Artigo, Ricardo Hingel, Zero Hora - Nosso sofrido litoral


Um estudo disponível no site do Ministério do Turismo, realizado pela WTTC – principal consultoria mundial na área do turismo —, indicou que o setor representou, em 2017, uma injeção de US$ 163 bilhões na economia, representando 7,9% do PIB, e foi responsável por 6,7 milhões de empregos. Em termos mundiais, representa cerca de 10,4% do PIB global e com uma estimativa de crescimento anual de 3,8% entre 2018 e 2027.

Os dados nos remetem a uma reflexão sobre o litoral do Rio Grande do Sul, no geral tão pouco valorizado. De Torres a Hermenegildo, de norte a sul, há uma economia deprimida, basicamente vinculada ao setor primário. Nossas praias estão muito mais ligadas ao lazer e ao fascínio que o mar traz a todos do que a uma atração mais organizada.

Já disse aqui que, além do mar, temos um colar de lagoas que apresentam um ambiente limpo e agradável e muito pouco conhecido e explorado. Esse fascínio gerou ao longo de toda a costa gaúcha um gigantesco investimento imobiliário representado pelas residências lá existentes e que passam a maior parte do ano abandonadas, transformando-as em verdadeiras cidades fantasmas na maior parte do ano. Dos espigões de Capão da Canoa aos condomínios horizontais de Xangri-Lá, a ocupação das residências é reduzidíssima fora dos períodos do veraneio e feriados.

Temos lá a falta de um empreendedorismo mais profissional que permita uma maior ocupação durante o ano. Gramado ensina bem, pois a capacidade de gradativamente implementar novos atrativos à cidade o transformaram em um dos principais polos turísticos brasileiros, o ano todo.

O perigo por trás do perfil do homem cortejadorO perigo por trás do perfil do homem cortejador
A cadeia produtiva que suporta a expansão do setor imobiliário é uma das poucas que ainda se sustenta e é bastante completa. Pequenos comércios, restaurantes e outros tantos sofrem com a falta de atrativos durante o ano e lutam para sobreviver face à forte sazonalidade da região.

O encurtamento do período de verão também restringe ainda mais a viabilidade dos pequenos empreendimentos que lá trabalham e sobrevivem com o que ganham no período. Antes, as férias de verão começavam no final de dezembro e iam até o início de março. Hoje, apenas parte de fevereiro compõe nosso verão. O início do ano letivo em grande parte das escolas de ensino privado em 17 de fevereiro cortou o mês ao meio e esvaziou parte das praias. Alguém sabe calcular o prejuízo que causou à economia local? Até o início do próximo verão, nossas praias voltam a viver de alguns finais de semana e feriados.

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