FHC diz para a Reuters que recomendação da ONU nem é da ONU


O PT esticou a corda demais ao insistir até esta terça-feira com a candidatura ao Palácio do Planalto do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, demorando a substituí-lo por Fernando Haddad, e cometeu um erro político, avaliou o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso em entrevista à Reuters.
Presidente de honra do PSDB, Fernando Henrique, que governou o Brasil entre 1995 e 2002, antecedendo os oito anos em que Lula esteve à frente do país, fez ainda a avaliação de que esta insistência poderá ser usada por adversários de Haddad na campanha, agora que o ex-prefeito de São Paulo entrou definitivamente na corrida presidencial.
"Acho que esticou demais, porque era visível que o presidente Lula não tem condições. Ficou parecendo para todo mundo que era um jogo e dando a impressão que o Haddad é uma pessoa que o outro maneja. Isso provavelmente vai ser explorado na campanha", disse Fernando Henrique em entrevista à Reuters durante o Brasil Risk Summit, realizado pela Thomson Reuters em São Paulo.
"Eu acho que politicamente, do ponto de vista deles, foi errado", completou o tucano.
Haddad foi anunciado nesta terça como novo cabeça de chapa da coligação liderada pelo PT à Presidência da República, depois que Lula teve a candidatura barrada pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) com base na Lei da Ficha Limpa.
Lula, que está preso desde abril, foi barrado por ter sido condenado por um órgão colegiado da Justiça por corrupção e lavagem de dinheiro no caso do tríplex do Guarujá, litoral de São Paulo.
Fernando Henrique classificou ainda como "ridículo" o discurso de petistas de que uma decisão do Comitê de Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas deveria garantir a Lula o direito de disputar a eleição presidencial de outubro.
"Essa questão que eles mencionam relativa à ONU é ridículo, porque não é a ONU, é um conselho de peritos —são dois peritos ou três, uma coisa assim— e quase que arranha a soberania. Não tem porquê. Não há vinculação nenhuma", disse.
O Comitê de Direitos Humanos da ONU afirmou em decisão liminar, após pedido dos advogados do petista, que os direitos políticos do ex-presidente deveriam ser preservados e que ele deveria disputar a eleição. Por 6 votos a 1, o TSE, no entanto, determinou que a decisão não é vinculante e decidiu, na madrugada do dia 1º de setembro, barrar a candidatura de Lula com base na Lei da Ficha Limpa.

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