Artigo, Nelson Barbosa, Jornal do Comércio - A Temer o que é de Teme
O governo Temer acaba
em 10 dias e podemos fazer um balanço preliminar de sua gestão. Esta coluna é
sobre o gasto primário, pois o time "temerista" tinha por objetivo
realizar uma grande reforma fiscal. Dois anos e meio depois, os resultados
ficaram abaixo do projetado, mas houve avanços, como indica um documento
publicado recentemente pelo Ministério da Fazenda. O relatório da Fazenda é um
registro do que foi feito e, mais importante, do que não foi feito. A análise
merece ser lida, mas tem lacunas. Destaco apenas quatro por limite de espaço.
Primeiro, não houve grande reforma do gasto obrigatório durante o governo
Temer. Das 24 medidas listadas pela Fazenda, somente a substituição da TJLP
pela TLP pode ser considerada ação permanente, mas cujo impacto final ainda não
é conhecido. Mais especificamente, a TLP e a TJLP tiveram praticamente o mesmo
valor acumulado em 2018 (6,9% versus 6,7%). A mudança maior começará a partir
de 2019, quando saberemos melhor as consequências dessa reforma. Em princípio,
o aumento do custo dos empréstimos do Bndes pode levar a mais subsídios
explícitos no Orçamento, com impacto indefinido sobre o gasto primário no longo
prazo. Ainda assim, a TLP pode ser um avanço na transparência fiscal. Segundo,
passando ao restante do gasto primário obrigatório, as principais reformas do
mandato 2015-2018 foram realizadas por Dilma, em 2015, no abono salarial, no
seguro-desemprego, nas pensões por morte e no auxílio-doença. Os impactos das
reformas de Dilma no INSS são graduais, mas, no caso dos programas do FAT, já é
possível constatar redução relevante: a despesa real anual com abono salarial e
seguro-desemprego caiu de R$ 71,3 bilhões, em maio de 2015, para R$ 54,9
bilhões, em outubro de 2018. Essa queda corresponde a 0,2% do PIB por ano e foi
a principal reforma da despesa obrigatória da União em 2015-2018. Terceiro, os
temeristas também destacam o controle do gasto discricionário sob sua gestão,
mas os dados indicam outra coisa. Esse tipo de despesa caiu de 4,5% do PIB, em
dezembro de 2014, para 4,0% do PIB, em maio de 2016. Dilma fez, portanto, um
ajuste de meio ponto do PIB em seu breve segundo mandato. Qual foi o ajuste de
Temer? Os dados do Tesouro indicam que o gasto discricionário deve ficar em
3,9% do PIB neste ano, ou seja, o ajuste deve ser de 0,1 ponto do PIB sob
Temer. A grande redução do gasto discricionário ocorreu sob Dilma. O que houve
sob Temer foi grande volatilidade, com a despesa subindo abruptamente no final
de 2016 (o "banquete antes da dieta" do teto de gastos), despencando
em 2017 (o erro de Meirelles) e voltando a subir rapidamente em 2018 (a
correção de Guardia). A montanha russa do gasto discricionário implementada
pela equipe temerista acabou prejudicando a recuperação da economia, mas confesso
que nesse quesito o segundo governo Dilma incorreu em erro parecido. Houve
contingenciamento excessivo entre dezembro de 2014 e novembro de 2015 (de 0,6%
do PIB) e isso contribuiu para a recessão daquele ano. Esse erro inicial só
começou a ser sanado em dezembro de 2015, com a mudança de comando no
Ministério da Fazenda, quando o gasto primário parou de cair e se estabilizou
em 4% do PIB. Por fim, como já coloquei em outra coluna no final de 2017, a
"grande reforma fiscal" de Temer, o teto de gastos, foi feita para
não ter grande impacto durante seu mandato. Sem reformas estruturais radicais o
limite de despesas não se sustenta, como reconhecem os próprios temeristas, mas
que mesmo assim deixaram o trabalho duro para Bolsonaro. Professor da FGV-SP,
ex-ministro da Fazenda e do Planejamento (2015-2016) - Jornal do Comércio
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