A crescente atuação do Judiciário no combate à corrupção,
cujo exemplo mais claro é a Operação Lava Jato, possui o impacto positivo de
investigar e punir, mas pode ter o efeito colateral de aumentar o ceticismo da
população em relação à política.
É o que indicam os primeiros resultados de uma pesquisa
que pretende esclarecer que tipo de eleitorado vai emergir no Brasil como
consequência da megaoperação e desse "ativismo judicial" -expressão
adotada pelos dois autores do trabalho, Nara Pavão, professora visitante da UFPE
(Universidade Federal de Pernambuco), e Ezequiel González Ocantos, da
Universidade Oxford (Reino Unido).
A tese de doutorado de Pavão conclui que o processo
eleitoral, por si só, não elimina candidatos corruptos da disputa. Na verdade,
quanto maior for a percepção de corrupção por parte do eleitorado, mais ele
releva esse fator em seu processo de decisão -é um círculo vicioso. Agora, a
pesquisadora quer entender o efeito do protagonismo do Judiciário, que goza de
credibilidade, na opinião pública.
Pavão apresentou o resultado preliminar do experimento na
manhã desta terça-feira (24), em congresso da Anpocs (Associação Nacional de
Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais), em Caxambu (MG).
A atuação ativista do Judiciário parece ter o efeito de
aumentar o ceticismo do eleitorado. "O ativismo judicial parece ser fadado
ao fracasso", ela disse à Folha, após a apresentação da pesquisa.
Não quer dizer que a Lava Jato não seja bem-vinda, diz a
pesquisadora. "Como as eleições não agem filtro, o Judiciário tinha que
entrar", diz ela.
A pesquisa, conduzida pelo instituto Ipsos, ouviu 1.200
pessoas em agosto de 2017. No primeiro experimento, foram passadas aos
entrevistados informações sobre a delação da JBS, que veio à tona em maio.
"As pessoas que receberam a informação de que o
Judiciário está por trás das investigações foram mais propícias a se dizerem
céticas em relação à política", diz Pavão. Esses dados dão suporte
preliminar à visão pessimista.
Ela afirma que há tanto otimismo quanto pessimismo nas
reações ao ativismo judicial. O próximo passo da pesquisa será definir quais
fatores encaminham o cidadão para um lado ou outro.
Uma consequência desse aumento de ceticismo é o apoio a
candidatos "outsiders" e populistas. Exemplo: 57% dos ouvidos na
pesquisa disseram que a pessoa mais adequada para conduzir o país seria
"alguém respeitável, de fora da política, que combata políticos e partidos
tradicionais".
Aí entram "outsiders", cujo exemplo seria o
prefeito de São Paulo, João Doria (PSDB), ou populistas -ela cita o deputado
federal Jair Bolsonaro (PSC-RJ).
A diferença entre as duas categorias, diz, é que o
populista contesta as instituições de forma mais direta. Apesar desse alerta,
Pavão não considera que o Brasil necessariamente elegerá um populista em 2018.
"Quando a gente olha para o perfil emocional do
eleitor brasileiro, vê que ele é composto predominantemente por aquele que vai
prestar atenção nas campanhas, que vai tomar cuidado de se informar."
Nenhum comentário:
Postar um comentário