Para o economista Gustavo
Grisa, da Agência Futuro, que está hoje em Brasília, a aprovação do orçamento
impositivo também é reação do "sistema" fisiológico e de privilégios
de Brasília diante da dificuldade do governo em encaminhar as reformas.
P-O que significa a aprovação do
orçamento impositivo?
G-A aprovação do orçamento impositivo
pela Câmara representa uma sinalização da dificuldade e complexidade em levar
adiante reformas, mesmo que essas sejam praticamente consenso no mercado e
condição necessária para o País retomar o prumo. E demonstra, pela votação
massiva, um consenso que não tem Partido, não tem direita, esquerda, mas que
significa a manutenção do "sistema" político-fisiológico de
pulverização de favores, emendas, pouca responsabilidade fiscal.
P- A aprovação do orçamento impositivo é
um retrocesso no processo de reformas?
G-O Ministério da Economia e outros membros do
Governo fazem um grande esforço para aprovar e levar adiante reformas
importantes, como blindar a contratação de indicações políticas sem
qualificação em cargos-chave no governo, extinguir cargos e realmente
reconfigurar a estrutura de governo. No entanto, outras áreas do mesmo governo
erram de alvo ao privilegiar uma pauta conservadora de costumes, política
externa de símbolos e imposição de ideias em vez de esforçar-se mais na pauta
de reformas, modernização e de enfrentamento inteligente ao sistema de
privilégios nos Três Poderes, com muitas ramificações, à esquerda, centro, ou
direita, que é realmente o adversário mais forte da modernização do País. Dessa
forma, deixa de angariar apoios para uma pauta de união, de convergência, e não
de divisão. O orçamento impositivo demonstra que este sistema político e de
privilégios tem dificuldade em fazer concessões a reformas deste e de qualquer
outro governo, se não houver convergência de ações e uma demonstração de
articulação e direção. Diante de sinal de fraqueza do Executivo, o
"sistema" faz a festa. Sempre foi assim.
P- O que acontece se a reforma da
Previdência não for aprovada?
G- Qualquer reforma da Previdência é
importante que seja aprovada, para melhorar as contas públicas e dar fôlego
para o governo e um sinal positivo para o País. A discussão de detalhes e a
resistência de setores representa a defesa de interesses, mas, na prática, é
sabido que haverão necessariamente outros pacotes de reforma em anos seguintes.
Portanto, discutir muito uma reforma que não será definitiva é a tentativa,
totalmente fora da realidade, de manter privilégios e não reconhecer as mudanças
da sociedade. As contas públicas do Brasil não fecham, uma pauta de reformas em
todos esses próximos anos é inevitável. Mesmo que haja um problema de e
articulação, a tendência é que alguma reforma seja aprovada, mesmo que seja o
modelo antigo, apresentado no governo Temer. Senão, seria muita
irresponsabilidade que sequer o "sistema" aguentaria. O País ainda
está quase parado, não há muito espaço para mais irresponsabilidade, os mais
sensatos em todas as áreas sabem disso.
P- A análise de cenários feita ao final
do ano continua valendo?
G- Totalmente, ela foi feita para todo o
ano. Os cenários estão se configurando, mas não se definem antes do final do
primeiro semestre.
Essa é uma análise bem realista da situação. Falta fazer o dever de casa. O Governo não pode apenas fazer o que deve, tem que se esforçar mais. Onde está o líder?
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