É erro político acreditar que alguém conseguirá tutelar
um presidente da República recém-instalado e com a popularidade essencialmente
preservada. Outro equívoco é imaginar que o presidente, por isso, pode fazer o
que dá na telha. Ele decide, mas dentro de limites definidos, em última
instância, pela correlação de forças no governo, nos demais poderes e na
sociedade.
Costumam levar vantagem nas disputas internas do poder os
núcleos mais organizados, disciplinados e dotados de clareza estratégica. E,
sempre, mais conectados aos grupos de pressão social influentes. Outro detalhe:
é comum a polarização em início de governo ser intestina ao próprio governo.
Pois a oposição não carrega expectativa de poder.
O que acontece na administração Bolsonaro? Quadros
provenientes das Forças Armadas estão, no popular, comendo pelas beiradas e
ganhando espaço. “Os militares” vai propositalmente entre aspas no título desta
análise. Não há no Planalto um “Partido Militar” atuando com comando
centralizado e hierarquia, paralelamente ao presidente da República.
O bolsonarismo enxerga-se como uma revolução. E toda
revolução costuma trazer duas tendências, que em certo momento entram em choque
mortal: 1) a revolução precisa e quer expandir-se e 2) o novo poder, para
consolidar-se e governar, precisa expurgar seus elementos mais “radicais”. E
alguma hora precisa fazer a velha superestrutura trabalhar para o novo status
quo.
A crise entre “o olavismo” e “os militares” é indicação
de que a segunda tendência vai aos poucos prevalecendo sobre a primeira, e o
processo nunca é linear ou indolor. Mas costuma ser irreversível. Num paralelo
histórico que talvez desagrade ao bolsonarismo, este parece estar transitando
da “revolução permanente” para o “bolsonarismo num só país”.
Não é casual que o choque mais visível e agudo apareça na
política externa. O governo precisa decidir se a prioridade é 1) alinhar-se a -
ou seguir a diretriz de - uma “internacional trumpista” ou 2) adotar para valer
a linha de “o Brasil primeiro”. E isso vem sendo exposto na crise venezuelana.
Como já vinha dando as caras em outros temas externos.
O desfecho ideal para o bolsonarismo na Venezuela seria
uma “Revolução dos Cravos” de sinal trocado. A cúpula militar degolar o governo
bolivariano sem derramamento de sangue, e promover rapidamente a transição
pacífica para um regime constitucional alinhado ao “Ocidente”. Mas a coisa não
parece estar tão à mão, ainda que cautela analítica em situações voláteis seja
bom.
Se tal saída não rolar, até onde o Brasil está disposto a
ir na colaboração com o “regime change” em Caracas? A questão, de ordem
prática, talvez seja o foco mais emblemático da tensão entre as duas
tendências. Que algumas vezes é explicada como oposição entre alas “adulta” e
“infantil”, ou “racional” e “irracional”. São descrições insuficientes.
Uns parecem acreditar que a sobrevivência do bolsonarismo
depende centralmente de livrar a América do Sul de qualquer núcleo de poder
relacionado aos partidos do Foro de São Paulo. Outros talvez achem que é melhor
cuidar de consolidar o poder por aqui mesmo, a arriscar um conflito de
consequências políticas - regionais e internas - potencialmente
desestabilizadoras.
Ambas as correntes têm argumentos. A favor da segunda, há
duas coisas que governos precisam pensar muitas vezes antes de fazer: convocar
um plebiscito e começar uma guerra. #FicaaDica.
Isso e' um artigo de opiniao.
ResponderExcluirMas se formos analisar ,realmente precisam ser expurgados os elementos radicais.
Mas por incrível que pareça "radicais" são os militares.
Eles estão sim,dentro do governo Bolsonaro,com uma onda contra-revolucionaria,isso e' radicalismo.
Não e' uma questão ,no governo,de pesos e contra-pesos.
Tinha-se um projeto de governo que Bolsonaro apresentou aos brasileiros.
A população elegeu esse projeto através de Bolsonaro,e' um projeto sim revolucionário,fazer na política tudo de diferente ao que foi feito até agora,defendendo alguns propósitos básicos.
Os militares não assumem essa visão.
Não sou aluno de Olavo de Carvalho,não sou seguidor,tenho várias críticas a ele,mas ele tem uma visão global que carece a muitos de nós brasileiros.
Está parecendo que aquela informação
que surgiu há um mês,sobre tutela militar,possa estar se desenrolando.
Para os sensatos,que me incluo,veremos se é isso ou simplesmente como o artigo diz a eliminação de elementos radicais no governo que tem essa visao do Olavo.
Agora, está sendo o governo mais estranho até aqui no Brasil.
Se dizes que os militares são radicais, precisas apontar quais atos concretos dos militares que estão no governo. Caso contrário é somente mera opinião.
ResponderExcluirQuanto ao radicalismo precisas ser imparcial de relatar o radicalismo dos governos do PT, que expulsaram seus próprios correligionários por terem opiniões críticas dentro do partido, a Heloisa Helena e tantos outros são exemplo.
Você sofre de dissonância cognitiva e não sabe.
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