Brasil e Estados Unidos assinaram semana passada um
“Acordo de Salvaguardas Tecnológicas”, o primeiro passo em direção a uma
colaboração par ao uso comercial da base de Alcântara.
Os dois países haviam assinado um acordo semelhante em
200, durante os governos FHC e Clinton, mas ele acabou sendo derrubado pela
oposição no Congresso. Muita coisa mudou nos quase 20 anos entre os dois
acordos, tanto na economia espacial como na política brasileira, que fazem com
que este acordo seja muito mais promissor do que o primeiro.
Do lado espacial, os satélites estão cada vez menores e o
custo de lançamento não para de cair (caíram quase dez vezes nos últimos dez
anos, medido em $/Kg). Hoje um satélite do tamanho de uma caixa de sapatos pode
custar menos de um milhão de dólares incluindo o lançamento.
Com os avanços tecnológicos e barateamento do acesso ao
espaço, há um boom de startups sendo criadas para oferecer serviços que derivam
de satélites.
Alguns exemplos desses serviços são o rastreamento de
veículos e embarcações, observação de áreas de interesse (como fazendas,
pipelines, países adversários), previsão do tempo, comunicação de pessoas e
equipamentos (IoT) em áreas rurais ou remotas, e até comunicação entre os
próprios satélites. Nos EUA, até estudantes de ginásio já enviaram
satélites-cubo (cubesats) ao espaço a um custo total de US$ 90 MIL.
Com a corrida atual, consultorias especializadas estimam
que o número de satélites operando pode pular de 1.900 hoje para 10 mil em
2030.
No ano passado, o setor puxou cerca de US$ 260 bilhões de
receita na sua cadeia, crescendo 7% ao ano nos últimos cinco anos. A demanda
para lançamento não falta. O grande gargalo é a oferta de lançamentos em si.
Apesar dos custos para lançar um foguete terem caído de
centenas de milhões para dezenas – graças a fatores como reusabilidade e maior
competição – os lançamentos ainda são esparsos e focados em atender os grandes
satélites. Isso desencadeou uma nova onda de inovação para atender á classe
emergente dos pequenos satélites.
De um lado, entraram na moda os “rideshares”, quando os
pequenos satélites “pegam carona” com os grandes. De outro, se iniciou uma
corrida entre as novas empresas de foguetes, muitas delas dedicadas ao mercado
dos pequenos. A Vector Launch, empresa investida pela Lapa Capital é uma delas.
A oposição de Alcântara a apenas dois graus ao sul do
Equador usa a rotação da Terra em seu favor, economizando combustível em até
30% e barateando em muito o custo do lançamento. O caso mais próximo é o da
estação de Kouru, na Guiana Francesa, que fica em distância semelhante ao
Equador (cinco graus). Considera-se que Kouru – sob jurisdição francesa e
europeia – trouxe uma grande vantagem competitiva á empresa francesa Ariane,
que lança seus foguetes de lá desde 1979 e concorre com as americanas ULA e
SpaceX.
Por isso os Estados Unidos, cuja predominância na
economia espacial é difícil de ignorar, nunca perderam o interesse, e voltaram
á mesa de negociação a convite do governo Temer. Nos últimos dois anos, várias
empresas de foguetes como SpaceX, Vector e ULA visitaram Alcântara. O CEO da
Vector, Jim Cnatrell, um veterano do mercado espacial e um dos fundadores da
SpaceX, disse que está animado com a abertura da base e interessado em lançar a
partir de lá, citando a economia de combustível.
O governo brasileiro estima que pode faturar pelo menos
R$ 150 milhões em taxas de lançamento ao ano, o que pode ajudar a desenterrar o
programa espacial brasileiro. A ideia é assinar o mesmo acordo de salvaguardas
com outros países.
O texto do novo acordo foi melhorado para evitar
ambiguidades e dirimir receios sobre uma eventual perda de soberania nacional,
o principal argumento usado pela oposição no Congresso brasileiro há quase 20
anos.
Além de se dizer “open for business” e de manter um
alinhamento ideológico como o governo Trump, o governo Bolsonaro tem Marcos
Pontes, o primeiro e único astronauta brasileiro, como Ministro da Ciência,
Tecnologia, Inovações e Comunicações. Ele integrou a comissão foi a Washington
e assinou o documento.
Agora só falta o Congresso entender... e aprovar.
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