Os recursos escassos, a estética do material de
divulgação e as constantes contradições de Jair Bolsonaro (PSL) e seus aliados
podem levar à impressão de que a estratégia de comunicação do candidato é
amadora.
Contudo, segundo o antropólogo Piero Leirner, professor
da Universidade Federal de São Carlos que estuda instituições militares há
quase 30 anos, a comunicação de Bolsonaro tem se valido de métodos e
procedimentos bastante avançados de estratégias militares, manejados de maneira
“ muito inteligente, precisa, pensada”.
“Não se trata exatamente de uma campanha de propaganda; é
muito mais uma estratégia de criptografia e controle de categorias, através de
um conjunto de informações dissonantes”, explica Leirner.
“É parte do que tem sido chamado de ‘guerra híbrida’: um
conjunto de ataques informacionais que usa instrumentos não convencionais, como
as redes sociais, para fabricar operações psicológicas com grande poder
ofensivo, capazes de ‘dobrar a partir de baixo’ a assimetria existente em
relação ao poder constituído”.
Nesse novo paradigma político descrito por Leirner,
gestado em guerras “assimétricas” como a do Vietnã —nas quais os poderes e
táticas militares são muito discrepantes entre os adversários— e colocado em
prática nas “primaveras” do Oriente Médio, as redes sociais têm papel central,
pois “descentralizam e multiplicam as bombas semióticas”.
A cúpula bolsonarista conta com a participação de
diversos membros das Forças Armadas, que tiveram contato com essas doutrinas.
Reportagem da Folha mostrou que Bolsonaro é o candidato preferido da maioria
dos 17 generais de quatro estrelas da corporação --o topo da hierarquia. Uma
dos protagonistas do grupo de Bolsonaro é o general quatro estrelas da reserva
Augusto Heleno, que chegou a ser cotado como seu vice.
Há diversos recursos de “guerra híbrida” identificáveis
na campanha bolsonarista com a participação de seus eleitores: a disseminação
de “fake news” e as contradições (chamadas por Bolsonaro de “caneladas”) entre
as figuras de proa da campanha são alguns deles.
As divergências entre o presidenciável e o vice, general
Hamilton Mourão (PRTB), sobre o 13º salário, e também entre ele e o economista
Paulo Guedes sobre a criação de imposto aos moldes da CPMF, são ilustrativas
desse vaivém que, ao fim, gera dividendos políticos para Bolsonaro.
“Esses movimentos criam um ambiente de dissonância
cognitiva: as pessoas, as instituições e a imprensa ficam completamente
desnorteados. Mas, no fim das contas, Bolsonaro reaparece como elemento de
restauração da ordem, com discurso que apela a valores universais e etéreos:
força, religião, família, hierarquia”, analisa Leirner.
Nesse ambiente de dissonância, a troca de informações
passa a ser filtrada pelo critério da confiança. As pessoas confiam naqueles
que elas conhecem. Nesse universo, então, as pessoas funcionam como “estações
de repetição”: fazem circular as informações em diversas redes de pessoas
conhecidas, liberando, assim, o próprio Bolsonaro de produzir conteúdo.
“Ele aparece só no momento seguinte, transportando seu
carisma diretamente para as pessoas que realizaram o trabalho de repetição. As
pessoas ficam com uma sensação de empoderamento, quebra-se a hierarquia. O
resultado é a construção da ideia de um candidato humilde, que enfrenta os
poderosos, que é ‘antissistema’”, diz o antropólogo.
Esses poderosos contra os quais se voltam Bolsonaro e
seus seguidores são justamente os agentes que tradicionalmente transmitem as
informações de maneira vertical, como políticos, imprensa, instituições, que
são lançados ao descrédito.
Concorrentes como o tucano Geraldo Alckmin e o petista
Fernando Haddad, então, sofrem para atingir o eleitorado com ferramentas
clássicas de propaganda. Torna-se difícil estabelecer um laço com os eleitores,
especialmente com aqueles que já participam da rede bolsonarista.
“O trabalho dos marqueteiros dos outros partidos ficou a
anos luz de distância. A tática de Alckmin foi um incrível laboratório: quanto
mais atacou, mas aumentou a resistência de Bolsonaro. E isso com ele lá no
hospital. Os ataques ao Bolsonaro foram
então encarados como ataques a essas ‘estações de repetição’, e sua mobilidade
tornou eles inócuos”, afirma Leirner.
Se está claro que essas “fake news” geram desinformação e
desorientação, o antropólogo acredita que ainda não se sabe exatamente o que se
pode fazer para combatê-las. Nestas eleições, o Tribunal Superior Eleitoral tem
sido pressionado para tomar alguma providência em relação a elas, mas tem tido
dificuldades em fornecer respostas.
“Se uma fake news é punida, outras são geradas e estações
novas entram na artilharia. No fim o que vai se fazer? Punir todas as redes?
Prender milhões de pessoas? O que a gente vai ver é se as instituições vão
continuar assistindo sua própria implosão.”
Para Leirner, por fim, a proliferação de notícias falsas
colabora para o deslocamento de poder dentro de instituições centrais à
democracia, como a Justiça e as Forças Armadas.
