Quantos
saberão hoje o que é capadócio? Pois Aulete Caldas ensina que, entre outras
acepções, capadócio é aquele que tenta enganar com trapaças, espertezas,
imposturas: é o espertalhão que age como canalha, que trapaceia e dissimula. Em
suma, gentalha.
Mas,
pasmem, hoje não é de Brasília, aquele antro de capadócios engravatados, que se
está a falar, senão do que acontece em Porto Alegre ou, mais exatamente, no seu
Centro Histórico. É a crônica de uma cidade condenada por seu povo, frise-se, e
por gestores patéticos.
A
história da cidade impressa nas suas ruas, solares centenários, igrejas,
palácios, seu magnífico teatro e a suntuosa arquitetura surgida no limiar do
século XX, além do privilégio de estar debruçada sobre o Guaíba (seja ele rio
ou lago), um conjunto de elementos urbanos tornam o núcleo originário de Porto
Alegre de uma beleza muito peculiar.
Mas olhar
para o Centro Histórico é ver um holograma da capital gaúcha. Todo o imenso
potencial turístico, que poderia gerar riqueza e alavancar a economia, é
arruinado por uma escória que se opõe à civilização.
Aqui,
vale o lugar comum de citar Nelson Rodrigues: "Subdesenvolvimento não se
improvisa; é obra de séculos." Tanto governos municipais quanto estaduais
vêm, por décadas, "privilegiando" capadócios, transformando o Centro
Histórico numa incubadora do crime. A começar pela quantidade de jovens que,
sem regras nem noção de civilidade, pulula em suas ruas pelas madrugadas.
Ora, com
exceção das autoridades públicas, toda a gente sabe que o tráfico de drogas, a
vadiagem de menores e toda sorte de dissolução têm trânsito livre no que
deveria ser um "espaço nobre" da cidade.
É a
segmentação, entende? Hoje, a vida noturna elegante se concentra na rua Padre
Chagas. Os "alternativos" vão para a noite da Cidade Baixa. E o
Centro Histórico, graças ao beneplácito de nossas autoridades, vem se
consolidando como o setor dos "inferninhos", quer dizer, "casas
noturnas" para a ralé, um público transgressor, desocupado e improdutivo,
com um traço antissocial muito marcado.
Quando a
noite cai, uma juventude viciosa, liderada por veteranos delinquentes, torna o
coração do Centro Histórico um lugar insalubre. Moços, sem perspectiva em razão
de suas próprias escolhas, veem-se disponíveis para uma "militância no
crime", o que, para muitos, acabará sendo a única forma de custear o
próprio vício.
A
metódica degradação dos últimos 30 anos pode ser sintetizada num fato. Hoje há
três edifícios (provavelmente, todos patrimônio público) tomados por
presuntivos "sem-teto", invasão mais do que liderada: articulada por
capadócios ideológicos numa estratégia de subverter a ordem e pavimentar o
caminho do totalitarismo.
Ao menos
parte desses invasores são os experimentados capadócios que mantêm vivos os
inferninhos. Mas as autoridades e a "extrema imprensa" não o sabem...
Nenhuma providência é tomada. E não há ninguém para denunciar essa barbárie.
E a
população se refugia em casa, proibida de fruir de sua cidade, vendo perplexa
as facções criminosas ampliarem suas áreas de domínio - inclusive graças ao
recrutamento feito no Centro Histórico.
Mas o
prefeito Nelson Marchezan e o governador Eduardo Leite nunca deram sinais de
terem aptidão para compreender que tamanha leniência do poder público só
favorece a expansão do crime. Certo, Marchezan e Leite não podem tudo. Porém,
cabe ao prefeito liderar a transformação da cidade. E o governador é, em última
análise, o chefe da segurança pública.
E depois,
quem estará, mais do que eles, legitimado para peitar o Ministério Público, o
Judiciário e qualquer um que faça corpo mole?
Renato Sant'Ana é Advogado e Psicólogo.
E-mail do autor: sentinela.rs@uol.com.br
O MUNDO TRANSFORMOU-SE NISSO; POR AQUI O IMITAMOS, ALI[AS, O QUE MAIS SE FAZ [E A CULTURA DO IMITAR AQUILO QUE NÁO PRESTA....
ResponderExcluirMuito bom o texto. Vai piorar, assim que os últimos servidores forem dispensados por administrações incompetentes. Administrar a coisa Publica é diferente de administrar o Particular. Deu para entender?
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