Rui Falcão, ex-presidente nacional do PT, hoje deputado federal, anunciou que a
bancada de 54 petistas da Câmara votará unida contra a reforma da previdência.
Era esperado. Mas é preciso conhecer a história para compreender o real
significado do que ele disse.
Em
2003, primeiro ano do governo Lula, o PT expulsou do partido a senadora Heloísa
Helena (AL) e os deputados Babá (PA), Luciana Genro (RS) e João Fontes (SE).
Por quê? Só porque eles criticavam a reforma da previdência que o PT (sim, o
PT!) havia proposto.
Muito significativo foi o banimento do deputado João Fontes, fulminado em
processo sumário, acusado pelo PT de ter " rompido a ética
partidária" ao divulgar um vídeo de 1987, em que Lula atacava a
"taxação dos inativos": a mesma taxação que Lula incluiu na reforma.
E
como maior inimigo é o ex-amigo, em 14/12/2003, fazendo sua defesa perante
"companheiros" que viriam a expulsá-la, Luciana Genro desnudou o que
ela mesma chamou de "hipocrisia" do PT. Sobre João Fontes, disse ela:
"O deputado revelou uma parte importante da história do partido dos
trabalhadores, ao divulgar aquela fita, que ninguém contestou a
veracidade."
E
meteu a pua na incoerência do PT: "(...) discursos de Lula atacando a
reforma da previdência que o governo Sarney tentava implementar, e que tentaram
sucessivos governos posteriores, e que agora foi finalmente aprovada pelo
governo do presidente Lula e do PT."
Foi tudo muito revelador - e útil à compreensão do que ocorre hoje. Além de
decidir em votação secreta a expulsão dos deputados, o Diretório Nacional do PT
reuniu-se a portas fechadas em um dos hotéis mais caros da capital: "[o
PT] encerra simbolicamente a sua vida como um partido que buscou representar a
classe trabalhadora neste hotel, o mais fino de Brasília - 'Blue Tree Park' -
com um café da manhã regado a suco de laranja e 'brownie'", declarou
Luciana Genro.
E
o então deputado Lindberg Faria (RJ), que ia integrar uma frente para atacar na
Justiça a propaganda do governo Lula sobre a reforma da Previdência, para não
ser expulso recuou e prometeu não reincidir no que o comando petista chamava de
"arruaça pública" - até por que, ficar sem partido àquela altura
impedia de participar das eleições de 2004.
À
época, a cúpula do PT - que expulsou militantes que se recusavam a trair as
próprias convicções - era integrada por José Genoíno (presidente nacional da
sigla), Zé Dirceu, Antonio Palocci e Lula: todos (todos!) foram depois
condenados na Justiça por corrupção.
Contudo, o único que teve um processo de expulsão contra si foi Palocci, que
relatou à polícia alguns dos delitos de Lula. Em setembro de 2017, ele disse
achar estranho que o processo tenha sido aberto não por sua condenação (na Lava
Jato), mas pelas declarações que fez sobre Lula. E acrescentou que, no PT,
"quem fala a verdade é punido e os erros e ilegalidades são varridos para
debaixo do tapete".
Sim, evocar a verdade dos fatos, como fizeram João Fontes e Palocci, é romper
"a ética partidária". Ao passo que roubar os cofres públicos para
favorecer o projeto de poder do PT é "ato de heroísmo".
Aliás, a equivocada mas sincera Luciana Genro acertou ao, em 2003, apontar o
rumo do PT: "Sequer a corrupção vocês vão combater porque os grandes
corruptos deste País, que nós passamos anos e anos denunciando, são hoje
aliados do governo."
Ruy Falcão, portanto, omitiu o principal: na oposição, o PT é contra tudo, e
tudo faz para arruinar o governo. Seu único fim é tomar o poder, adonar-se do
que seja estatal e acomodar a companheirada. E sempre, sempre a farsa da
"defesa dos mais pobres".
Renato Sant'Ana é Psicólogo e Advogado.
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