Embora os Estados Unidos continuem sendo a primeira economia do mundo em 2021, com um PIB na casa dos 20 trilhões de dólares, a China segue logo atrás com aproximadamente 15 trilhões de dólares e não dá sinais de desaceleração, embora enfrente uma dificuldade estratégica em um de seus principais setores.
Atualmente, o país é o maior exportador de produtos eletrônicos do mundo, mas não consegue produzir semicondutores (chips) suficientes para alimentar sua indústria, situação que deixa uma parte central de sua tecnologia na mão de outros paíse, uma vez que é obrigada a importar 90% dos chips utilizados em seus aparelhos.
A maioria das pessoas pode ter a impressão de se tratar de um problema pequeno e de fácil solução para um país com uma economia pujante como a chinesa, mas o fato de praticamente todos os produtos eletrônicos dependerem de semicondutores e ser necessária uma tecnologia de ponta para a sua produção, faz com que esses chips tenham ganhado o status de "novo petróleo" no século XXI.
Por ser necessária uma tecnologia muito avançada para o desenvolvimento de semicondutores, esse mercado acaba sendo classificado como um monopólio natural, situação que acontece quando o custo para uma nova empresa ingressar no segmento é altíssimo, o que acaba configurando uma séria barreira para novos entrantes. Essa necessidade de um alto investimento não se dá apenas no plano fabril, mas também no tocante à mão de obra altamente especializada.
Atualmente o monopólio natural dos semicondutores é encabeçado por três empresas: Intel, TSMC e Samsung. A taiwanesa TSMC, sozinha, concentra 60% de toda a produção e domina 90% do mercado de semicondutores mais sofisticados destinados à inteligência artificial.
Além das dificuldades inerentes à sofisticação tecnológica, a fabricação de semicondutores também emprega muita água, fato que se mostrou problemático em 2021, quando Taiwan sofreu com uma seca severa justamente no momento em que a demanda por equipamentos eletrônicos estava no ápice devido ao aumento do uso de eletrônicos durante a pandemia de covid-19. Em decorrência dessa diminuição na oferta, empresas como Apple e Samsung precisaram adiar o lançamento de novos celulares.
A situação delicada do dragão chinês se mostra ainda pior, pois embora Taiwan seja considerado por muitos um país independente, a região ainda é considerada como uma província rebelde pelo governo de Pequim.
Para superar esse constrangimento e deixar de vez para trás o calcanhar de Aquiles na produção de chips, a China lançou o plano "Made in China 2025", também conhecido como "China Manufactured 2025", que tem como objetivo produzir 70% dos semicondutores utilizados no país e consolidar e equilibrar a indústria manufatureira transformando-a em uma potência global capaz de influenciar padrões globais, cadeias de suprimento e impulsionar a inovação global. Adicionalmente, o governo chinês lançou o National Semiconductor Fund (Fundo Nacional dos Semicondutores) com 200 bilhões e dólares destinados a atingir a independência em semicondutores.
A principal estratégia para atingir o objetivo será utilizar o dinheiro do fundo para comprar empresas estrangeiras que tenham desenvolvido alta tecnologia no ramo dos semicondutores. A aquisição dessas empresas servirá para elevar o nível da estatal chinesa SMIC - Semiconductor Manufacturing International Corporation.
Preocupadas com o empenho do governo chinês para abocanhar a maior parte do mercado de chips, as empresas multinacionais estão tentando desde já marcar sua posição no mercado interno melhorando a relação com o governo do país por meio do investimento em fábricas com sede na própria China.
Ao que tudo indica, o ritmo de crescimento chinês parece que não irá diminuir tão cedo, mas a situação delicada dos semicondutores é real e a a escalada das tensões com Taiwan e Estados Unidos agravam a situação.
Se a estratégia chinesa para a dominar o mercado de chips dará certo ou não ainda se sabe, mas o governo chinês certamente continuará a buscar saídas para superar essa dificuldade e consolidar de uma vez por todas o seu papel preponderante no plano da geopolítica mundial.
Allan Augusto Gallo Antonio, formado em Direito e Mestre em Economia e Mercados, é analista do Centro Mackenzie de Liberdade Econômica.
Sobre o Centro Mackenzie de Liberdade Econômica
O Centro Mackenzie de Liberdade Econômica é um think-tank liberal acadêmico, único no Brasil baseado em uma Universidade. É uma iniciativa do Instituto Presbiteriano Mackenzie (IPM) junto à Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM). Entre suas pesquisas está o primeiro Índice de Liberdade Econômica Estadual (IMLEE) do Brasil, um levantamento inédito que analisa e avalia as condições de se empreender e ter sucesso no mercado e o grau de interferência estatal.
Sobre a Universidade Presbiteriana Mackenzie
A Universidade Presbiteriana Mackenzie está na 103º posição entre as melhores instituições de ensino da América Latina, segundo a pesquisa QS Quacquarelli Symonds University Rankings, uma organização internacional de pesquisa educacional, que avalia o desempenho de instituições de ensino médio, superior e pós-graduação. Possui três campi no estado de São Paulo, em Higienópolis, Alphaville e Campinas. Os cursos oferecidos pelo Mackenzie contemplam Graduação, Pós-Graduação Mestrado e Doutorado, Pós-Graduação Especialização, Extensão, EaD, Cursos In Company e Centro de Línguas Estrangeiras.
Em 2021, serão comemorados os 150 anos da instituição no Brasil. Ao longo deste período, a instituição manteve-se fiel aos valores confessionais vinculados à sua origem na Igreja Presbiteriana do Brasil.
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