“Hoje vemos
setores do Estado, especialmente do judiciário, entrando em modo
invasivo, cada um se autorizando a tentar estabelecer uma espécie de hegemonia
própria”, diz.
Para ele, a especificidade da instituição militar, aquela
que tem um poder que no limite só ela mesmo controla, deveria motivar reflexões
sobre o perigo de misturá-la à política.
“O que me pergunto é se o pessoal da ativa está preparado
para perceber que um pedaço desse ‘caos’ está saindo de uma força política que
se juntou com alguns dos seus ex-quadros (...) A instituição militar diz:
‘obedecemos a Constituição e nos autocontemos’. Invadir esse poder com a
‘política’ não é boa ideia”, diz Leirner, concluindo com reflexão sobre a
conjuntura.
“Parece-me que estamos vivendo um Estado bipolar: resta
saber como, depois da fase eufórica, vamos encarar a fase maníaco-depressiva”.
COMENTÁRIO FRACO, COM MUITO MIMIMI! É FÁCIL CONTAR A ESTÓRIA DEPOIS QUE SE TORNOU HISTÓRIA! O VENCEDOR É O VENCEDOR! MAS OS FATOS SÃO OUTROS E INÚMEROS! A FACADA, A FALTA DE CANDIDATOS FORA DO SISTEMA, AS REDES SOCIAIS, O APOIO EXPLICITO DAS FFAAS, A CLAREZA E CORAGEM DO ÚNICO CANDIDATO ANTI-SISTEMA, OS ATAQUES DA M´DIA GLOBALISTA, ETC.
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ExcluirÉ um artigo excepcional, uma aula profunda que requer especial atenção de políticos e seus propagandistas. Ao que se vê nas ruas, e o artigo expressa de forma impecável, é o naufrágio do tradicional, do cotidiano, da estrutura montada sobre alicerces que quase desapareceram. E sua substituição por postulados científicos da guerra híbrida contra os quais não é possível combater, aliás é inútil. Caro Polibio, parabéns pela publicação deste artigo e siga em frente.
ResponderExcluirEm resumo : Nada disso daria certo se o povo não estivesse de "saco cheio" ! bla bla bla bla . Garanto que nem o autor sabe explicar alguns trechos dessa baboseira com aspecto rebuscado !
ResponderExcluir"NARCISO SE RECONHECEU", O GIGANTE ACORDOU!
ResponderExcluirHOJE TEMOS AS REDES SOCIAIS E A MASSA DE DESCONTENTES INSTRUMENTALIZADA COM CELULARES, ARMA MELHOR QUE FUZIL, FUZILANDO PODEROSOS,PARA INVENTAR E REPETIR INFORMACÕES, "NEWS", A SEU BEL PRAZER.
"NARCISO SE RECONHECEU",
O MUNDO NUNCA MAIS SERÁ O MESMO, O PODER ESTÁ EMANANDO DO POVO, "NARCISO SABE QUE EXISTE" E ESTÁ EXPERIMENTANDO SUA FORCA.
A TECNOLOGIA INSTRUMENTALIZOU O POVO, DEU ARMA MAIS PODEROSA QUE REVÓLVER OU FUZIL,PARA ATINGIR COM UMA "NEWS" QUALQUER LIDER ,QUE NÃO PERCEBEU O NOVO MOMENTO.
O TAL PROFESSOR DESCREVE O QUE JÁ SABIAMOS, A CONTRADICÃO PARA TOMAR CONTA DA ATENCÃO, E ISSO JÁ SABEMOS DESDE O "CARBONO 14".
PARA MIM A NOVIDADE É A INSTRUMENTALIZACÃO DO POVO,DA MASSA QUE TEM UMA ESTACÃO DE INFORMACÃO -MILHÕESDE ESTACÕES- PARA PASSAR AO MUNDO, DO SEU BARRACO,DO SEU CASTELO,DE ONDE ESTIVER,OU COMO FALEI:
"NARCISO SE RECONHECEU",AGORA SABE QUE EXISTE,SE SABE EMPODERADO, SABE QUE TEM UMA ARMA PODEROSÍSSIMA NA MÃO,E TESTA SEU PODER PARA SE VINGAR DOS QUE JULGA MALVADOS E CULPADOS!
É TARDE PARA MALVADOS E CULPADOS
O GIGANTE "NARCISO",DEITADO ETERNAMENTE EM BERCO ESPLENDIDO, ACORDOU,SE RECONHECEU,ESTÁ EMPODERADO E AGINDO.
Até parece que só os do lado do Bolsonaro propagam fake-news. Bobagens ditas de forma pseudo- intelectual. Fake-news tá toda hora na mídia pq está perdeu o monopólio de produzi-las. Fake-news é fofoca como sempre existiu...
ResponderExcluirPara explicar o sucesso aparece um monte de gente que sabe como obtê-lo. Antes, não aparecia ninguém....
Artigos esquerdista... Até tentei levar a sério mas naonconsigo!
ResponderExcluirArtigo esquerdista, jornalista de esquerda. Juro que tento levar a sério mas ainda naonconsigo.
ResponderExcluirBobabens para alegrar bolsonaristas
ResponderExcluirFalou, falou, mas não falou o básico: estamos de saco cheio de mentira e manipulação da imprensa chapa branca.
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