Artigo, Ricardo Felizzola, Zero Hora - Forjando autoestima


Na Copa do Mundo, com toda a tecnologia que é usada para uma perfeita comunicação de massa, somos brindados com todos os detalhes do evento num realismo primoroso. Acompanhamos, assim, o esforço dos atletas em lances cruciais, o espanto da torcida com a eventualidade de jogadas adversas, as lágrimas por uma  desclassificação prematura e a vibração de multidões pelo simples fato de seu país seguir na competição. Somos parte da torcida global beneficiada pela cobertura perfeita e aproveitamos o privilégio de estar acompanhando as disputas como se na Rússia estivéssemos.

Alguns criticam este engajamento no Brasil, apesar de ele ser universal, desprezando a importância do que seria apenas uma competição esportiva, diante da realidade da vida de cada um, imersa nos problemas do país. Existem coisas mais importantes para mobilizar um povo, dizem... Se os temas fossem comparáveis, até seria esta uma ponderação válida. No entanto, as lágrimas espanholas ou dinamarquesas afloram da mesma forma que as nigerianas ou mexicanas, guardadas as diferenças econômicas e de padrão de vida de seus povos. São as frustrações temporárias de ser torcida que nos distraem no dia a dia de se viver num mundo de pura competição.

Lidar com as derrotas é algo que constantemente abordo nesta coluna como um desapontamento comum em nossas vidas. Cabe ressaltar que isto não é uma fonte de tristeza e, sim, uma espécie de vacina para gerar um valor fundamental que é a autoestima.

É justamente em eventos como uma Copa do Mundo que um povo, engajado na competição, vai afiar o valor que tem de si próprio. A  mobilização que ocorre não deixa de ser um exercício válido e importante para todos e para nós, brasileiros, mais ainda. Estamos na véspera de eleições e pensar no país, compará-lo, vibrar ou sofrer com nossos representantes faz parte da formação e transformação diária de nossos sentimentos que forjam caráter. Assim, na palavra das redes sociais,  vamos “curtir” a Copa, com seus resultados, bons ou desfavoráveis, entusiasmantes ou frustrantes, por que isso faz bem a cada um de nós e faz os sentimentos virem à flor da pele forjando autoestima, o que vai fortalecer cada brasileiro para os necessários voos que precisamos completar como um país noviço.

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