, portanto, das perspectivas da economia. As últimas
semanas ilustram as consequências.
O câmbio se desvaloriza e a inflação aumenta. Como o
Banco Central possui reservas em dólar, cerca de US$ 380 bilhões, isso resulta
em um lucro contábil que deve ser transferido ao Tesouro, facilitando cumprir a
regra de ouro. (Existe proposta no Congresso para alterar esse mecanismo). A
inflação crescente melhora as contas públicas e reduz os gastos reais, o que
também facilita cumprir a emenda do teto.
Caso não retomemos a agenda de reformas, teremos a volta
da recessão com inflação e muitos outros problemas, bem maiores do que cumprir
a emenda do teto e a regra de ouro. Discutimos demasiadamente temas que se
tronarão pouco relevantes, para o bem ou para o mal.
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